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Conjuntura politica brasileira. Semana 21 de maio a 03 de junho de 2008

A análise da conjuntura da semana é uma (re)leitura das ‘Notícias do Dia’ publicadas, diariamente, no sítio do IHU. A presente análise toma como referência as "Notícias" publicadas de 21 de maio a 03 de junho de 2008 e das revistas do IHU n. 259 e n. 260. A análise é elaborada, em fina sintonia com o IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores – CEPAT – com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

Sumário:

Amazônia e Povos Indígenas
– A Amazônia foi parar no centro do Brasil
– Desmatamento não pára de crescer
– Agrava-se dívida social com os povos indígenas
SUS completa 20 anos. Uma conquista da sociedade brasileira
– Universalização, Integralidade, Descentralização e Participação. Princípios do SUS
– Os limites do SUS e a sua origem
– Emenda 29
– O filme $.O.$. Saúde e o SUS brasileiro
Nanotecnologias
– Nanotecnologias. Progresso ou aventura trágica?
– Possibilidades incríveis e riscos altíssimos
– Uma sociedade pós-humana?
– De Homo Faber para Homo Creator. A ameaça do nosso tempo
– Pós-humano e pós-humanismo. Outra interpretação

A Amazônia foi parar no centro do Brasil

Desde sempre periférica às grandes discussões sobre o Brasil, de repente a Amazônia foi parar no centro das atenções, inclusive internacionais. Ela está no epicentro de grandes interesses econômicos, de desenvolvimento e ambientais. A região concentra grande riqueza em recursos naturais: abundância de água doce, biodiversidade, floresta, ar puro… Há mesmo quem já estipulou um preço para a Amazônia: 50 bilhões de dólares para a compra da floresta. Um absurdo, pois significa a total mercantilização da natureza.

São, ao menos três as questões que colocam a Amazônia no centro do debate: o desmatamento, a construção de hidrelétricas e a Reserva Raposa Serra do Sol. As problemáticas não devem ser vistas de maneira estanque, isolada; pelo contrário, elas refletem um conjunto em que atores e interesses – contraditórios – interagem, como veremos nesta análise.

Convém destacar o papel do governo neste contexto. O Governo Lula mostra dificuldades em lidar com a questão ecológica, questão nova para a qual dá sinais de não estar preparado. Ao mesmo tempo, no conflito escancarado na Reserva Raposa Serra do Sol deve-se lembrar que se chegou a isso graças à ineficiência e inoperância do governo de cumprir a lei, isto é, de retirar os fazendeiros da área no tempo estabelecido.

Desmatamento não pára de crescer

Os novos dados oficiais sobre o desmatamento na Amazônia indicam a retomada da destruição da floresta nos últimos meses, depois de uma queda de três anos consecutivos. Ou seja, neste ano já se tirou mais floresta do que em todo o ano de 2007. Foram 5.850 km2 derrubados entre agosto de 2007 e abril de 2008. Deve-se lembrar que o ano é contado de agosto a julho.

Mato Grosso é o Estado que mais floresta pôs no chão. Só no mês de abril, foram desmatados 1.123 km2, 749 km2 dos quais no Mato Grosso, seguido de Roraima, onde foram derrubados 284 km2. Colhe-se o que se plantou”, disse o diretor da organização Amigos da Terra, Roberto Smeraldi. “Você aumenta a exportação de ferro-gusa com carvão de floresta nativa, triplica os frigoríficos, titula ocupações de até 1.500 hectares, licencia obras ilegais e ainda não cobra as multas: depois espera o quê? Considerando que só há dados sobre Mato Grosso e Roraima, a tendência é de termos um ano entre os piores, voltando à casa dos 20 mil km2 (desmatados por ano).”

Mato Grosso é o Estado governado por Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo e veemente defensor dos interesses do agronegócio e favorável ao desmatamento. Para ele, há uma incompatibilidade entre floresta e desenvolvimento. Outro dia, Maggi afirmou que “não se faz agricultura ou pecuária sem retirar a floresta. Essa é a grande verdade". Disse também: "Aqueles que vivem nas cidades se esqueceram de onde vem o frango, esqueceram de onde vem a carne. Eles acham que tudo aquilo nasce pronto lá na gôndola do supermercado. Que o Danoninho, o iogurte, nasce ali. Eles já não sabem mais que o leite tem que sair de uma vaca, criada em um lugar que já foi floresta".

Esta visão de desenvolvimento que se faz às custas do meio ambiente, aliás, não é só argumento de Maggi, mas é compartilhada com outros setores dentro do governo federal, como é o caso do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, como veremos mais abaixo. Esse modelo de desenvolvimento contrasta com aquele defendido pelos povos indígenas, por parcela de pequenos agricultores, pelos produtores agroecológicos, pelos defensores da reforma agrária.

“O problema é que há um conflito de modelo. Maggi agora defende abertamente uma plataforma que é um suicídio para o país e para o próprio agronegócio. Ele defende o avanço da fronteira agrícola até sobre a Amazônia. Lá é a nossa grande caixa d’água. Declarações como a de Maggi só incentivam o agricultor a desmatar. É como se desse uma licença política para desmatar. Na Amazônia nós temos um vácuo de governança, uma ausência do estado”, justifica Marcelo Furtado, engenheiro químico e diretor de campanhas do Greenpeace.

À luz dessa perspectiva, o secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, Luís Henrique Daldegan, culpa os índios por parte dos desmatamentos em seu estado, que fariam rituais com fogo e causariam incêndios nas áreas de floresta. “Eles mesmos (os indígenas) colocam fogo na mata, durante os seus rituais. Isso é uma realidade de lá (de Mato Grosso)”, disse o secretário. Por outro lado, admite o avanço da fronteira agrícola como fator preponderante pelo desmatamento.

O fato é que cerca de 17% da floresta amazônica foi derrubada nos últimos 20 anos, o que representa 4 milhões de km2. Para se ter uma idéia, isso significa uma área equivalente aos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Diante disso, o governo federal acena com iniciativas no mínimo problemáticas para solucionar o problema.

Na semana passada, o ministro Carlos Minc anunciou que o governo vai destinar R$ 1 bilhão para recomposição de reservas legais na região. Na prática, o governo vai conceder crédito, a juros de 4% ao ano, segundo Minc, aos produtores que desmataram além do permitido pela legislação, e que agora são obrigados a recompor a floresta. Ou seja, já lucraram com o desmatamento e agora ganham dinheiro público a juros reduzidos para refazer o estrago que eles mesmos produziram. Não seria também isso um estímulo para o desmatamento?

Mas, as contradições não param por aí. O ministro da Agricultura Reinhold Stephanes, que defende abertamente os interesses do agronegócio, quer a revisão da ampliação da chamada Amazônia Legal, que ampliou a lista de municípios incluídos no bioma amazônico e que terão restrições ambientais. Quer também a revisão de um Decreto (6.321/07, do Meio Ambiente) que relaciona 36 municípios da Amazônia Legal, 19 deles em Mato Grosso, como responsáveis pelo aumento do desmatamento na região. Segundo o Decreto, produtores destes municípios que tenham desmatado acima do permitido não terão direito a crédito oficial.

Outra polêmica foi criada por conta de uma resolução do Banco Central, segundo a qual o órgão só autoriza o acesso a crédito oficial na Amazônia, a partir de 1º de julho, a agricultores e pecuaristas que apresentarem licença ambiental. Nota técnica preparada pelo Meio Ambiente relaciona a oferta de crédito rural público nos 557 municípios do bioma ao aumento do desmatamento. "A oferta crescente de crédito rural sem a adoção de mecanismos de monitoramento pelos órgãos ambientais pode induzir ao crescimento ou à manutenção de taxas elevadas de desmatamento", diz a nota.

Com o chamado “crédito verde” estão em jogo cerca de R$ 3 bilhões, o volume de dinheiro repassado por ano a agricultores e pecuaristas nos municípios do bioma Amazônia (65% dos municípios da Amazônia Legal), segundo dados mais recentes do Banco Central.

Diante da pressão exercida pelo ministério da Agricultura e também pelo governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, grande produtor de soja daquele Estado e representante dos interesses do setor, o governo federal afrouxou. Não agüentou o embate e flexibilizou a medida excluindo da sanção todas as propriedades que ocupam áreas de cerrado.

O governo diz que não cedeu às pressões e o governador Maggi se diz não totalmente satisfeito com a nova resolução. Segundo o novo ministro Carlos Minc, a proibição vale para o bioma amazônico. No entanto, Ongs e especialistas criticam seriamente o fim das restrições aos produtores do bioma cerrado. Esta medida é importante, pois representa a primeira grande decisão do ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, que apenas tomou posse.

Para a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a atitude de resistência e de oposição às medidas restritivas tomada por seu ministério por parte do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, um dos “heróis” de Lula, é responsável pelo aumento do desmatamento na região, ao mesmo tempo que significou uma atitude de “desobediência civil”.

O anúncio de Carlos Minc foi recebido com cautela e preocupação por ambientalistas do mundo inteiro. A demissão de Marina Silva e a indicação de Minc são recebidos como sinal de que a questão ambiental não vem sendo tratada com prioridade pelo governo brasileiro. Pesa contra ele a fama de que teria acelerado a concessão de licenças ambientais durante sua gestão como secretário de Meio Ambiente no Rio – algo visto como positivo por alguns e com receio por outros. Ele, no entanto, se defende dizendo que não será um “carimbador maluco” de licenças ambientais.

Sua política ambiental se resumirá no seguinte mote, extraído de música: “Nos entendemos muito bem, e a nossa música é ‘Dois pra lá, dois pra cá’: duas licenças, dois parques ambientais. O desenvolvimento vai andar e a preservação ecológica também”. Minc se refere à sua relação com Blairo Maggi, com quem teve desentendimentos antes mesmo de tomar posse.

Minc aproveitou a posse para anunciar a criação de um fundo privado, com recursos nacionais e principalmente internacionais, para estimular ações de desenvolvimento sustentável na Amazônia. O fundo será administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e já teria uma doação inicial de US$ 100 milhões da Noruega. “Vamos trazer recursos para manter a floresta em pé. A lógica é a seguinte: todo mundo diz que a Amazônia é importante, todo mundo chora quando cortam uma árvore da Amazônia. Agora, temos 25 milhões de pessoas que vivem na Amazônia. E nós precisamos de recursos para essas pessoas sobreviverem com práticas sustentáveis”, disse.

