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O neoliberalismo não era o único caminho

Entrevista com LedaPaulani, professora da USP e autora do recém-lançado“Modernidade e discurso econômico”

Ocandidato que representava a esperança sucumbiu ao medo nahora de escolher seu modelo econômico. É a opiniãode Leda Paulani, professora da USP e autora do recém-lançado“Modernidade e discurso econômico” (Boitempo Editorial),livro no qual analisa as raízes filosóficas eideológicas do que chama de doutrina neoliberal.

Presidenteda Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP), elaparticipou da elaboração da “Carta de Campinas”,documento no qual um grupo de economistas de esquerda acusa opresidente Lula e o PT de queimarem o capital políticoconquistado nas eleições para cumprir a agendaneoliberal. “O governo não acreditou em si mesmo. Tevemedo”.

Emseu livro, a senhora descreve a construção da doutrinaneoliberal como um longo processo, de pelo menos cinco décadas,mas o senso comum o associa à queda do socialismo, no fim dosanos 80…

LEDAPAULANI: O neoliberalismo, como doutrina, inicia-se numa reuniãoque Hayek tomou a iniciativa de fazer em 1947 e para a qual chamoutodos os principais intelectuais conservadores da época. Oobjetivo da reunião era rearranjar as forças paradefender o mercado como única instituição capazde preservar a individualidade e a liberdade humanas. Hayek perceberaa avalanche intervencionista e keynesiana que o pós-SegundaGuerra engendrara e, com ela, o ânimo regulatório geralque se instalara. Era preciso reagir e preparar as bases para osurgimento de um capitalismo livre de regras. Por isso oneoliberalismo nasce como doutrina, e não como uma nova teoriaeconômica.

Quala diferença?

LEDA:Ele parte mais da crença de que a sociedade organizada pelomercado é a melhor que o homem já foi capaz deconstruir, do que de uma certeza, fundamentada em conhecimentocientífico, sobre o caráter necessariamente positivo ematerialmente virtuoso dessa sociedade. Mas a Históriaengavetou essas idéias por pelo menos 30 anos. Só emmeados dos anos 70 foram criadas as condições objetivaspara que o neoliberalismo vingasse, sobretudo como políticaeconômica. Como isso coincidiu com o fim do chamado socialismoreal, a relação entre as duas coisas parece imediata,mas trata-se de um equívoco. Na verdade, tem a ver com a criseque o capitalismo atravessa a partir de meados dos 70.

Porque a senhora diz que o capitalismo está em crise?

LEDA:Ocapitalismo está em crise porque hoje, três décadasdepois do início do desmonte dos artefatos keynesianos(estruturas regulatórias, Estado do bem-estar, controle dedemanda efetiva, taxas de câmbio estáveis), o mundo temmenos perspectiva e cresce menos do que nos chamados 30 anos douradosdo capitalismo (do pós-guerra a meados dos anos 70). Alémdisso, foi a crise iniciada no final dos anos 60 e aprofundada nos 70que gerou a massa de capitais ciganos (sem pátria) que buscavalorização financeira e grita pela necessidade dedesregulamentação. A doutrina neoliberal vem aía calhar.

Aque motivos a senhora atribui a adoção por todo o mundoda doutrina neoliberal?

LEDA:Adoutrina neoliberal fala muito de perto ao senso comum. Afirmaçõescomo: “ninguém pode gastar mais do que ganha” etc. podemser verdadeiras no plano doméstico, mas são falaciosasno plano macroeconômico. Elas passam a ser vistas como verdadeporque são de fácil compreensão. Outro fator éa mídia.

Porque o mundo em desenvolvimento adotou esta doutrina, em especial aAmérica Latina?

