Pedagogía do Movimento Sem Terra

La Union Europea y América Latina: inversiones, estrategias emp

La Union Europea y América Latina: inversiones, estrategias emp

RoseliSalete Caldart.
Expresión Popular. 2004


A história da luta pela terra e o MST

MitsueMorissawa.
Expresión Popular. 2001

  ºAquí yo pondría un pequeño resumen de libro, yo qué sé, que si va de esto o lo otro, quepresenta una visión global bastante clarita de cómo funciona el carterdel todoterreno y la junta de la trócola del director, algo asísimplicito pero que de ganas de leer el tocho este que les estamos metiendo.

O MST é um movimento autônomo?

Folha de S. Paulo, 23.5.2005, Opinião

O MST é um movimento autônomo?

SIM

Um movimento contra a escravidão

JOSÉ ARBEX JR.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST, comemora a sua
maioridade (21 anos) com honra, pompa e circunstância. A marcha sobre
Brasília demonstra, "urbi et orbi", a sua independência frente ao governo
federal, a sua vitalidade como movimento social e o seu compromisso
inarredável de lutar pela reforma agrária.

Não é pouco, especialmente quando políticos e intelectuais até ontem
comprometidos com a luta pela transformação social, hoje, acometidos por
providencial amnésia, negociam sem pudor os próprios princípios no bazar de
cargos e "oportunidades de mercado".
Não pertenço ao MST, não o represento nem tenho procuração para falar pelo
movimento. Mas, como cidadão a ele vinculado por laços de solidariedade,
sinto-me orgulhoso de sua luta, que é histórica em pelo menos dois sentidos.
Primeiro, por ter como objetivo completar a tarefa de abolir a escravidão:
a dos pobres ao capital e a da terra ao latifúndio. Se há um denominador
comum a cinco séculos de Brasil, é o fato de que a maioria pobre nunca teve
acesso à terra. A infâmia do latifúndio marca a história com o látego do
senhor de escravos: até 1850 a terra era monopólio da Coroa; depois, foi
dividida entre a nobreza, os capitalistas brancos europeus e quem mais
pudesse pagar; no século 20, foi invadida e grilada por coronéis e empresas
internacionais; e agora é entregue à sanha do "moderno" agronegócio,
aliança entre fazendeiros e meia dúzia de transnacionais que dominam a
agricultura brasileira.
Nunca a terra pertenceu ao negro alforriado, ao mestiço miserável, ao
branco marginalizado. O latifúndio, produtivo ou não, é sinônimo de atraso,
por criar desigualdade, concentração de renda, fome -ou "subnutrição", como
preferem alguns de nossos doutores-, êxodo rural e tudo o que ele implica
de nefasto. Pois bem, o MST quer abolir o latifúndio, como condição
indispensável para resolver o problema da pobreza e da desigualdade, e
impulsionar uma transformação social de grandes proporções.
Não, caro leitor, não é o comunismo. As grandes potências capitalistas do
planeta -a começar dos Estados Unidos e França- promoveram a distribuição
de terra e investiram no trabalho livre. Aliás, por isso se transformaram
em potências.
Segundo, a luta do MST é histórica por estar fazendo história. Nunca um
movimento de camponeses organizado em escala nacional durou tanto nem criou
tantos vínculos capilares com a sociedade civil. A elite sempre foi
eficiente quando se tratou de isolar e dizimar os movimentos populares
(basta lembrar Palmares, Canudos, as ligas camponesas, a Ultab, o Master e
tantos outros).
O MST sobrevive com a teimosia e o atrevimento de quem sabe que a sua luta
tem dimensão épica, faz parte da batalha mais geral pela emancipação
nacional. Por isso, mantém alianças com o conjunto de movimentos sociais,
organizações de trabalhadores, sindicais, populares e intelectuais que não
abandonaram a perspectiva de fazer do Brasil um país soberano.
Graças ao serviço de permanente desinformação praticado pela mídia, poucos
sabem que o MST mantém 1.300 escolas de ensino fundamental e emprega 3.000
educadores que cuidam de 160 mil crianças e adolescentes. Por meio do
convênio Brasil Alfabetizado, acertado com o MEC, cerca de 30 mil adultos
foram alfabetizados, com o auxílio de 2.000 educadores populares
voluntários. Outros 300 educadores trabalham com crianças de até seis anos
nas "cirandas infantis", que funcionam nos assentamentos e acampamentos.
Esse trabalho mereceu o Prêmio Unesco de Excelência Pedagógica.
Em janeiro passado, o MST inaugurou a primeira universidade popular do
Brasil, em Guararema, a 60 km de São Paulo -para horror de certos doutores
preconceituosos, incapazes de aceitar a idéia de que o "populacho" possa
organizar um centro produtor de conhecimento de alto nível e rigor
científico. A sua sede foi construída com trabalho voluntário e com
dinheiro oriundo de contribuições de organizações, artistas e intelectuais
brasileiros e estrangeiros (incluindo Sebastião Salgado, Chico Buarque e
José Saramago). Não por acaso, a universidade foi batizada com o nome de
Florestan Fernandes e saudada, no dia de sua inauguração, por Antonio Candido.
O MST, mundialmente reconhecido, respeitado e admirado, só conseguiu
realizar tanto por ser autônomo em relação aos partidos políticos e a
quaisquer outras instituições estranhas aos assentamentos e acampamentos
que constituem a sua base e a sua vida. Não se submete, portanto, ao jogo
de alianças, acordos espúrios, conveniências eleitorais, cálculos e táticas
arquitetado nos gabinetes obscuros dos palácios. O MST só não é autônomo em
relação ao conjunto da nação oprimida. Ao contrário: a ela, somente,
subordina-se e atrela o seu destino.
Senhores da terra, é muito fácil acabar com o MST. Basta realizar a reforma
agrária.