O governo federal espera arrecadar US$ 1 bilhão já no primeiro ano de existência do Fundo Amazônia. “O dinheiro destinado ao Brasil será utilizado em ações de combate ao desmatamento, na promoção da conservação e do manejo sustentável da floresta”, disse Tasso Azevedo, diretor do Programa Nacional de Florestas do Ministério do Meio Ambiente. As doações são voluntárias e podem ser feitas também por pessoas físicas. Em conseqüência de um orçamento minguado do Ministério e da perda de recursos, terá questão tão vital para o país e a humanidade que ser administrada com recursos procedentes da benevolência de pessoas ou de interesses de empresas? Parece mesmo não se tratar de uma política pública.

Aliás, Carlos Minc está dando declarações que o habilitam a sério candidato a “fanfarrão”. Diz-se disposto a prender os “bois piratas" que pastam em áreas embargadas da região amazônica. Que culpa têm eles por estarem aí? Teriam ido pastar aí por iniciativa própria? Neste caso, não seria o caso de prender os seus donos? Os bois que hoje se encontram na região são aproximadamente 80 milhões de cabeças. Recente levantamento bastante preciso realizado pelo IBGE revela que as pastagens já ocupam 7,8% da Amazônia Legal.

Marcelo Furtado resume bem essa política do governo: “O problema é que o governo Lula abriu mão da agenda ambiental. Com a saída de Marina, acenou que agora o negócio é crescimento sustentado, e não crescimento sustentável”.

Vem chamando a atenção a compra de gigantescas áreas de floresta por parte de estrangeiros, com a alegação de são áreas destinadas à preservação. Uma Ong inglesa – a Cool Earth –, com o patrocínio do milionário sueco Johan Eliasch, afirma que já foram comprados 37.100 acres de terra no Mato Grosso. O caso foi parar na Polícia Federal, que está investigando a compra de terras de Eliasch na Amazônia, que por sua vez nega a compra das terras.

“A Amazônia está em boa parte já privatizada a serviço dos mercados nacionais e internacionais de commodities agropecuárias e minerais”, disse Beto Ricardo, coordenador do Instituto Socioambiental (ISA). Entretanto, o governo federal não tem cadastro de quantas terras estão hoje nas mãos de estrangeiros.

Mas, como já informamos em outros momentos, a compra de terras por parte de estrangeiros não se restringe à Amazônia. Grandes extensões em todas as partes do Brasil são compradas por empresas multinacionais ou por pessoas físicas para a plantação de cana-de-açúcar e eucaliptos, principalmente, o que acionou uma disparada dos preços das terras em nosso país.

Agrava-se dívida social com os povos indígenas

Estreitamente relacionada a esta questão, está a que envolve os povos indígenas, autóctones da região amazônica. O Brasil e o mundo foram surpreendidos na última semana com notícias e imagens de tribos indígenas que vivem nas profundezas da floresta amazônica. Segundo a Funai, são 69 os grupos que vivem nessa situação no Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Roraima, Rondônia, Amapá, Tocantins e parte do Maranhão. Ainda segundo a Funai, há nove grupos que estão mais vulneráveis às ações predatórias, como os ataques de madeireiros. Eles estão em reservas em Mato Grosso, próximo à divisa com o Amazonas.

As imagens que correram mundo – índios nus, pintados para a guerra, disparando flechas com grandes arcos – vieram a público não por acaso. Elas querem chamar a atenção do mundo para o risco que correm algumas das últimas civilizações indígenas isoladas na selva brasileira. Madeireiros peruanos têm invadido a região, situada na fronteira com o Peru. Derrubam árvores, mas podem levar de roldão as tribos de índios que vivem próximo ao rio Envira. E acabar com elas antes que o mundo as conheça, como costuma acontecer com milhares de espécies animais e vegetais da Amazônia. "É preciso que a sociedade discuta se adotará uma política de preservação desses grupos ou de seu extermínio. É uma responsabilidade moral e política", avalia o antropólogo Gersem Luciano Baniwa, índio da etnia baniwa.

Há mais de 20 anos um grupo da Funai específico para indígenas isolados, sabe da existência desses aborígines, assim como de outros. “Sim, há uns 20 anos. Mas nunca os contatamos. Vai longe o tempo do marechal Rondon, quando a ordem era ‘pacificar’ os índios, integrando-os à sociedade branca. Desde os anos 80, nossa política é criar frentes de proteção étnica e ambiental, um nome comprido que pode ser resumido na seguinte situação: temos de protegê-los, sem que eles percebam. Sem contato. Uma missão difícil”, disse Elias Biagio, na Funai desde 1981.

A autorização para a divulgação das fotos partiu de Biagio e se dá num contexto bem específico: no momento em que avança o desmatamento e, conseqüentemente, aumenta a ameaça que pesa sobre esses indígenas isolados devido ao possível contato com os brancos. O contato pode ser desastroso, conforme revela a história de mais de 500 anos. “Quanto mais contato com os brancos, mais vulneráveis eles ficam. A doenças, à uma sociedade que não conhecem e que não os entende. Pressionamos pela criação de reservas onde eles possam viver, se alimentar, sem entrosamento com o mundo do consumo. Só assim sobreviverão”, conclui Biagio.

“Eles correm sério risco. Podem não desaparecer fisicamente, mas vão desaparecer culturalmente se a situação continuar como está. Sabemos de alguns índios isolados que sofrem pressão, mas não temos como acolher todas as demandas. Temos pouca gente e pouco dinheiro. Não são só os índios [que estão ameaçados], mas todo o povo da Amazônia, inclusive os brancos. Tudo é decidido no Sul maravilha, em Brasília, sem consultar o povo daqui. O pacote chega pronto, acham que somos um bando de idiotas e fazem um monte de trapalhadas. Tem que se desenvolver a Amazônia, mas com racionalidade. E os índios isolados são os mais fracos, porque dependem literalmente do ambiente onde vivem”, desabafa outro sertanista, José Carlos Meirelles.

Vê-se a preocupação em proteger esses povos indígenas do contato com os brancos e sua cultura, posto que pode significar a sua extinção física, ou ao menos a morte de sua cultura. Ou seja, os brancos somos perigosos!

O episódio do ataque do engenheiro da Eletrobrás Paulo Fernando Resende é, na verdade, um capítulo a mais nessa longa história de agressão a que são submetidos os povos indígenas. Vários índios caiapós, liderados pela índia Tuíra Caiapó, atacaram com facões o engenheiro após sua palestra no Encontro Xingu Vivo para Sempre, na qual contrariara o palestrante anterior, o professor e ambientalista Osvaldo Sevá, muito querido pelos índios.

“O engenheiro se comportou de forma arrogante e incivil. Tratou a platéia de maneira paternalista, como se fosse composta por ignorantes e ingênuos. Os índios não têm muita tolerância para esse tipo de atitude. Sobretudo os caiapós. Eles não gostam de serem tratados como idiotas. O que me contaram é que o engenheiro tratou as pessoas mal, e foi maltratado”, disse o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro. E acrescenta: “Talvez o que redima os índios, e o que os tem mantido vivos até hoje, seja o fato de não estarem excessivamente acostumados à humildade e à obediência e que ainda conseguem reagir”.

Os índios são contrários à construção da usina de Monte Belo, projeto do governo federal para dar continuidade à expansão da produção de energia elétrica. A resistência dos índios está obstruindo a avaliação do potencial hidrelétrico de quatro bacias da Amazônia, ao dificultar a entrada de técnicos em suas reservas.

A política do governo federal antepõe as questões econômicas e energéticas a uma política indigenista séria. “Quando se trata de índios, tudo é imposto goela abaixo, porque o Estado tem os meios para fazer valer sua opinião, até com o uso da força”, analisa Sydnei Possuelo, sertanista e ex-presidente da Funai.

A empresa Energia Sustentável do Brasil, que reúne Suez, Camargo Corrêa, Eletrosul e Chesf, vencedora da licitação da hidrelétrica de Jirau, anunciou que pretende deslocar em cerca de 9 km a construção da mesma. A empresa alega economia de 1 bilhão de reais e impacto ambiental menor. Para ambientalistas e índios, a mudança requer novos estudos.

Representantes de comunidades indígenas da região do rio Madeira (RO) pediram a intervenção da Procuradoria da República de Rondônia por novas audiências públicas sobre a instalação da usina de Jirau. Uma representação questionando a mudança da localização da hidrelétrica foi protocolada na sexta-feira. As comunidades indígenas argumentam que participaram de quatro audiências públicas para a discussão do projeto de Jirau e Santo Antônio e já haviam entendido e apresentado as reivindicações que consideraram justas. "Agora, se tem mudança, queremos participar de nova audiência para poder explicar para nosso povo", argumentam os indígenas na representação à Procuradoria.

Desde o início da crise na terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, pelo menos 40 conflitos indígenas já pipocaram por vários estados, inclusive fora da Amazônia Legal. A tendência é o acirramento crescer, avaliam organizações indígenas e a própria Fundação Nacional do Índio (Funai). O motivo principal é a expansão das fronteiras agrícolas e o questionamento de direitos conquistados pelas minorias na Constituição, além da ausência do governo em áreas estratégicas, afirmam.

O Conselho Indigenista MissionárioCimi –, por sua vez, vai mais longe ao denunciar que está em curso uma rearticulação de extrema direita, ligada a militares da reserva e a grupos econômicos empenhados em acabar com as reservas. “Querem transformar o índio em camponês pobre ou sem terra, passando por cima de seu direito à cultura”, afirma o assessor do Cimi, Paulo Maldos.

 SUS completa 20 anos. Uma conquista da sociedade brasileira

O Sistema Único de Saúde, o SUS, o maior programa de inclusão social do país completa 20 anos de existência. Hoje, cerca de 140 milhões de pessoas (70% da população brasileira) dependem exclusivamente do SUS como o seu único acesso aos serviços de saúde.

Antes da implementação do SUS, através da Constituição de 1988, tinha acesso à assistência médica apenas o trabalhador com carteira formal. “Aquele que não tinha um emprego regular ou era atendido pelas santas casas ou hospitais filantrópicos, fora as campanhas de saúde pública, ou precisava ir ao mercado de serviços de saúde pagando do próprio bolso para conseguir sua assistência”, comenta a professora e pesquisadora Sarah Escorel, da Fundação Oswaldo Cruz. Segundo ela, até então a saúde não era um direito de todos e nem um dever do Estado. Foi apenas com a implantação do SUS que a saúde passou a ser tratada como um direto de todos e um dever do Estado.