LEDA:AAmérica Latina mostrou-se como a grande alternativa deaplicação para esses capitais, uma vez que o mundo todoestava em crise e a demanda por crédito estava, de modo geral,muito reduzida. Nesse contexto, encontrar países como oBrasil, com um Estado disposto a se endividar, foi uma dádiva.Claro que mais tarde, quando estoura a crise das dívidas (porcausa da elevação desmesurada dos juros pelos EUA em1979) e as moratórias se sucedem, a difusão dessadoutrina torna-se uma necessidade, sem a qual a ditadura dos credoresque hoje nos submete talvez não fosse tão eficaz. Nosanos 90, a mesma avidez por valorização financeira deum volume de capitais, então muito maior, empurrou os paíseslatino-americanos para aventuras estabilizadoras assentadas em âncoracambial. Os capitais que “garantiram” a retomada da estabilidademonetária foram regiamente pagos e continuam a sê-lo.

Ogrupo de economistas de esquerda afirma na “Carta de Campinas”que a política econômica do governo foi uma escolhapolítica. Por quê?

LEDA:A “Carta de Campinas” é um documento que foi elaboradocoletivamente ao longo do X Encontro Nacional de Economia Política,promovido pela Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP)na Unicamp em maio de 2005. A SEP, da qual sou hoje a presidente,nasceu em 1996 pelo esforço de um grupo de professores deEconomia que percebeu o estreitamento do espaço acadêmiconas entidades então existentes para a apresentaçãodas posições heterodoxas. Afirmamos que se tratou deuma escolha porque não concordamos com a tese de que este erao único caminho disponível. Tese que se relacionadiretamente com uma outra, muito corrente na academia, que afirma quesó existe uma ciência econômica verdadeira (aortodoxa), sendo todas as demais visões falaciosas ouultrapassadas. Para repetir as palavras da própria Carta,“alternativas existiam há dois anos e meio como continuam aexistir hoje”, ainda que hoje os custos de uma mudança derota sejam muito mais elevados, depois que o PT e Lula queimaram oimenso capital político de que dispunham no início dogoverno.

Porque o governo Lula teria “dobrado a aposta” na agenda neoliberal?

LEDA:Aí temos várias hipóteses. A que mais meconvence é que o novo governo não acreditou em simesmo. Em uma palavra, teve medo. E como o poder tinha se tornado oprincipal objetivo do grupo dirigente do PT, preferiram nãoarriscar e, infelizmente, trocaram um projeto de naçãopor um projeto de poder.

Emalgum momento, o governo vai alterar sua política econômicapara um modelo menos financista?

LEDA:Não acredito que esse governo seja capaz agora de mudar oque quer que seja, muito menos a política econômica, atéporque agenda do país já está completamentedominada pela questão da sucessão de Lula.

Opaís alcançará suas metas de desenvolvimento coma doutrina neoliberal?

LEDA:Não acredito. Uma primeira e simples razão é quenesse modelo o próprio crescimento aparece como variáveldesestabilizadora e é prontamente enfrentado pela elevaçãoda taxa de juros, que já é a maior do planeta. Alémdisso, com a instabilidade permanente produzida pelo setor externo ecom suas implicações para o comportamento interno daeconomia, não dá para acreditar em qualquer tipo decrescimento que seja sustentado.

Algumpaís do mundo atualmente está agindo na contramãodesta doutrina com bons resultados econômicos?

LEDA:Todos falam da China, mas a China é complicado, porque semprese poderá levantar o argumento de que se trata de um paísque vive sob uma ditadura. Então é melhor tomarmos aÍndia, que fez uma couraça externa combinando forteacúmulo de reservas, câmbio competitivo e controle decapitais e vem crescendo sustentadamente a uma taxa anual da ordem de6% a 6,5% desde 1995. Passou incólume por toda a seqüênciade crises financeiras dos anos 90 que tanto penalizou nossocontinente.

Essespaíses têm um modelo social desejável para oBrasil?

LEDA:Aqui estamos falando strictosensode política econômica. Nada nos obriga, por mudar apolítica econômica, a comprar este ou aquele modelosocial. Acredito na capacidade do Brasil de combinar não sóa retomada do crescimento como o resgate de nossos graus de liberdadee de nossa capacidade de conduzir autonomamente nossos destinos com aconstrução de uma sociedade mais justa e digna, pautadapelo solidarismo e pela recuperação do Estado como umlócus capaz de enfrentar a fúria cega dos capitais.