———-
José Arbex Jr., 47, jornalista, doutor em história pela USP, é editor
especial da revista "Caros Amigos" e autor de "Showrnalismo – a Notícia
como Espetáculo" (editora Casa Amarela).
@ – arbex@uol.com.br

 
Nao – A dependência oculta
JOSÉ DE SOUZA MARTINS

O MST não é uma organização política autônoma nem é um movimento social que
disponha, por isso, da independência própria dessa forma de manifestação
das demandas sociais. Mas é uma importante expressão do que vem se tornando
a política na modernidade anômala dos países de grandes desencontros entre
o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento social, como o Brasil.
Países em que populações retardatárias da história emergem nas brechas do
sistema político e apresentam, de forma ritualmente tradicionalista, suas
demandas sociais aparentemente extemporâneas. Estamos em face da realidade
política de populações que tentam fazer um acerto de contas com a história.
Justamente porque sua data histórica sugere que suas demandas são demandas
atrasadas e fora de época é que a organização assume a aparência de uma
autonomia que não é real. De modo que, mesmo com seus aliados mais
importantes, de cujas organizações são, hoje, suportes fundamentais, como o
PT e a igreja, pode manter uma relação de estranhamento crítico que se
manifesta em cobranças, como essas da marcha do MST sobre Brasília. Mas,
chegam lá, o presidente veste o boné mais uma vez e os ministros dizem que
já está tudo certo e arranjado. A reivindicação oculta da marcha atendeu a
uma necessidade do governo: dar visibilidade para os seus êxitos, ainda que
limitados, na questão agrária, muito aquém do anunciado. Sobretudo mostrar
um governo aberto às reivindicações camponesas.
O MST é certamente uma organização constitutiva do Partido dos
Trabalhadores, uma base do partido. Sem a Pastoral da Terra -da qual o MST
se origina- e sem o MST, dificilmente o PT teria se expandido tão
extensamente no interior e dificilmente se tornaria o único partido
brasileiro com uma ampla base rural e popular. Em termos da extensão
territorial de sua presença, o PT é muito mais um partido rural do que um
partido operário.
Quando, na campanha eleitoral de Lula à Presidência, essa organização
decidiu refrear suas manifestações e as ocupações de terra, fê-lo
exatamente para não prejudicar a candidatura petista, para não a carimbar
com nenhum timbre de radicalismo. O calendário das agitações no campo
regulado pelo calendário eleitoral, não só nesse caso, tem sido uma boa
indicação do vínculo partidário da organização.
O MST é também uma das principais e mais interessantes expressões políticas
do catolicismo pós-conciliar na América Latina. Ele se constituiu a partir
de quadros das pastorais sociais. Foi quando começou a ficar evidente que
mesmo os bispos chamados progressistas tinham limites claros para se
envolverem na pastoral de suplência que resultou do profundo compromisso da
Igreja Católica com os trabalhadores rurais. Era o cenário histórico da
ditadura militar, da violência genocida e da violação radical da própria
condição humana, sobretudo na chamada Amazônia Legal, mais da metade do