O maior mérito do SUS é o fato de que passou definitivamente a não ser pensada apenas como uma política de governo, mas de Estado, afirma a professora Sônia Fleury Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro. Segundo ela, “o que nós tentávamos fazer, ao construir o SUS, é que ele não dependesse da vontade, que não fosse uma política de governo, mas de Estado. Ou seja, todos governantes são obrigados a cumprir a determinação em relação a quantos recursos precisam colocar em prática”.

Universalização, Integralidade, Descentralização, Equidade e Participação. Princípios do SUS

O SUS como política de Estado instituí alguns princípios até então inéditos na política de saúde brasileira e configuram um sistema totalmente diferente e completamente inovador quando comparado com outros países. O médico e pesquisador da Fiocruz Paulo Gadelha destaca quais são: “O primeiro é o da universalização. O que antes era fragmentado (indigentes ou despossuídos ficavam com a filantropia, outros ficavam com a previdência) o sistema passa a unificar. O segundo é o da integralidade, de se trabalhar com todo o conjunto de ações necessário para se cuidar da saúde. O terceiro princípio é a descentralização, no sentido de atribuir a cada esfera da Federação um papel que implicava que o sistema, sendo único, era trabalhado através das pactuações, respeitando o princípio federativo, ao mesmo tempo definindo o âmbito de atuação de cada esfera”.

“Outro princípio fundamental, comenta ele, que cada vez mais tem sido trabalhado, é o da eqüidade, no sentido de que se trata de perceber as diferenças, do ponto de vista da produção e da determinação da saúde, dos perfis de saúde das populações e dos territórios, e de se ter ações que respondam diferentemente a essa demanda, principalmente naqueles casos em que não se pode aceitar a existência de condições de saúde que são perfeitamente evitáveis com os recursos hoje disponíveis”.

Há ainda um outro princípio importante que é o da participação. A formação de conselhos de saúde e das conferências de saúde como instâncias deliberativas.

Com o objetivo de discutir a situação atual do SUS, a partir dos 20 anos de sua história, a revista IHU On-Line dessa semana intitulada ‘SUS: 20 anos de cura e batalhas’ conversou com alguns especialistas e profissionais da área da saúde. É unânime entre eles o fato de que o SUS significou uma grande transformação nas políticas de saúde do país em que pesem todos os problemas.

O médico e escritor – mais conhecido como escritor -, Moacyr Scliar, define bem o sentimento aparentemente paradoxal do SUS: "Ruim com SUS, pior, mas muito pior, sem ele", diz. Segundo ele, “no balanço final, os benefícios do SUS ultrapassam em muito, mas em muito mesmo, as suas carências”. Para o escritor, “é o sistema de um país pobre, portanto tem muitas carências. Mas é mais igualitário que o sistema americano, por exemplo, que usa alta tecnologia, mas deixa milhões de pessoas sem qualquer assistência”.

Porém, engana-se quem pensa que o SUS é apenas para os pobres. Na opinião do professor Eugênio Vilaça Mendes, “segmentos sociais incluídos fazem uso regular de certos serviços, especialmente aqueles mais custosos, como medicamentos de prescrição em caráter excepcional, transplantes de órgãos, controle de HIV/Aids etc., bem como de outros bens públicos, como os serviços de vigilância em saúde”. A opinião é compartilhada por outros especialistas.

Segundo o professor da Unicamp Gastão Wagner, membro de corpo editorial das revistas Trabalho, Educação e Saúde e Ciência & Saúde Coletiva, “todos os brasileiros se utilizam do SUS, de modo direto ou indireto”. Segundo ele, “vale ressaltar que mesmo os brasileiros de classe média, ou com trabalho regular em grandes empresas e da elite – os 25% – também se valem de serviços do SUS em várias situações: transplante, tratamento de Aids, de transtornos mentais graves, câncer, terapia intensiva, entre outras”.

Na opinião do professor, “os privatistas consumados, hipocritamente, quando se referem ao corte em gastos públicos, não reconhecem esta dimensão coletiva do SUS. Apenas 25% dos brasileiros têm acesso a serviços privados de saúde. 75% somente contam com o SUS para realizar atenção à saúde: da simples consulta ao transplante de órgãos”. O SUS é um programa solidário e generoso, destaca o pesquisador da Fiocruz Paulo Gadelha

O curioso é que quem mais critica o SUS são aqueles que não utilizam. De acordo com Eugênio Vilaça Mendes, “pesquisa de opinião feita pelo Conass mostrou que 45,2% dos usuários exclusivos do SUS acham que o sistema funciona bem ou muito bem; já dos não-usuários, apenas 30,3% o avaliam como funcionando bem ou muito bem. O que permite concluir que quem avalia mal o SUS são as pessoas que não o utilizam”. E são aqueles que menos utilizam o SUS ou o utilizam em situações especiais, muita delas nas quais os planos de saúde privada não cobrem determinados exames é que encarecem o sistema, ou ainda quando o SUS realiza desembolso para instituições de saúde privadas.

Na avaliação de Vilaça Mendes, “o SUS foi concebido como um sistema público universal, à semelhança dos sistemas de saúde da Europa Ocidental e Canadá, mas que, na prática social, vem sendo implantado como um subsistema público de um sistema de saúde segmentado, que convive com dois subsistemas privados: o subsistema de saúde suplementar e o subsistema de desembolso direto”. Segundo ele, “os dados do Relatório Mundial da Saúde da OMS de 2008, recentemente publicados, mostram que o SUS consome apenas 44,1% dos gastos em saúde no país e os subsistemas privados, 55,9%. Assim, o sonho da universalização vem se transformando no pesadelo da segmentação”, afirma.

O subfinanciamento acontece, segundo o professor, por uma razão é simples: “os segmentados sociais melhor posicionados na estrutura social retiram-se, pelo menos parcialmente, do subsistema público, contratando planos privados e, por conseqüência, ele tende a se transformar num nicho de pobres. Infelizmente, nas sociedades com alto grau de exclusão, os pobres têm dificuldades de articular organicamente seus interesses e de vocalizá-los nos grandes centros decisórios. Isso permite manter subfinanciado o sistema público, como é o caso do SUS”.

Mesmo assim, destaca Vilaça Mendes, há avanços a comemorar nesses 20 anos de SUS. Em geral, diz ele, “houve um incremento do acesso dos brasileiros à saúde; a atenção primária à saúde melhorou muito, especialmente, por meio do Programa de Saúde da Família; e há bons resultados nos programas de imunização, nos transplantes de órgãos, no programa de controle do HIV/Aids e outros, onde o SUS tem desempenho exemplar no cenário mundial”.

Os limites do SUS e a sua origem

O fato do SUS apontar avanços significativos na política de saúde brasileira, não significa que o mesmo não esteja imune a críticas. Pelo contrário, os especialistas apontam que há muito que se melhorar. Segundo Gastão Wagner, “se por um lado, o sistema expandiu o atendimento, por outro, deixa a desejar em qualidade e humanização”. O professor destaca ainda, o risco da mercadorização. Segundo ele, “a luta entre o interesse clientelista, corporativo, empresarial e o atendimento às necessidades de saúde transferiu-se para dentro do SUS. Há uma tentativa permanente de reapropriação privada do recurso público”.

Paulo Gadelha, destaca a limitação do financiamento do sistema. Segundo ele com a retirada da CPMF, “essa questão voltou a ser central”. O professor comenta ainda como desafios os processos de valorização e formação dos quadros de pessoal do SUS, a questão da acessibilidade e humanização do atendimento. Segundo ele, “é intolerável, inaceitável, no atendimento, num posto de saúde, num hospital, numa emergência, independente da questão dos recursos, a falta de comprometimento, de acolhimento e de compromisso social. A população deve ser atendida com a maior dignidade”, comenta.

Muito dos limites do SUS circunscrevem em função do contexto em que foi gestado. Segundo Sarah Escorel, da Fundação Oswaldo Cruz, viúva de Sergio Arouca, um dos grandes nomes na construção e implantação do SUS, se trata de “um sistema muito jovem, tem 20 anos, ainda não alcançou sua maioridade. E foi implementado num período muito difícil, porque na década de 1990 houve uma série de políticas de ordem econômica, de orientações de nossos credores internacionais, no sentido de diminuição do gasto público, de diminuição do Estado e da responsabilidade estatal. Trata-se de um sistema constituído a partir de uma herança que devia ser superada num momento em que não foram feitos investimentos necessários para essa superação”, comenta ela.

A professora Sônia Fleury Teixeira, destaca que a criação do SUS “se deu dentro de um contexto econômica e ideologicamente desfavorável, quando predominou a ideologia liberal nos governos. Então, o SUS não é só a proposta da reforma sanitária. Ele é muito menor do que a própria reforma, que pensava em outras questões além da atenção à saúde, que via na saúde um projeto civilizatório, um projeto de sociedade. A reforma sanitária pensa a saúde como um projeto de sociedade solidária, que seja capaz de ser generosa. E o SUS espelha isso, mas também as dificuldades que foram encontradas, porque não é fácil se desenhar um projeto de reforma sanitária e criar um sistema único e público de saúde”.

Segundo a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas, “viemos de uma situação na qual 70% dos leitos hospitalares já eram privados. Então, o SUS espelha essas contradições entre um projeto publicista da reforma sanitária e a necessidade de ser compatível com uma realidade na qual o setor público não tinha nem a maior capacidade técnica nem o maior número de camas. O SUS representa uma proposta da reforma sanitária adaptada às contingências vividas desde sua criação”, destaca.

O SUS a bem da verdade é uma conquista do movimento social brasileiro, do movimento da reforma sanitária, que segundo Gastão Wagner, “funcionou como intelectual orgânico, trazendo para o Brasil os conceitos, as diretrizes e a experiência positiva e negativa dos sistemas públicos (socializados) de saúde de vários países do mundo. Os ativistas do movimento funcionaram também como tribunos da causa popular contra a perversidade arraigada da elite brasileira, que ameaça ‘arrancar o revólver’ toda vez que alguém menciona a distribuição de renda ou políticas de bem-estar social”.

Emenda 29

Apesar de todos os avanços, e do SUS se revelar como a política mais inclusiva do Estado brasileiro – 70% da população brasileira dependem exclusivamente do SUS como o seu único acesso aos serviços de saúde – , o mesmo padece da ausência de financiamento estável e regular. Nesses dias, se trava um intenso debate acerca da emenda 29 – proposta que amplia de 7% para 10%, até 2011, a vinculação da receita corrente bruta da União para a Saúde.