O Globo
05/06/05

Orgânicos. Potencial para crescer

Enquanto consumo aumenta em países desenvolvidos, Brasil ainda engatinha para superar barreiras de mercado e falta de informação.
Carolina Valadares Da Assessoria deComunicação da UnB: O mercado de alimentos orgânicos tende a crescer,mas ainda tem muitos desafios a superar.

Em meio à onda de consumo saudável eà preocupação cada vez maior com o impacto ambiental, ainda hoje, poucagente sabe, de fato, o que são esses produtos. Cerca de 49% dosentrevistados em pesquisa da Biofach não conhecem esse conceito. Odado, coletado depois de 40 seminários realizados pela feira (vejaabaixo), mostra que esclarecer essa dúvida da população é ferramentachave para as empresas aumentarem sua participação no mercadoalimentício.

O percentual foi divulgado pela diretora da organizaçãoPlaneta Orgânico (portal de Internet especializado na área), MariaBeatriz Martins Costa, no auditório Dois Candangos, da Universidade deBrasília (UnB), durante o painel A Agricultura Orgânica no Brasil e noMundo.

Estrutura de Mercado, Análise da Evolução da Produção eConsumo, no Seminário Nacional sobre Agricultura Orgânica, promovidopelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, doDesenvolvimento Social e Combate à Fome e do Meio Ambiente.APRECIADORES

Enquanto cerca de 27% dos norte-americanos já aderiramaos produtos orgânicos e 26% dos canadenses também, apenas 14% dapopulação brasileira adotoram o mesmo hábito. Aqui, as principaisdificuldades listadas pela pesquisadora da Empresa de PesquisaAgropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro) Maria Fernanda Fonseca são:
sazonalidade das ofertas, pouca diversidade de produtos,falta de conhecimento da população sobre o conceito de orgânico, faltade treinamento de funcionários em supermercados, dificuldades nocontrato e altos preços.

Enquanto isso, Alemanha, Reino Unido, Itália eFrança estão entre os países que mais consomem orgânicos no mundo. Omaior consumo desses produtos per capita mensal, em 2003, foi dos suíços, que gastaram 101 euros. Osdinamarqueses vêm logo em seguida, com 50 euros per capita e os suecos,em terceiro lugar, com 47 euros. De 1999 a 2002, houve saltosignificativo nas entregas em domicílio de orgânicos na Europa. Nesseperíodo, o serviço passou de dois mil para 30 mil clientes.

ESTÍMULO
A Europa também se diferencia pela venda em supermercados específicos,além dos já tradicionais pontos de comércio, como feiras, mercadosconvencionais, restaurantes. Na França, por exemplo, o Biodoo já possui104 filiais e, na Itália, o Naturasi tem 40 lojas. A rede Wild Oats,dos Estados Unidos e Canadá, também se destaca com 101 filiais.

Osbrasileiros, no entanto, ainda terão de esperar para fazer compras deorgânicos em supermercados específicos, porque o país ainda não temlojas do tipo. Investimentos por parte dos governos também influenciamo aumento da procura por esses produtos. Na Alemanha, por exemplo, oMinistério de Proteção ao Consumo Alimentar e Agricultura lançou umselo nacional de produção orgânica e, para divulgá-lo, gastou 15milhões de euros.

Esse é o diferencial dos países de alta renda, elesestimulam o esclarecimento do conceito de orgânico à população?,comenta Fernanda.

CONCEITO
O produto orgânico é o resultado de umsistema de produção agrícola que busca manejar de forma equilibrada osolo e demais recursos naturais. Para trabalhar dessa forma, oagricultor necessita de harmonia com a natureza, recorrendo aosconhecimentos da agronomia, ecologia, sociologia, economia e outrasciências. A produção orgânica obedece normas rígidas de certificaçãoque exigem, além da não utilização de agrotóxicos e drogas venenosas,cuidados elementares com a conservação e preservação de recursosnaturais e condições adequadas de trabalho.

Fonte: www.planetaorganico.com.br