A crise política brasileira ganhou corpo e velocidade nas últimas semanas. A cada dia, aparecem denúncias, acusações, ameaças e hipóteses para o desfecho desta crise. Aumentam ainda as incitações de ódio e violência por parte da direita, com ameaças à militantes e organizações. No meio de tanta informação ou boatos, muitos podem se sentir perdidos ou desanimados com esta conjuntura. É importante, portanto, ter clareza do que está em jogo, quem está jogando e com quais interesses.
1. A natureza da Crise que estamos vivendo..
O primeiro elemento que devemos levar em conta para entender o atual momento político brasileiro é de que esta crise não é uma exclusividade do Brasil. Pelo contrário, ela é resultado ainda da crise econômica iniciada em 2008, que quebrou inúmeras empresas do capitalismo internacional, faliu países e desequilibrou a organização da economia mundial. O que está em disputa agora é justamente como organizar a economia para os próximos anos.
O capital em todo mundo tem um projeto claro para esta saída da crise: diminuir os preços de matérias-primas (agrícolas, petróleo, etc) e reduzir os salários e direitos dos trabalhadores para garantir a sua taxa de lucro. Este é o projeto que tentam implantar em toda a América Latina e passa também por realinhar os nossos países aos Estados Unidos, por isso que o Brasil passa por ofensivas da direita semelhantes ao que já temos visto na Venezuela, Bolívia e na Argentina.
Só que esta saída da crise põe todos os sacrifícios e perdas na conta dos trabalhadores para que o capitalismo volte a funcionar. Essa saída só aumenta a crise social, porque para ela funcionar tem que aumentar o desemprego e diminuir os direitos. Além disso, a crise econômica se desdobra em outras crises, como a crise ambiental, com a destruição irresponsável do meio ambiente como vimos em Mariana (MG) com a quebra da barragem de lama tóxica pela Samarco/Vale do Rio Doce, e pela crise dos valores, onde o que é vale é cada um por si e as mercadorias estão acima da vida humana.
No Brasil, este projeto é bem claro. Significaria reduzir conquistas e direitos sociais como a aposentadoria (aumentando o tempo para se aposentar), baixar os salários, acabar com a carteira de trabalho (e todas as suas conquistas como férias, FGTS, 13.º salário). Significa também entregar recursos mineirais importantes como o petróleo do Pré-sal para empresas estrangeiras, assim como hidrelétricas, bancos públicos (Banco do Brasil, Caixa Econômica) e suspender projetos sociais.
O que agravou a crise econômica no Brasil é que, junto com ela, estamos vivendo uma crise política. Por um lado, nós temos um governo que foi eleito para avançar as conquistas e direitos sociais. Mas que não consegue cumprir a plataforma que o elegeu. Por outro, nós temos um Congresso que não foi eleito pela população, mas sim por grandes empresas que através de doações milionárias para as campanhas acabam decidindo quem serão os deputados e senadores e o que é que eles irão votar. Em 2015, por exemplo, todas as pautas do Congresso Nacional ião contra os direitos dos trabalhadores, mas beneficiavam as empresas: como a terceirização no lugar da carteira de trabalho, a redução da maioridade penal para os filhos dos pobres, a retirada da exclusividade da Petrobrás na exploração do Pré-sal.
2. Averdadeira saida para a crise politica seria uma reforma politica profunda
A saída para esta situação seria uma profunda reforma política, através de uma constituinte exclusiva, e que proibisse a doação privada de campanha, torna-se as campanhas mais transparentes e criasse outros mecanismos de participação da população, principalmente para temas fundamentais, através de plebiscitos.
O que alimentou a crise política foi a chamada “Operação Lava-Jato”, uma investigação justamente dos recursos doados ilegalmente por empresas para políticos e que em troca recebiam obras e contratos milionários. Políticos de todos os partidos estão envolvidos nas denúncias, mas o juiz Sérgio Moro, do Ministério Público do Paraná, só mira nos políticos ligados ao Partido dos Trabalhadores (PT).
A ação de Sérgio Moro encontra parceria em outros setores do poder judiciário e na Rede Globo, que ilegalmente tem acesso aos dados da investigação e só publica o que lhe interessa. Tanto o poder judiciário, quanto os meios de comunicação agem sem precisar prestar contas para ninguém, porque não são eleitos e não existem mecanismos de controle social na democracia brasileira para conter os abusos de poder.
Como não ganhou nas urnas, o projeto da direita de privatizações e defesa do capital quer ganhar no “tapetão”, como se diz no futebol. Quer ganhar mudando as regras do jogo, com o jogo em andamento e sem consultar o povo. Para isso, seu primeiro objetivo é tirar a Presidenta Dilma Roussef. Por mais erros que seu governo tenha cometido, é inegável que ela foi eleita democraticamente e ainda não se provou nenhum crime ligado a sua pessoa. Logo, não existe base para um impeachment, para uma retirada da Presidenta. Só o que existe é a ação da direita para acabar com a democracia.