Segundo o ministro José Gomes Temporão, “é inconcebível que, aos 20 anos de idade, o SUS ainda não disponha de uma fonte de recursos que seja estrutural, carimbada, definitiva, que permita ao sistema de saúde cumprir, nos próximos anos, o que está previsto na Constituição brasileira: saúde universal, de qualidade, com eficiência, atendendo a todos os cidadãos brasileiros”.

Para o ministro, é uma profunda ignorância os que afirmam que o que falta para saúde não é dinheiro, mas boa gestão. Segundo ele, “para ser mais polido, uma desinformação”. “O senador [uma referência ao senador Francisco Dornelles (PP-RJ), critico da proposta da emenda 29], deve gastar com o plano privado de saúde para ele e a família 5 a 10 vezes mais do que o sistema público gasta com cada paciente. E a assistência pública é muito mais abrangente e complexa. Vivemos uma incoerência. A assistência é universal, mas gastos públicos em saúde representam 47% do que é movimentado no setor. O sistema privado atende menos e investe muito mais”, afirma o ministro.

Lula em desacordo com o seu ministro, afirmou que “não partirá do governo e não haverá da parte do governo qualquer iniciativa para que o Congresso aprove qualquer imposto”. Referia-se à Emenda Constitucional 29, que já passou no Senado e impõe ao governo desembolso de R$ 27 bilhões do Orçamento para a área da saúde. E avisou: “Só é possível você aumentar despesa se você aumentar receita”; O governo perdeu a CPMF”, anotou. “Estamos trabalhando sem CPMF. Agora, a única coisa que eu acho é que se o Congresso quer regulamentar a Emenda 29 e aumentar o dinheiro para a saúde é importante que os companheiros pensem como aumentar o dinheiro para a saúde sem ter uma nova receita”.

O filme $.O.$. Saúde de Michael Moore e o SUS brasileiro

A propósito dos 20 anos do SUS, sugerimos a leitura do comentário publicado na revista do IHU n. 260, sobre o filme Sicko – $.O.$. Saúde de Michael Moore que foi exibido recentemente nas capitais brasileiras e que pode ser encontrada nas locadoras. A questão proposta pelo diretor é: “Por que nós [os EUA], o maior país ocidental industrializado, não temos uma cobertura gratuita e universal do sistema de saúde?”. Comentando o filme, a professora e pesquisadora Stela Meneguel, do PPG em Saúde Coletiva da Unisinos, afirma: “Considero este filme didático: ajuda-nos a fazer a defesa do SUS (Sistema Único de Saúde), desmistifica algumas críticas, tais como as filas de espera, a dificuldade em fazer exames complementares, a demora para receber tratamentos de maior complexidade e a pretensa remuneração aviltante dos profissionais de saúde”.

Segundo ela, “no Brasil, o SUS foi viabilizado em mais de dez anos de luta pelo movimento da Reforma Sanitária, que congregou amplos setores da sociedade civil organizada e dos serviços de saúde. Até então, grandes parcelas da população (agricultores, ambulantes, empregados domésticos) não tinham acesso à atenção à saúde”. Destaca ainda que “o SUS é responsável, além da assistência médica, pelo desenvolvimento de programas de educação em saúde; pelas ações de vigilância sanitária e epidemiológica; e pela atenção integral e universal da população em todos os níveis de complexidade”.

A professora pergunta: “Em que país o Estado oferece assistência integral para toda a população portadora da HIV/AIDS, câncer e problemas renais crônicos que exigem hemodiálise? Realiza a maioria dos procedimentos de alta complexidade, como as cirurgias cardíacas, internações psiquiátricas, transplantes de órgãos? Não é com certeza os Estados Unidos de Bush e de Nixon, onde os políticos comprometidos com lobbies da indústria farmacêutica e seguradoras de saúde têm sistematicamente minado a discussão deste tema, é o que nos diz Michael Moore em S.O.S saúde”.

O final do filme é surpreendente, comenta Stela Meneguel: “A equipe de filmagem realiza uma quixotesca viagem a Cuba acompanhada de um grupo de americanos que foram lesados pelo Estado ou pelas seguradoras. A idéia era irem a Guantánamo e usufruírem a atenção prestada pelo sistema de saúde penitenciário. Claro que não conseguem, porém são amistosamente acolhidos pelo povo cubano, recebem atenção médica gratuita e tratamento de ‘hermanos’ pela solidária corporação de bombeiros de Havana. Sem dúvida, ponto para Cuba, para Moore e para os países que investem na saúde como direito da população e dever do Estado!”.

Nanotecnologias. Progresso ou aventura trágica?
 
Ao longo da história da humanidade alguns acontecimentos provocaram rupturas profundas na sociedade. A Revolução Industrial ao final do século XVIII foi um desses acontecimentos. Essa revolução pulverizou a forma de se conceber o mundo e de se relacionar com ele. Agora, encontramo-nos diante de um momento da mesma envergadura, ou ainda mais “revolucionário” àquele da Revolução Industrial. Trata-se da Revolução Tecnológica que no seu interior gestou duas outras revoluções simultâneas: a biotecnológica e a nanotecnológica. Essas revoluções apresentam-se como uma ruptura ao momento anterior.
 
As implicações das nanotecnologias na sociedade foi o tema do Simpósio Internacional ‘Uma sociedade pós-humana? Possibilidades e limites das nanotecnologias’ promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos (IHU). O mesmo tema foi abordado na revista do IHU n. 259, 26-05-2008, intitulada ‘Nanotecnologias. Possibilidades incríveis e riscos altíssimos’ e esteve presente nas ‘Notícias do Dia’ ao longo da última semana.

Reportamo-nos – na análise da conjuntura – a esse tema por considerá-lo da maior importância para todos aqueles e aquelas que desejam acompanhar e compreender os acontecimentos que são decisivos sobre os rumos da humanidade. Ainda mais. O tema é relevante considerando-se a fragilidade com que tem sido abordado pelos movimentos sociais. A impressão que se tem é que o movimento social ainda não se deu conta desse novo acontecimento e está preso ao paradigma da Revolução Industrial.
 
O tema da nanotecnologia assemelha-se ao da biotecnologia. Porém, o seu raio de ação e implicação é superior ao da biotecnologia, conteúdo que já estamos mais familiarizados. Hoje, todas as grandes corporações transnacionais investem altíssimos recursos nas pesquisas de nanotecnologia e em patenteamento de novos produtos. Todos os ramos produtivos estão sendo impactados: informática, automotivo, fármacos, alimentação, têxteis, esportes, indústria militar e espacial. Estamos diante de possibilidades incríveis e riscos altíssimos, como destaca a revista do IHU, uma vez que criadas, as nano-partículas ou nano-estruturas se instalam no corpo humano, no meio ambiente, nos alimentos e nos produtos.
 
As empresas prometem maravilhas com as nanotecnologias. Como destaca Gilberto Dupas, “os patronos dessas técnicas garantem, para um futuro próximo, nanorobôs  circulando pelo sangue humano para reparar células, capturar micróbios ou combater cânceres; todo o acervo das bibliotecas mundiais contido num dispositivo do tamanho de um torrão de açúcar; materiais dez vezes mais resistentes e cem vezes menos pesados que o aço; e armas e aparelhos de vigilância milimétricos e potentíssimos”. “Anunciam – continua ele – a implantação de nano chips no organismo humano para substituir ou adicionar células ou competências, abrindo espaço para uma primeira geração de pós-humanos”. No limite, diz Dupas, “com a completa regeneração celular prometem a imortalidade”.
 
Eric Drexler, cientista renomado, considerado o “pai” do conceito nanotecnologia e conferencista do Simpósio, destaca que “os benefícios potenciais são enormes, em todas as áreas em que seres humanos possam fazer coisas, ou usar coisas que tenham feito: a perspectiva é melhorar muito produtos com grandes reduções de custos, tanto em termos financeiros quanto em se tratando de impacto ambiental”. Esse, aliás – a possibilidade de frear o aquecimento global -, é um dos aspectos sedutores que envolvem o discurso das nanotecnologias. Drexler é otimista e não considera um exagero essa possibilidade. “Sistemas de grande escala desse tipo [a partir das nanotecnologias] podem ser usados para remover CO2 e outros gases estufa da atmosfera a uma taxa que removeria as emissões do último século em 10 anos”, diz ele.
 
Porém, há um tema ainda mais fascinante relacionado às nanotecnologias. Aquele que promete o “turbinamento” ou reprogramação da pessoa humana. Ronda o imaginário daqueles que lidam com as nanotecnologias a idéia de que o humano – a nossa estrutura corpórea e biológica – se tornou obsoleta e que chegou o momento de um realizar download em nós mesmos com o objetivo de tornarmo-nos mais ágeis, inteligentes, produtivos e eficazes. A idéia é simples: se podemos melhorar a nossa performance porque não fazê-lo?

Como destaca Maria Paula Sibilia, a percepção é de que o capitalismo do século XXI já pensa o “corpo humano como um outro tipo de artefato. Um dispositivo que não é mais mecânico à moda antiga, porém informático”. Segundo ela, “os corpos e subjetividades que a sociedade contemporânea precisa para poder funcionar com maior eficácia não são os mesmos que necessitava o capitalismo industrial do século XIX e da primeira metade do XX”.
 
As nanotecnologias apresentam-se como um novo paradigma, como ruptura a tudo o que conhecíamos. Descortina-se diante de nós um mundo imaginável do qual não temos absolutamente nenhuma segurança no que irá resultar.

Possibilidades incríveis e riscos altíssimos
 
Afinal o que é a nanotecnologia? O conceito de nanotecnologia está associado à medida ‘nano’ que significa a bilionésima parte do metro. A idéia central é construir novos materiais com novas propriedades físicas, biológicas e químicas em escala nano com o objetivo de produzir coisas cada vez menores, miniaturizados, mais potentes e eficientes. Quando aplicado à indústria o seu potencial é revolucionário porque significa redução de custos e aumento da produtividade. Hoje já se fala em computadores pessoais com 1 bilhão de processadores e sistemas de energia solar eficazes e de baixíssimo custo. As nanotecnologias já estão presentes numa série de produtos que utilizamos e consumimos, mesmo sem conhecimento, e recebem cada vez mais recursos para pesquisas. No momento, é a última fronteira de pesquisa em disputa pelas grandes corporações.