território brasileiro.
A busca de alternativas e o posicionamento político dos agentes de pastoral
envolvidos na arregimentação e no protesto das vítimas pediu também uma
opção política radical. Esse era o limite dos bispos com o fim da ditadura.
O canal de expressão dessa mobilização camponesa teria que ser outro. O
nascimento do MST foi o meio de fazer fluir para o âmbito próprio da
política o que já não tinha condições de se organizar e expressar
plenamente no âmbito da igreja.
O MST se tornou de vários modos expressão do catolicismo militante, pelo
apoio moral, logístico e material. Importou da igreja formas litúrgicas de
manifestações de massa, expressões ampliadas das romarias da terra,
variantes políticas das procissões religiosas. O MST não se move apenas com
base em ideologia política, mas sobretudo com base na mística milenarista
de um tempo de redenção dos pobres e oprimidos.
Porém a principal herança que o MST recebeu da igreja, e seguramente a mais
interessante, é a da grande tradição do pensamento conservador, aquele modo
de pensar o mundo que, no século 19, opôs-se ao liberalismo da revolução do
século 18, como mostrou Robert Nisbet. No lugar do indivíduo fragmentário,
a concepção de pessoa; no lugar da sociedade da sociabilidade abstrata e
interesseira, a comunidade da sociabilidade solidária e afetiva. Os valores
que norteiam o MST vêm desse estoque de idéias conservadoras: a propriedade
da terra, o trabalho comunitário, a religião, a família, a comunidade. De
fato, ele está muito longe do marxismo. E muito longe da independência: o
MST até hoje não tem uma compreensão objetiva de seu lugar na história,
justamente porque não tem autonomia.

Falta Coragem. Entrevista João Pedro Stédile

Correio Braziliense, 23.5.2005, Brasil

O líder do MST diz que a marcha deu resultados e critica o governo por não
dar prioridade ao social

André Carravilla
Da equipe do Correio

João Pedro Stedile marchou em silêncio. Mochila nas costas, chinelo de
dedos e boné na cabeça, o economista pós-graduado no México misturou-se aos
12 mil sem-terra na caminhada até Brasília, que terminou na quarta-feira da
semana passada. Alegando que cada um tinha sua função _ e a dele não era
falar _ recusou-se a dar entrevistas à imprensa. Quando quebrou o silêncio,
o gaúcho de Lagoa Vermelha foi polêmico: _Vamos dar um pau no Palocci_,
disse, sobre a atuação dos economistas do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) em um possível encontro com o ministro da Fazenda.
Dois dias depois do fim da marcha, Stedile concedeu, por e-mail, esta
entrevista ao Correio. Aqui, ele diz que as ocupações a propriedades são a
forma mais eficaz de acelerar a reforma agrária e cobra mais investimentos
do governo. _O Ministério da Fazenda corta apenas os gastos sociais, mas
não corta os juros_, reclama. Também afirma que a imprensa brasileira é
preconceituosa com os sem-terra e critica o ministro da Agricultura,
Roberto Rodrigues: _Ele se comporta muito mais como presidente do sindicato
do agronegócio do que como um ministro de Estado_. A seguir, os principais
trechos da entrevista.

