Pará: fazendeiros querem a cabeça de frei francês

*Rogério Almeida

Carta de fazendeiros do sul do Pará sugere a expulsão da região, da Igreja e da CPT, do reconhecido nacional e internacionalmente, defensor dos direitos humanos e da reforma agrária na Amazônia, frei Henri des Roziers, militante da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Xinguara, e não comandante, como sugere o desagravo assinado pelo Sindicato Rural de Xinguara, e endossado por outras instituições, como Lions e Rotary Club e a associação comercial.

Ao melhor estilo Casa Grande, embotada de toda arrogância, empáfia, a carta de indisfarçável tom ameaçador, datada de 25 de abril, foi endereçada ao bispo Dom Dominique You, da Diocese de Conceição do Araguaia, sul doPará.

A carta foi publicizada através da reportagem de Beatriz Camargo, vinculada no dia 9 de abril, no site que se dedica a denunciar o trabalho escravo, Repórter Brasil, www.reporterbrasil.com. O estopim da bomba reside na ação desencadeada pelo MST, quando ocupou a fazenda do Grupo Quagliatos, em Sapucaia, em março. Com base em grilagens de terras e registro de uso de mão de obra escrava na fazenda RioVermelho, o MST, realizou a ocupação. Se a ocupação do latifúndio, ganhou os quatro cantos da grande mídia, a carta ameaçadora não teve a mesma repercussão.

Nem mesmo a ação da PM na reintegração de posse. Os sem terra  permanecem acampados na região. O acampamento homenageia o dirigente sindical João Canuto, morto em Rio Maria. Os fazendeiros acusam o frei de radicalismo, e de constrangimento aos católicos de forma geral, e que tal atitude, estaria afugentado o rebanho da Igreja Católica. A singeleza da ameaça pode ser verifica no trecho da carta: "O radicalismo da CPT de Xinguara, está conduzindo os produtores rurais a uma situação delicada, de revolta e insatisfação, e caso não ocorra mudanças naquele comportamento poderá advir confrontos de dimensões desagradáveis."

Uma outra pérola de sutileza, e espelho de como o que se chama de elite, percebe os sem terra está revelado no trecho: "que a sombra da CPT, lá permanecem praticando jogatinas, prostituição, consumindo drogas e bebidas alcoólicas, etc."

Na reportagem de Camargo, consta que o bispo Dominique se solidariza com a militância do frei Henri, que trabalha na região desde 1979. O município de Xinguara, sul do Pará, tem funcionado como um ponto de arregimentação de trabalhadores rurais, que acabam sob condições análogas a de escravidão nas fazendas. A atuação do frei Henri, tem sido nos últimos anos a de denunciar a situação. O clima é de tensão.

Na década de 1980, os fazendeiros, madeireiros, grileiros, protagonizaram o período mais sangrento de luta pela terra na fronteira amazônica, no sudeste e sul do Pará. Sob a legenda da UDR, fomentaram bingos de gado, com vistas a angariar recursos que pudessem honrar os serviços da pistolagem. Assim foram mortos os Canuto, Expedito Ribeiro, Gringo. Assim pipocaram chacinas como nas fazendas Dois Irmãos, Xinguara, saldo de seis mortos; Chacina de Ingá, 13 mortos, em Conceição do Araguaia; e a Surubim, em Xinguara, com saldo de 17 mortos. Nenhuma possui nemprocesso em tramitação. Todas ocorreram no ano de 1985. Será essa a inspiração dos ruralistas?

 Rogério Almeida é colaborador da rede www.forumcarajas.org.br