Mas tudo isso é pouco perto do que prometem as nanotecnologias. Segundo Eric Drexler que popularizou o termo nanotecnologia nos anos 80, através do livro Engines of creation (Motores da criação), as nanotecnologias dizem respeito a “habilidade dos seres humanos para criar e construir estruturas complexas com precisão atômica – estruturas nas quais cada átomo tem um lugar definido”. De acordo com o seu raciocínio, “isso leva a máquinas em nanoescala, chamadas de ‘nanosistemas produtivos’, que utilizam informação digital para dirigir um processo de fabricação que combina moléculas simples para criar produtos atomicamente precisos”.

Em síntese, a manipulação dos átomos poderia em tese construir e reconstruir absolutamente tudo. Poderíamos assim criar mini-robôs ou nanorobôs do tamanho de uma célula que teriam uma utilidade sem precedentes, como por exemplo, na medicina, uma vez que com grande precisão poderiam circular livremente pelo corpo humano levando medicamentos ao lugar desejado evitando tratamentos dispendiosos e com efeitos colaterais. Ainda mais, em tese, células danificadas poderiam ser substituídas ou regeneradas. Até mesmo neurônios poderiam ser substituídos, como por exemplo, no combate ao mal de parkinson.

Porém, há um outro lado preocupante. As nano-partículas ou nano-estruturas uma vez criadas podem espalhar-se pelo meio ambiente, pelo corpo humano, nos alimentos apresentando problemas de toxidade como foi atestado nesses dias com um dos produtos ‘estrela’ das nanotecnologias, os nanotubos de carbono.

O nanotubo de carbono trata-se de um material leve como plástico, mas resistente como aço e de múltiplas aplicações, de veículos passando por remédios à eletrônica avançada. Agora, estudos indicam que há indícios evidentes de que esses nanotubos de carbono possam vir a causar câncer.

Uma sociedade pós-humana?

A nanotecnologia, a robótica, a biotecnologia e as tecnologias da informação em sinergia possibilitam o pós-humano, ou seja, a idéia de que a natureza humana deixou de ter limites fixos e rígidos. Anuncia-se uma mutação antropológica: a possibilidade da hibridização e da cyborgização do humano. Podermos nos tornar homens e máquinas ao mesmo tempo. Segundo o físico e cosmólogo Luiz Alberto Oliveira, conferencista no Simpósio Internacional do IHU, essa sinergia das novas tecnologias “permitem prever uma sociedade fundada não em uma previsibilidade absoluta, mas, ao contrário, em uma indeterminação, que equivale a uma abertura. É como se cada vez mais fosse possível acumular, no presente, muitas linhas de futuro, muitas linhas de abertura para o inédito e o inovador. Essa é uma situação revolucionária”, diz ele. “Só que não é mais uma revolução que sucede num momento de crise, num momento de espasmo. Ao contrário, é uma revolução que se tornou constante. Essa é a nossa crise atual, a crise de uma mutação”, afirma.

Para o físico, “tudo aquilo que entendíamos que era o mundo, a vida, a sociedade e o indivíduo começa a entrar em uma rota de indeterminação. Ou seja, nós agora somos capazes de intervir nas próprias bases que nos definem enquanto seres materiais, seres vivos e seres cognitivos”. “Nesse sentido, diz ele, parece legítimo falar que nos encaminhamos para uma sociedade pós-humana. Não que o humano terá deixado de existir, mas, ao contrário, será diversificado, multiplicado, pluralizado”.

A novidade comenta o professor, é que “estamos sendo não apenas os usuários, mas estamos também sendo usados pelos objetos técnicos. A técnica agora é capaz de operar sobre nós. Somos matéria-prima dessa ação técnica. Isso significa que a forma humana está em vias de ser redesenhada para alguma coisa que nunca experimentamos. Esse temor do inédito é a marca que faz com que todo o mundo se interrogue, com grande dúvida e incerteza, acerca das novas tecnologias e das potencialidades enormes que elas estão abrindo para nós”.

De acordo com Maria Paula Sibilia, “agora é possível ‘reprogramar’ as características e funções do corpo humano, abrindo um horizonte para além do que costumávamos conhecer como ‘humano’. Os limites dessa definição estão sendo desafiados, com pesquisas que se propõem a ‘desprogramar’ as doenças e o envelhecimento, por exemplo, visando a atingir a imortalidade. E, assim, inaugura-se uma era que alguns denominam pós-orgânica, pós-biológica ou, inclusive, pós-humana”.

Segundo ela, “estes sujeitos, que hoje se definem como ‘pós-humanos’ devem ser constantemente ‘aditivados’ com adereços e recursos técnicos capazes de ultrapassar seu limitado equipamento orgânico original, são mais úteis ao projeto de mundo no qual vivemos”. Para a pesquisadora, “essa vontade de exercer um controle total sobre a natureza em geral e sobre o corpo humano em particular tem uma raiz fortemente fincada no projeto científico que fundou a era moderna”.

Maria Paula Sibilia considera que anteriormente “havia algo além, seja da ordem do sagrado, do divino ou do acaso natural, que não podia (e nem devia) ser submetido aos desígnios meramente humanos. O segredo da vida, por exemplo, estava fora do domínio humano — e acreditava-se que assim permaneceria para sempre, porque era assim que as coisas eram e como elas deviam ser”. Agora, diz ela, “a partir desta ruptura, esses limites estão sendo desafiados e há uma promessa de ultrapassagem. Agora sim podemos, ou logo poderemos exercer um controle total sobre a natureza e o corpo humano, assumindo (ou não) todos os riscos que esse projeto ‘fáustico’ pode implicar”.

“Éramos frutos do acaso e das probabilidades, uma espécie de loteria biológica que nos protegia contra a arbitrariedade. A partir de agora, terceiros ou nós próprios poderemos nos determinar biologicamente e nos reconstruir (ou construirmo-nos diferentes)”, afirma Gilberto Dupas, seguindo raciocínio semelhante ao da professora. Progresso ou aventura trágica?, pergunta ele.

Para Dupas, em outra entrevista no sítio do IHU “o problema é que a evolução das tecnologias, ao contrário do que se pensa, nunca é neutra, pois acaba determinando procedimentos, comportamentos, padrões de consumo, direções”. O pesquisador destaca que “é uma discussão semelhante à discussão dos transgênicos. Os transgênicos aparentemente vieram para ficar. Eles, basicamente, causam vários danos possíveis, que não foram devidamente pesquisados, mas também trazem algumas vantagens. No entanto, afetam também a lógica biológica das sementes e da herança biológica natural de uma forma que nós não conhecemos direito. O famoso princípio da precaução, que deveria ser referencial para as pesquisas, não é feita, porque a maioria dos pesquisadores envolvidos nelas estão contratados pelas grandes corporações. Não são pesquisadores de universidades que têm aquelas referências éticas que obrigam a levar em consideração uma série de características pelas quais a pesquisa precisa se nortear”.
 
 De Homo Faber para Homo Creator. A ameaça do nosso tempo
 
 “As nanotecnologias constituem o desafio mais recente e mais forte para a imagem do humano que interiorizamos por séculos”, afirma a filósofa italiana Elena Pulcini. A ameaça de nossa época é o de que “o homem não é mais capaz de controlar o que ele mesmo produziu, quando sofre os efeitos imprevistos e indesejáveis daquilo que construiu, tornando-se fatalmente vítima dele próprio”.

Segundo a filósofa, “a técnica em todas as suas manifestações, produz efeitos ambivalentes, ou seja, riscos e benefícios. Não faz sentido, portanto, posicionar-se rigidamente a favor ou contra. Não faz sentido a contraposição entre entusiastas e apocalípticos, porque esta divergência descamba, em ambos os casos, numa desresponsabilização, seja porque se pensa que a técnica resolverá tudo (também os males que ela mesma produz), seja porque se teme que ela destruirá tudo e nos levará à catástrofe”.

A ambivalência das nanotecnologias, segundo Elena Pulcini está no fato de que por um lado podemos constatar benefícios (possibilidades de diagnóstico e terapêuticas no campo médico, produção de materiais dotados de excepcional resistência e durabilidade, desenvolvimento de processos produtivos menos poluentes para o ambiente etc.), mas, por outro, há também riscos (riscos para a saúde, devidos à difusão das nanopartículas no ambiente, riscos de invasão e controle de nossa privacidade, para não falar da enorme potenciação possível na construção de armas de destruição em massa etc.).

A professora italiana comenta que o grande problema é de que este mundo cada vez mais nos escapa das mãos, no sentido de que a nossa capacidade cognitiva não acompanha a velocidade das transformações. De acordo com ela, o sujeito foi levado a uma condição de subordinação à técnica. Segundo a filósofa italiana na nova ‘era da técnica’ assistimos à emergência do Homo faber em contraponto ao Homo creator . O Homo faber é aquele que faz, que fabrica, que produz, servindo-se da técnica para satisfazer as próprias necessidades. O Homo faber traduz-se como o senhor todo-poderoso, criado à imagem de Deus onipotente, que tudo domina e subordina. Já o Homo creator – potencializado pelo desenvolvimento ilimitado da técnica, especialmente das nanotecnologias -, não se limita a transformar a natureza, mas é capaz de (re)criar a natureza, de introduzir no ambiente produtos e processos totalmente novos alterando tudo o que até então conhecíamos.

Sendo assim, diz ela, “o Homo faber representa a própria imagem do homem que, desde suas origens, fabrica e constrói artificialmente o próprio mundo através de instrumentos, utensílios, máquinas tendentes a melhorar suas condições de vida, a permitir-lhe não só a sobrevivência, mas até mesmo a possibilidade de emancipar-se da natureza, produzindo uma ‘segunda natureza’, não hostil, porém mais familiar e amiga. O problema nasce, no entanto, quando este fazer, este fabricar perde todo sentido e finalidade, impelindo-o a um agir coativo, segundo o princípio que ‘o que se pode fazer se deve fazer’”. Aqui surge o Homo creator. 

Para Elena Pulcini, o momento singular que estamos vivendo exige uma nova ética que dê conta do caráter radical das transformações. Precisamos, segundo ela, “assumir a nossa condição de pessoas humanas imperfeitas, vulneráveis e frágeis – a condição de que precisamos do outro, de que o outro mais do que importante para mim, é necessário”. Segundo ela, “pela primeira vez somos todos iguais na debilidade, antes de toda diferença e até de toda desigualdade. Estamos todos expostos aos mesmos riscos e submissos a um destino comum”.