CORREIO BRAZILIENSE _ A marcha mostrou resultados?
JOÃO PEDRO STEDILE _ A marcha tinha como objetivos fazer com que a reforma
agrária voltasse a ser debatida pela opinião pública, debater com a
sociedade a natureza dos problemas brasileiros e a necessidade de se mudar
a política econômica. Também buscávamos resolver os problemas imediatos do
atraso da reforma agrária nos estados e levar o governo federal a
implementar medidas estruturantes. Na nossa avaliação, todos esses
objetivos foram alcançados. Portanto, apesar do sacrifício das pessoas que
participaram, foi um sucesso absoluto. Demonstrou que existem energias na
sociedade brasileira que podem ser usadas para construirmos um projeto de
desenvolvimento para o país.

CORREIO _ Qual a sua avaliação sobre a violência registrada no último dia
da marcha?
STEDILE _ O MST sempre teve um bom relacionamento com a Polícia Militar do
Distrito Federal. Já disputamos com eles até partidas de futebol. Mas temos
consciência que há setores dentro da polícia do GDF que são manipulados
pela direita e pelos conservadores. Esses setores, que envergonham a
polícia, ficaram todo tempo provocando um clima de tensão, para gerar algum
conflito que pudesse tirar o sucesso da chegada da marcha, pelo menos na
imprensa. E, infelizmente, conseguiram. Nós nos iludimos com as boas
relações que fizemos com o comando e subestimamos a capacidade desses
setores nos aprontarem alguma. E aprontaram. O episódio foi claramente
provocado. No ato, viu-se que um carro da polícia civil tentou passar pelo
meio da multidão, embora não tivesse nada que fazer lá. Dai, alguns punks e
sectários agrediram o carro. Imediatamente, a polícia reagiu contra toda
multidão. Impressionante a rapidez com que a cavalaria estava a postos. Deu
a impressão de que estavam esperando para agredir a todos. Em seguida, o
helicóptero fez vôos rasantes e aumentou o clima de tensão.

CORREIO _ O caminhão de som não estimulou os manifestantes a vaiar a
polícia montada?
STEDILE _ Não somos idiotas. Nunca pregamos o confronto com a polícia como
forma de resolver problemas. O objetivo das manifestações do MST é
pressionar para resolver os problemas do país. Os jornalistas são
testemunhas que os carros de som orientaram para evitar as provocações dos
policiais e dos punks. O episódio revela que setores da polícia deveriam
voltar à escola e terem um pouco mais de dignidade com o tratamento do povo.

CORREIO _ O acordo com o governo não falha ao apresentar uma lista de
promessas sem indicar a fonte de recursos?
STEDILE _ Dinheiro não falta, o que falta é dar prioridade à área social.
De onde virão os recursos, isso é uma questão técnica, menor. Isso é com os
burocratas do governo. Mas posso garantir que o governo recolhe muitos
recursos públicos de impostos. No entanto, infelizmente, a prioridade é
apenas pagar juros e atender os compromissos com as elites. Esperamos que o
governo honre com os compromissos assumidos e assinados publicamente. Nós
fizemos um acordo político com o governo, que reconheceu estar em dívida
com os sem-terra e com o povo brasileiro. O governo não vinha cumprindo a
meta de assentamento. Também não cumpria suas obrigações nos acampamentos e
assentamentos.

CORREIO _ O governo não deveria ter dito qual será o valor do projeto de
suplementação orçamentária que enviará ao Congresso até o dia 31 de maio ?
STEDILE _ Não. O que queremos é que o governo recomponha o Orçamento da
União já aprovado pelo Congresso, que previa os R$ 3,7 bilhões para reforma
agrária. O que precisa apenas é descontigenciar todos os recursos que são
para área social.

CORREIO _ Qual sua avaliação da cobertura da imprensa sobre o acordo?
STEDILE _ O Ministério da Fazenda corta apenas os gastos sociais, mas não
corta os juros. No mesmo dia do final da marcha, o Banco Central aumentou
os juros de 19,5% para 19,75%. Isso vai aumentar os custos do governo ate o
final do ano em R$ 900 milhões só em juros. Mas nenhum jornal perguntou se
o governo iria enviar medida para suplementação orçamentária para os
bancos. Os jornais e seus proprietários sempre são críticos ao governo
quando quer fazer gastos sociais, mas ficam calados quando aumentam os
gastos com bancos e a transferência de lucros.