Porém, não basta que a direita tire a Presidenta. A crise é de longo prazo e o projeto deles também precisa durar mais tempo. Por isso, além do impeachment, a direita trabalha para que o campo popular não tenha nenhum candidato que possa derrotá-los novamente em 2018 e por isso é importante atacar o PT e sua principal liderança, o ex-presidente Lula.
Até agora nada foi comprovado contra a Presidenta Dilma, nem contra o ex-presidente. Mas a mídia, em especial a Rede Globo, e as redes sociais alimentam e dão grande publicidade para os boatos e mentiras, a ponto de convencer parte dos trabalhadores que os fatos realmente aconteceram.
Como este processo não respeita a Constituição, não respeita as leis, nem as instituições, é um golpe.
Assim como os militares já haviam feito em 1964: passam por cima da população e impõem o seu direito.
E se eles fazem isso agora com uma Presidenta legitimamente eleita, podem fazer muito pior com os movimentos populares, passando por cima também dos nossos direitos quando fizermos nossas lutas, prendendo sem justificativa lideranças, etc.
E para criar este clima, a direita ainda incentiva setores de extrema-direita a fazerem manifestações e atacarem militantes, sedes de partidos, sindicatos e movimentos.
3. Os verdadeiros objetivos da direita, dos empresarios e seus portavozes na sociedade: a rede globo!
Na verdade como o capital enfrenta uma grave crise, que significa queda na taxa de lucro, quebra de empresas, concorrencia com outros capitalistas estrangeiros, mais fortes. E tambem uma concentração da riqueza no sistema financeiro, eles precisam de ter amplos poderes para fazer as mudanças neoliberais na economia.
Para recuperar a taxa de lucro eles precisam acabar com direitos historicos conquistados pelos trabalhadores. Precisam elevar a taxa de desemprego, para forças os salarios para baixo. Precisam diminuir os recursos publicos que antes iam para educação, saude, reforma agraira, e aplicar todos esses recursos no seu modelo de investimentos. Querem diminuir os impostos, como se fossem eles que pagam..
Precisam completar o ciclo de privatizações, com as ultimas empresas elétricas, e sobretudo do petroleo, que são fontes de riquezas e de renda extraordinaria aos capitalistas.
Mas para aplicar esse modelo neoliberal, eles nao conseguem fazer com um governo de coalizão como é o Governo Dilma. Eles precisam ter amplos poderes. E para isso precisam dar um golpe, tirar a Dilma, e deixar o Temer, para fazer o que eles querem.
A fumaça da corrupção nao tem nada ver com a crise. Ou voces acham que depois o golpe, a operação lava-jato vai mandar prender os 316 politicos arrolados como réus, como recebedores de propinas das empreiteiras? Ou será que a Rede Globo via explicar daonde vieram os recursos da mansão ilegalmente construida na praia de Paraty? Consta nos registros que a empresa proprietaria é a mesma que pagava as propinas dos gastos do ex-presidente FHC.
4.Nossa missão nessa conjuntura tãodificil..
São tempos dificieis, mas também são tempos de luta. As tarefas que temos pela frente são grandes e não são de curto-prazo.
Em primeiro lugar, é preciso estudar e conhecer a conjuntura. Reunir os vizinhos, os amigos e debater, conhecendo a opinião dos movimentos populares e não se deixando levar pelas informações que a grande mídia bombardeia todos os dias. É preciso saber também que a direita será mais agressiva e é importante garantirmos a segurança de todos os militantes, tomando cuidados para não cair em provocações e preservar os patrimônios que construímos.
Segundo, e mais importante, tem que ter luta. Para barrar os movimentos da direita, só com povo na rua, debatendo com a sociedade e mostrando a nossa força organizada para que eles percebam que não podem passar por cima das leis sem nenhuma consequência, nem acabar com a democracia no país.
Na construção destas lutas, temos que formar alianças, reunindo os partidos, sindicatos, os trabalhadores e trabalhadoras que queiram lutar. Uma ferramenta que os movimentos populares tem construído para esta batalha é a Frente Brasil Popular, que reúne militantes de diferentes organizações em torno de duas ideias: precisamos defender a democracia e ter conquistas de mais direitos sociais, com mudanças na política econômica.
Agora, o principal é estarmos organizados e em luta. Porém, vamos precisar construir também um Programa de Medidas de Emergência, que ajudem a tirar o país da crise, sem tirar direitos dos trabalhadores, mas passando a conta para os capitalistas. Um programa que invista na construção de moradias nos centros urbanos, que melhore os atendimento da saúde, que crie mais empregos com obras necessárias, que faça a reforma agrária e melhore a situação da produção de alimentos no campo.
A luta de classes se acirrou. O que significa que teremos que fazer mais lutas, algumas prolongadas de mais tempo. Mas é só a luta que trás conquistas e as mudanças necessárias para toda a sociedade brasileira.