Pulcini propõe uma ética da responsabilidade que se baseie na vulnerabilidade. Ou seja, “é a possibilidade de perda do mundo e da própria vida que pode impelir os homens a reconhecerem sua comum unidade e a agirem em comum. Para que isso aconteça, é, todavia, preciso superar a cisão ‘prometeica’ entre produzir e sentir, entre fazer e imaginar e adquirir a capacidade de pensar-se como sujeito vulnerável; vulnerável paradoxalmente em virtude do próprio vertiginoso poder”. Portanto, diz ela, “a responsabilidade deve ter um fundamento emotivo, que emerja da percepção mesma da própria debilidade e do amor pelo mundo”.

“Não podemos mais deixar a ciência entregue a si mesma, separada da ética, da política, do direito. Devemos, sim, criar uma interação sempre mais eficaz entre os saberes especializados e o grande público, para podermos estar cônscios daquilo que está de tempos em tempos acontecendo e expressar as nossas legítimas inquietudes. Nós estamos diante de um desafio terrível porque, como Hans Jonas havia entendido muitos anos atrás, por causa do nosso ilimitado poder, podemos expor a humanidade e o mundo vivente ao perigo de uma irreparável degradação, senão à extinção. Devemos, portanto, encontrar os fundamentos de uma ética do futuro que proteja o mundo dos efeitos indesejados do nosso poder”, afirma a filósofa.

Pós-humano e pós-humanismo. Outra interpretação

As preocupações da filósofa Elena Pulcini foram também manifestadas por Roberto Marchesini, professor da Scuola di Interazione Uomo Animale da Itália – estudioso de ciências biológicas e de epistemologia que esteve, assim como a filósofa, no Simpósio Internacional promovido pelo IHU. Porém, Marchesini é mais otimista e prefere falar em pós-humanismo e não em pós-humano.

Marchesini parte de uma crítica ao humanismo: “O humanismo habituou-nos a pensar o homem como medida e síntese do mundo, ou seja, institucionalizou uma visão antropocêntrica que não admite alteridade e que pressupõe uma prevalência da racionalidade humana sobre tudo”. Segundo ele se é verdadeiro que “o humanismo tem sido seguramente uma grande conquista no caminho do pensamento do homem, porque sublinhou a importância da história e do fazer-se humano”, destaca, no entanto, que o mesmo “deu uma conotação problemática ao saber e, conseqüentemente, à ciência, interpretando-os como domínio sobre o mundo”. “Na realidade, diz o professor, o saber não nos torna donos do mundo, ou seja, o saber é um ato solidário com o que é criado e somente se for reconhecido como tal faz realmente crescer o homem. A idéia humanista, se levada ao extremo, leva a considerar o homem como o ponto final dos processos naturais, uma espécie de ponto ômega de disjunção do criado”.

Nesta perspectiva, Roberto Marchesini, prefere falar em pós-humanismo como novo patamar capaz de valorizar os débitos que contraímos com o não-humano para construir a nossa condição. Para ele, “o pós-humanismo parte da consciência que o homem não é suficiente para explicar as qualidades humanas (vale dizer que estas últimas não são simples emanações do homem)”. “A condição pós-humana é, no entanto, a recusa de uma deriva solipsista que nos conduziria a ver-nos sós no universo. Se realmente consideramos o universo como um grande sodalício de entidades que intercambiam perspectivas, chegamos a ver como a hibridação enriquece o humano e não o aniquila”, destaca o professor.

O conhecimento para ele também é humildade, sabedoria, respeito, responsabilidade, ligação com os outros. “Não se pode imputar uma culpa à ciência, e sim ao paradigma filosófico no qual ela opera. Amo a ciência porque amo o que é criado, encho-me de estupor quando descubro alguma coisa ou venho ao conhecimento de algo, porque, ainda uma vez, sinto-me pequeno diante do mundo”, diz ele e conclui: “O problema não está nas tecnologias, mas na incapacidade do nosso tempo de ter um padrão filosófico adequado às potencialidades aplicativas que estão emergindo”.

Ao problema e resposta de um ‘padrão filosófico’ que oriente o conjunto da humanidade neste novo momento epocal, falou o filósofo Luiggi Perissinoto, professor da Università Ca’ Foscari Venezia, na Itália. Segundo ele, “não temos categorias mentais suficientes para interpretar o que elas [a as nanotecnologias] estão trazendo. Nosso maior desafio está voltado para o que podem causar em nós e não em como podemos utilizá-las”, destaca ele.

Para Perissinoto, “precisamos pensar a técnica, mais do que ter medo ou exaltá-la. Quando surgem coisas novas, em diferentes categorias, sempre nos perguntamos: até onde deveríamos ir? Ou: o que não deveríamos fazer no campo tecnológico? (esta tendo uma visão moral mais restrita). E também: o que é tecnicamente possível que se faça? (ou seja, experimentar para ver no que vai dar)”. O professor destacou que observa cinco abordagens da filosofia no confronto à questão da técnica: a rejeição, a exaltação, a subvalorização, a ontologização – que pretende dar um fundamento filosófico à técnica – e, por fim, a estranheza. Para Luiggi Perissinoto, a contribuição que a filosofia pode atualmente dar é a de manter viva a visão sobre a técnica. “Caso percamos isto, a técnica terá grande potência, mas estaremos impotentes em relação a ela”, diz ele.

 

Cumbre de la FAO en Roma / Crisis Alimentaria

Comunicado de prensa conjunto de Acsur-Las Segovias, Attac, COAG, Ecologistas en Acción, Enginyeria Sense Fronteres-Catalunya, Entrepueblos, Plataforma Rural, SETEM, Veterinarios Sin Fronteras, Xarxa de Consum Solidari
 
*La Ronda de Doha de la OMC no resuelve la Crisis Alimentaria Global: la Sociedad Civil exige soluciones reales*
 
Hoy, 3 de junio de 2008, más de 240 ONGs, organizaciones agrarias, sindicatos y movimientos sociales de 50 países, promovido por la red “Nuestro Mundo No Está En Venta”, han enviado una carta contundente al Director General de la Organización Mundial de Comercio, Pascal Lamy, en contra de su intención de concluir la Ronda de Doha como “solución a la crisis alimentaria”.

El mensaje apunta que “las negociaciones comerciales de la Ronda de Doha no abordan los desafíos más importantes que enfrenta el sistema alimentario mundial, entre los que se cuentan el cambio climático, el agotamiento de los recursos naturales, la cuadruplicación de los precios del petróleo, la ausencia de competencia en los mercados mundiales de productos básicos, la especulación financiera y la expansión acelerada de la producción de agrocombustibles.”
 
Con motivo de la Conferencia sobre Seguridad Alimentaria de la Organización de Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación (FAO) en Roma, y la reunión anual de la OCDE, los firmantes del Estado español han remitido la carta a la Ministra de Medio Ambiente y Medio Rural y Marino, Elena Espinosa, y al Ministro de Comercio, Miguel Sebastián, diciendo que la respuesta a los aumentos de los precios alimentarios no consiste “en profundizar la desregulación de la producción y el comercio de alimentos”. El mensaje también ha sido enviado al Banco Mundial, el Fondo Monetario Internacional, la OCDE, la FAO y el Secretario General de la ONU, Ban Ki-Moon.[1]
 
La carta sostiene que “la incapacidad de manejar la crisis alimentaria actual es una muestra del fracaso tras tres décadas de desregulación de los mercados agrícolas. Ni la Ronda de Doha de la OMC, ni otros tratados de libre comercio bilaterales y regionales que se están negociando actualmente podrán resolver la crisis alimentaria, porque la liberalización del comercio ha socavado la capacidad de un número de países para alimentarse a sí mismos”.
 
“Consideramos que la Ronda de Doha agravará la crisis volatilizando aún más los precios de los alimentos, incrementando la dependencia de los países en desarrollo en las importaciones, y fortaleciendo el poder del agronegocio multinacional en los mercados agropecuarios y alimentarios”, señalan las organizaciones firmantes y reivindican:
 
1. Los gobiernos y las comunidades necesitan tener una gama de herramientas a su disposición para construir sistemas alimentarios y agropecuarios resistentes, aptos para enfrentar los desafíos que se avecinan: reforma agraria y políticas que acrecienten la soberanía alimentaria, estimulen los mercados locales y apoyen la agricultura
 ecológica de pequeña escala.
 
2. La volatilidad de los precios de los productos agrícolas tiene que ser resuelta mediante políticas y acciones encaminadas a prevenir las crisis alimentarias y garantizarles a los pequeños productores rurales ingresos estables, seguros y justos. Es necesario restablecer reservas de alimentos bien administradas.
 
3. Los gobiernos deben crear redes de seguridad y sistemas públicos de distribución de alimentos para evitar hambrunas, y brindarle apoyo financiero a los consumidores más pobres a fin de que éstos puedan comer, utilizando la mayor cantidad de recursos disponibles.
 
4. Una reforma del sistema de ayuda alimentaria para que se compren alimentos producidos localmente.
 
5. La no liberalización del comercio en la OMC, ni en otras negociaciones comerciales bilaterales o regionales.
 
Al mismo tiempo se ha enviado a los Gobiernos reunidos en Roma la “Declaración de la sociedad civil sobre la emergencia alimentaria mundial: ¡Que no se repitan los errores de siempre!”, impulsada por la Vía Campesina y el Comité Internacional de Planificación para la Soberanía Alimentaria (CIP). En dicha carta, que ya han firmado cerca de 800 organizaciones a nivel mundial, se declara el “Estado de Emergencia de los Pueblos por la actual crisis de alimentos”.[2]
 
Se hace un llamamiento al Consejo para los Derechos Humanos de la ONU y al Tribunal Internacional de Justicia para que investigue la responsabilidad en las violaciones del Derecho a la alimentación. Se pide el cese inmediato del desarrollo de tierras para la producción industrial de agrocombustibles. Se reclama asimismo el establecimiento de una Comisión de la ONU para la Producción Alimentaria, Consumo y Comercio, con la participación de los productores de pequeña escala de
 alimentos y de consumidores marginados.
 
“Creemos que el Derecho a la Comida está por encima de los acuerdos comerciales y otras políticas internacionales. En la emergencia alimentaria actual, las negociaciones mercantiles relacionadas con la comida y la agricultura deben detenerse”, afirma la declaración. Finalmente se rechaza los modelos de la Revolución Verde, pero se apuesta por la participación de la sociedad civil en el desarrollo de una estrategia integral para responder al cambio climático.
 