CORREIO _ E a posição do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, em
relação aos critérios de produtividade?
STEDILE _ Temos ouvido dentro do governo de que o ministro da Agricultura
se comporta muito mais como presidente do sindicato do agronegócio do que
como um ministro de Estado. Sua prioridade deveria ser o desenvolvimento de
todo país e de todo povo. Ele precisa de umas aulinhas sobre o que diz a
Constituição a respeito do papel de um ministro. Estão fazendo um cavalo de
batalha com os índices de produtividade como se fosse uma agressão ao
latifúndio. Ora, convenhamos, não é o agronegócio que se orgulha de ter
mudado a agricultura brasileira. Dizem ter modernizado e sustentado o país.
Pois bem, os índices utilizados pelo Incra são de 1975. A intenção é
atualizar os indicadores. Usar os dados levantados pelo IBGE em 1995. Isso
representa dez anos de atraso. Mesmo assim, reclamam. Reclamam, porque
querem manter o latifúndio intocável. Mas a Constituição é clara: toda a
grande propriedade, acima de 1.500 hectares, que não produzir e não cumprir
sua função social, deve ser desapropriada pelo Estado, em nome da
sociedade. O que está faltando é um pouco mais de coragem ao governo para
fazer as mudanças necessárias. Na teoria, todo o governo é a favor de
combater a pobreza e a desigualdade, mas cada vez que alguém apresenta
propostas concretas que afetam a concentração de terra e riqueza, não deixam.

CORREIO _ O senhor afirmou aos militantes que _aumentem a consciência e
intensifiquem as invasões_. Isso não gera mais violência?
STEDILE _ Ao contrário. Quis dizer no discurso justamente que nossa
militância precisa estudar mais, compreender a conjuntura política, a luta
de classes. Isso significa conhecimento, consciência da realidade, para não
cair nas provocações baratas de policiais ou de setores conservadores. E,
portanto, evitar a violência, evitar confrontos. Em geral, as pessoas de
menor consciência é que caem mais fácil nas provocações. Nosso remédio
contra a violência é o estudo, o conhecimento.

CORREIO _ As invasões são mesmo necessárias ?
STEDILE _ Veja como vocês são preconceituosos. Sempre falamos ocupações,
porque é bem diferente de invasão. Invasão é um ato de apropriação indébita
de um bem para aproveitamento privado, particular. É o que fazem os
fazendeiros quando invadem terra pública e terra de índios, para seu uso e
enriquecimento pessoal. Ocupação é uma mobilização de massa, que entra numa
área, para pressionar o governo a aplicar a lei, a desapropriá-la. Esses
conceitos estão na sociologia política e estão num acordo do próprio STJ
(Superior Tribunal de Justiça). Mas vocês, jornalistas, insistem em usar
mal as palavras, o que leva a preconceitos. Sempre defendemos, desde o
inicio, há 21 anos, as ocupações massivas realizadas pelos pobres do campo.
Infelizmente é a única forma eficaz de pressionar o governo para aplicar a
lei. Foi a forma usada por todas as famílias que hoje estão assentadas.
Nenhuma recebeu por benesse de algum político ou iniciativa do governo.
Todas elas tiveram que se organizar, lutar e ocupar a terra para então o
Estado agir.

CORREIO _ O senhor tinha a expectativa de que, no governo Lula, as invasões
diminuíssem?
STEDILE _ Claro. Nós organizamos ocupações, não porque gostamos, porque
seja um passeio, um piquenique, nós só organizamos ocupações porque o
Estado não funciona. O Estado brasileiro está organizado apenas para manter
os privilégios dos ricos. Sempre chega tarde para atender os pobres. Nenhum
pobre gosta de ficar na fila do INSS de madrugada. Lula tinha como
prioridade a reforma agrária, nós acreditávamos que as ocupações
diminuiriam. Certa ocasião, em reunião com os ministros, o presidente Lula
disse que suas duas prioridades máximas eram o combate à fome e a reforma
agrária. Se ele de fato conseguisse que o Ministério da Fazenda pensasse
assim também, certamente as ocupações, os conflitos sociais no campo
diminuíriam.