Notas:
 [1] La carta con las firmas está disponible en: http://www.oaklandinstitute.org
 [2] La carta con las firmas está disponible en: www.nyeleni.eu/foodemergency
 
Para más información:
 – Acsur-Las Segovias: 649 18 10 52 (Magali Thill)
 – COAG: 636 45 15 66 (Paul Nicholson, en Roma) – 616 436 556 (Rafael Hernández)
 – Ecologistas en Acción: 619 94 90 53 (Tom Kucharz)
 – Enginyeria Sense Fronteres-Catalunya: 93 302 27 53 (Coia Sánchez)
 – Entrepueblos: 691 501 789 (Alex Guillamón)
 – Plataforma Rural: 609 47 58 97 (Jerónimo Aguado)
 – Plataforma 2015 y más: 649 489 232 (Pablo Martínez Oses)
 – Veterinarios Sin Fronteras: 93 423 70 31 (Silvia Fernández) – 616 114 005 (Gustavo Duch)
 
 
 
— 
Ecologistas en Acción
 Área Agroecología y Soberanía Alimentaria
 c/ Marques de Leganés 12 – 28004 Madrid
 Teléfono fijo: +34 91 531 27 39
 Teléfono móvil: +34 619 94 90 53
 Fax: +34 91 531 26 11
 Correo electrónico: agroecologia@ecologistasenaccion.org
 
www.ecologistasenaccion.org
 www.enlazandoalternativas.org
 www.quiendebeaquien.org
 http://etnodg.blogspot.com
 http://deuteodg.blogspot.com
 

Congreso Mundial del Petróleo (CPM) en Madrid

El poder corporativo del petróleo se concentrará por primera vez en
España y a través de sus máximos representantes, en torno al 19 Congreso
Mundial del Petróleo (CPM), con el fin de mostrar su cara más ‘amable’,
frente a una sociedad que cabalga sobre un modelo de consumo
irresponsable, desproporcionado e hiper dependiente de los hidrocarburos.

Tras este pomposo nombre se juntarán los representantes, voceros y cómplices del, probablemente, lobby más poderoso del Planeta (el petrolero), que en su seno recoge todos esos nombres que son símbolo de explotación de los Pueblos y la Naturaleza, de contaminación, de injerencia neocolonial, de estar en las trastiendas y en las vanguardias de una gran parte de guerras que asolan el mundo…

Para saber mas: No más sangre por petróleo

Firma en: Congreso Mundial del Petróleo: NON GRATO

  En este enlace encontrarás el libro de EL CREPÚSCULO DE LA ERA TRÁGICA DEL PETRÓLEO (de Ramon Fernandez Duran)

Entre finales de junio y principios de julio el CPM aglutinará en Madrid a unos 4.000 delegados y delegadas de distintos países y gobiernos y directivos de la industria petrolera y gasística. Montados sobre el slogan ‘Suministrar energía para un consumo sostenible’, se tratará de edulcorar, cuando no de camuflar bajo la imagen engañosa de ‘acciones responsables’, varias de las numerosas tropelías y desmanes que las principales empresas petroleras del mundo cometen en los países del Sur, (donde normalmente ejecutan sus proyectos de explotación y extracción petrolífera), al tiempo que pasarán por alto una vez más, la contaminación que generan, junto con la vulneración de los derechos fundamentales de las poblaciones locales.

Ante esta ‘cortina de humo’ propagandística que les facilitaría la justificación para seguir operando en esas condiciones, alza su voz el Encuentro Social Alternativo al Petróleo, una plataforma compuesta por una veintena de organizaciones de la sociedad civil, surgida democráticamente para dar respuesta al CPM desde los movimientos sociales, organizaciones y personas a título individual.

El Encuentro alternativo pretende poner en común los conocimientos y experiencias de la comunidad investigadora y de activistas de países del Norte y del Sur sobre los impactos que provocan las empresas del crudo en las comunidades humanas y en el ecosistema. Al mismo tiempo, intentará promover alternativas a la dependencia del oro negro y sus derivados.

MARKETING Y MENTIRAS
Empresas como Repsol-YPF, BP, Petrobrás, TOTAL, CEPSA, Shell o Chevron intentarán convencer públicamente sobre las ‘bondades’ de sus acciones, consideradas ‘socialmente responsables y respetuosas con el Medioambiente’. Los directivos de Repsol no hablarán ni mostrarán imágenes de los severos daños ambientales que la empresa provoca en el Parque Nacional Yasuní, en la Amazonía ecuatoriana (una reserva ecológica declarada Patrimonio de la Biosfera por la UNESCO en 1989) con un total de 982.000 hectáreas, de las cuales la petrolera hispano-argentina controla, incluso militarmente, unas 200.000 hectáreas. Allí se han producido numerosos vertidos y derrames que han contaminado, entre otras cosas, las cabeceras del Río Yasuní, y la toma de agua desde donde se provee a la comunidad Waorani; ésta es una nacionalidad indígena, habitante ancestral de estos territorios, cuyo hábitat y forma de vida se encuentra severamente afectada por las instalaciones de Repsol en la zona.

Seguramente tampoco se mencionará, en el transcurso del citado congreso, los derrames y chapapotes generados por la misma Repsol y extendidos por distintos puntos de las costas patagónicas argentinas, sobre todo en torno a la localidad de Caleta Córdova (Provincia de Chubut) donde se sitúa la Terminal Marítima Patagónica (Termap) desde donde salen buque de Repsol y otras compañías cargados con cientos de miles de barriles y que, cuando ocurre algún ‘accidente’, avisan con unas demoras inexplicables, no aplican ningún plan de contingencia y no son debidamente penalizados por los delitos ambientales cometidos.

Por su lado, Shell-Capsa tampoco parece inmutarse ante los informes que la señalan como una de las principales fuentes de contaminación ambiental en la localidad de Dock Sud (Provincia de Buenos Aires-Argentina) donde opera uno de los polos petroquímicos más importantes del país, que contribuye en gran medida a mantener una situación socio ambiental calificada como “extremadamente grave” por estudios independientes, ya que cerca de 4.500 personas del entorno presentan problemas epidemiológicos y, según datos de 2001, los índices de plomo en sangre de los niños rebasaban ampliamente los niveles admitidos.

Por todo esto, el Encuentro Social Alternativo al Petróleo (No más sangre por petróleo) surge para elevar su voz, plantarle cara al poder corporativo de las petroleras y exigir que se detenga este comportamiento empresarial socialmente irresponsable y que provoca daños ecológicos irreversibles. Basta de impunidad, porque estas conductas de las petroleras afectan a todos los habitantes de la Tierra.

MST Informa nº 151 – 28/05/2008

MST Informa n° 151 – 28/05/2008: Plantado en la deforestación

Estimado amigo y amiga del MST,

La aprobación de la Medida Provisional (MP) 422 por parte de los diputados federales durante la noche del martes, pocas horas después de la salida de Marina Silva del Ministerio del Medio Ambiente, confirma que la defensa de la biodiversidad va perdiendo la batalla contra la deforestación y el desarrollo a cualquier precio, defendido por diversos sectores del gobierno.

 

La recién aprobada MP 422 se puede traducir como la legalización del “grilaje” (de los falsos títulos de propiedad). La Medida trata de eximir de licitación para realizar la venta de tierras públicas de hasta 1.500 hectáreas – límite ampliado en mil hectáreas- bajo la tutela del Incra ( Instituto Nacional de Colonización y reforma Agraria). 

En este momento, la MP 422 espera el Proyecto de Ley propuesto por el senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), el PL 6.424, otro gran incentivo para la devastación, que reduce del 80 al 50 % la exigencia de reserva legal (área de preservación de la selva) en propiedades de la región amazónica.

Ambas propuestas evidencian la prioridad del gobierno federal: abrir terreno para el agro negocio, sea cual sea. El sector del agro negocio hoy en día es protagonista del gran proceso de devastación del Amazonas que, en los últimos cinco meses del 2007, excedió la medida de 3.000 kilómetros cuadrados de selva, según datos del Ministerio de Medio Ambiente.
 
No es por casualidad que los vientos apuntan para el Norte y el agro negocio siga esa dirección. Es en la región amazónica que está concentrado el mayor volumen de tierras devolutas del país (
tierras sin
título de propiedad, pero donde el Estado es quien tiene que regular la forma de venderlas o no). Esta es la base de un proceso de ocupación y devastación que, aliado al uso de la máquina estatal para fines privados, abre espacio para los diversos frentes del agro negocio que destacan en el mercado, especialmente la extracción de madera, la pecuaria y el monocultivo de la soja.
 
Cambiar la selva por bueyes es un proyecto antiguo. Se sabe que la iniciativa de ocupar la región con ganado se remonta a la década de 1950 y empezó a dar pasos más firmes durante el gobierno militar, cuando en 1966 fueron aprobados los primeros proyectos agropecuarios para la región.
 
La Amazonia sufre hoy en día una gran cantidad de ocupaciones ilegales realizadas por latifundistas pecuarios y productores de soja, desarrolladas a través del grilaje de tierras y pactada con el pillaje de madera. Los últimos datos sobre el avance de la producción de ganado, por ejemplo, son emblemáticos y asustadores.
 
El montante de las áreas usadas para la pecuaria en la región es de 32,6 millones de hectáreas, lo que corresponde a la suma de las áreas de los estados de São Paulo, Rio y Espiritu Santo. De los 30,6 millones de hectáreas devastadas entre los años 1990 y 2006, 25 millones fueron transformados en pasto.
 
El itinerario es simple: primero se necesita cercar la tierra adquirida junto al Incra – generalmente de manera ilegal – , se vende la madera del área y entonces, después de realizar una pequeña quemada para construir pasto, se utiliza la tierra para criar ganado o, con más inversión, para plantar soja.
 
Un esquema que cuenta también con empresas exportadoras brasileñas y extranjeras. Un tercio de la carne producida en esas áreas ilegales, como gran parte de la madera robada y de la soja, van fuera del país. Es decir, parte del superávit de la balanza comercial del país, principal “beneficio” del modelo del agro negocio, se sustenta en la devastación de la región amazónica.
 
Lo que evidencia la disposición del agro negocio en Brasil: usar la tierra que pertenece a todo el pueblo en función única y exclusivamente del lucro, sin tener en cuenta cuestiones ecológicas o de otro orden, atentando contra las condiciones humanas de supervivencia.
 
El problema del pillaje de madera y ocupación por el ganado está lejos de ser resuelto. Todo lo contrario. Ahora la envestida de esos latifundistas es descaradamente disfrazada de asentamiento, a ejemplo de las denuncias que marcaron el fin del 2007, sobre proyectos irregulares en el Oeste de Pará, los cuales, en vez de abrigar agricultores, estarían siendo explotados ilegalmente por madereras.  
 
El escándalo que reveló la existencia de un pacto entre madereras y el Incra de Pará, acusado de destinar áreas de la selva para asentamientos falsos que eran después explotados por los latifundistas, había sido denunciado por el MST desde hacía mucho tiempo.
 
El monocultivo de la soja muchas veces trabaja en convenio con la pecuaria, ya que el grano se expande por áreas de pasto degradado. El cultivo ya devasta el sotobosque y avanza sobre la Selva Amazónica.
 
Encabezando ese proceso están el capital financiero y las grandes transnacionales del agro negocio, como Cargill, Bunge, Monsanto, Syngenta, Stora Enzo y Aracruz, que orientan un modelo de producción agrícola basado en la expulsión de los trabajadores rurales y los indígenas del campo y en la destrucción del medio ambiente.
 
Entre 1995 y 2003 la producción de soja creció más del 300 % en los estados de Pará, Tocantins, Roraima y Rondônia y esa expansión tiene previsión de continuar hasta el 2020. El área de cultivo de soja en la Amazonia pasó de 20 mil hectáreas en el año 2000 a 200 mil en 2006.
 
Más impresionantes e incriminadores son los datos del aumento de la producción en Santarém, en el estado de Pará. Un claro ejemplo de la relación de las inversiones de esas transnacionales con la devastación de nuestra selva. El área de Santarém pasó de 200 hectáreas en 2002 a 4,6 mil en 2003 y hoy corresponde a 16 mil. Curiosamente, fue en el año 2003 que el puerto construido por Cargill en la ciudad, destinado a dar salida a la producción de granos, empezó a funcionar. Puerto que, además, fue instalado ilegalmente, pues ya en la época no presentó el Estudio de Impacto Ambiental que es obligatorio para ese tipo de proyectos, según la Constitución de 1988.

Las transnacionales buscan ahora introducir en el mercado nuevas semillas transgénicas, volviendo aún más exasperado el avance sobre la selva. Y esto ya está ocurriendo. Asistimos tristemente a la reciente liberalización de dos variedades de maíz transgénico de la Monsanto y de la Bayer que ahora podrán ser comercializadas.
 
La decisión del CNBS (Consejo Nacional de la Bioseguridad) pone en riesgo un largo trabajo de conservación en el campo de centenares de variedades de maíz adaptadas a diferentes regiones y a diferentes usos y cultivadas libremente por los agricultores.
 
La consecuencia más grave repercute en la soberanía alimentaria del país. Eso es así porque el maíz es la base de la estructura alimentaria brasileña y las variedades transgénicas que serán cultivadas irán destinadas prioritariamente a la producción de alimento para el ganado y el agrodiesel. Si se destinan a la alimentación, la alerta continua, vista la desaprobación de Anvisa (Agencia Nacional de Vigilancia Sanitaria) respecto al proceso de liberalización , por no tener datos que certifiquen la seguridad del grano para el consumo humano.
 
Hace años que el movimiento viene reivindicando que la creación de asentamientos se concentre en áreas con mayor número de acampamentos, como en el Nordeste, el sur y el Sudeste. Consideramos las selvas como patrimonio de la humanidad y sabemos que los mayores perjudicados con la devastación son los campesinos. Esta posicionamiento encuentra referencia en nuestras acciones, que se contraponen al modelo agro exportador. Apostamos por una agricultura campesina desarrollada en pequeñas propiedades, de base agro ecológica y sabemos que los campesinos son los guardianes de nuestra tierra.

Secretaría Nacional del MST

La VíaCampesina Participa de las celebraciones del día de la biodiversidad

22 de mayo. Bonn, Alemania. En el marco de las negociaciones del Convenio de Diversidad Biologica

Esta tarde activistas de todo el mundo colgaron banderas, golpearon tazas y entregaron el mensaje de la Via Campesina, el movimiento campesino internacional, durante las celebraciones oficiales del Día Internacional de la Biodiversidad en la 9na Conferencia de las Partes (COP) de la Convención de Biodiversidad de NNUU.

Adjunta la declaracion entregada a los delegados. + fotos en www.undercovercop.org

Esta debia ser una celebración de la agrobiodiversidad – sin embargo, ni un campesino, un pastor, un pescador artesanal, ni un representante de los pueblos indigenas, fue invitado a participar. A pesar de las promesas del Secretariado del CDB, el ofrecimiento de la Via Campesina de participar en la agenda formal fue rechazado.


La acción de Via Campesina ocurrió inmediatamente después del mensaje de Ban Ki-moon, Secretario General de las NNUU, a los delegados de la Convención. Las banderas decian "No Hay Agro Biodiversidad Sin Campesinos" y "Comida No Combustibles".


Los miembros de Via Campesina fueron aplaudidos por los delegados cuando gritaron "la naturaleza para el pueblos, no para la industria". Luego de algunos minutos las banderas fueron quitadas por el personal de seguridad y las personas que las sostenían acompañados a salir del Hotel Maritim, y su acreditación a la COP fue cancelada. 


La Via Campesina esta lanzando una advertencia sobre los intereses corporativos que estan abogando por una nueva Revolucion Verde en Africa como estrategia para incrementar la productividad. Aunque la industria utilice conceptos como "sustentabilidad", "participación" y "manejo de biodiversidad", el modelo de producción propuesto es el mismo que aquellos que han creado la actual crisis y la rápida perdida de biodiversidad.


De acuerdo a la Via Campesina, con el apoyo de mucho otros presentes en la COP, los campesinos son la clave tanto para erradicar el hambre en el mundo como para desarrollar y conservar la biodiversidad.
Los campesinos tienen la capacidad de alimentar al mundo. La agricultura campesina promueve la diversidad de cultivos, sustenta las culturas tradicionales y protege el medioambiente. Es más, la producción en pequeña escala, local y agroecológica es una forma inmediata y efectiva de reducir las emisiones de carbono y enfriar el planeta.

II Cumbre Nacional y Foro Internacional Indígena (Lima, Peru): Declaración de los Hijos de la Tierra

Europa tiene una deuda histórica con el Abya Yala

No hay Integración sin Descolonialidad del Poder, Saber y Sentir

A los pueblos del mundo
A los gobiernos de los países andinos y latinoamericanos
A los gobiernos de la Unión Europea
A la opinión pública internacional


REUNIDOS en el Ayllu del hermano Taulichusco, en Lima, Perú, 1,500 hermanas y hermanos de las organizaciones de los Pueblos Quechua, Aymara, Kichwa, Lafquenche, Guambiano, Toba, Colla, Poccra, Asháninka y demás Pueblos Originarios del Abya Yala (América), durante la II Cumbre Nacional y Foro Internacional Indígena, para analizar el contexto nacional e internacional y las perspectivas en que ocurre el llamado proceso hacia el "Acuerdo de Asociación Unión Europea y Comunidad Andina de Naciones" (AA UE-CAN).

REITERAMOS que en el siglo XV las grandes civilizaciones del Tawantinsuyo, Mayas, Mapuches y otras del Abya Yala, fueron cortadas violentamente en su desarrollo histórico autónomo, por los ejércitos feudales de Castilla, imponiendo el genocidio, etnocidio, fanatismo católico y destrucción de la madre tierra a través de la colonización y evangelización forzada. Esa deuda histórica, de destrucción ambiental, social, cultural y hasta espiritual, sigue pendiente, no ha sido ni reconocida ni reparada. Seis siglos después, los descendientes de Castilla, hoy la Unión Europea (UE), y los hijos de la Tierra del Abya Yala (hoy América) nos encontramos de nuevo. La actitud colonial nunca terminó de extinguirse, ya que queda aún la herida de los Pueblos Arawak sometidos como Colonia en la Guyana Francesa, y a través de las negociaciones del AA UE ? CAN se pretende volver a reforzar esas viejas cadenas, bajo el comando de las Corporaciones Transnacionales y sus intereses de profundizar su enriquecimiento a través de sus negocios en la minería, petróleo, madereras, agro-combustibles, turismo, pesca, bioprospección y hasta de los servicios públicos y financieros.

AFIRMAMOS que el contexto de estas negociaciones es el de la gravísima crisis socio ambiental de la humanidad producto de las enfermedades y contradicciones congénitas de la "modernidad capitalista" que nos ha llevado a la humanidad al límite. La dictadura global de las transnacionales (privadas o estatales) avalada por sus estados centrales, ha impuesto la mercantilización de toda forma de vida y el consumismo desenfrenado y sus adicciones energéticas, tanto de hidrocarburos y ahora de agro-combustibles, que producen en forma combinada, el calentamiento global y ahora la hambruna. El AA UE-CAN no asume plenamente esta tragedia y encubre la muerte la tenemos encima sea por contaminación, depredación, falta de agua o de alimentos, hoy convertidos en combustibles. Asistimos a una crisis civilizatoria y falta muy poco para llegar a los fatídicos dos grados centígrados de calentamiento global donde el suicidio planetario y humano será indetenible. Y los primeros afectados, como siempre, ya venimos siendo los hijos de la Tierra, ya que nuestras comunidades no podrán sobrevivir si continúa el derretimiento de los glaciares, inundaciones, sequías, friajes y alteraciones climáticas. Fracasó la razón occidental de "explotación de la naturaleza" y el mundo necesita aprender lo que quisieron quitarnos : que los humanos somos hijos de la tierra, que ella nos cría y nosotros a ella.

AFIRMAMOS que esa crisis en la naturaleza va de la mano con la crisis del Estado Uni Nacional, impuesto como modelo para la humanidad, por la misma soberbia eurocéntrica, y que solo funciona y a medias, en los países centrales de las transnacionales, pero que ha fracasado en el resto del planeta, y mucho más en las antiguas colonias. Las repúblicas del Abya Yala se formaron con Estados organizados de espaldas y en contra de sus sociedades, lo cual continúa y se ha agravado hoy. Las constituciones se hicieron sin participación de los pueblos indígenas originarios ni afrodescendientes. Los Estados Uni Nacionales y Uni Culturales y sus modelos dogmáticos y jerárquicos de economía, política y religiones, han fracasado porque desconocen y se imponen a la diversidad de pueblos, culturas, ecosistemas, saberes y espiritualidades del Abya Yala. Nuestros Estados son cada vez menos "nacionales" y "democráticos" porque se han sometido a los negociados de las corporaciones para succionar nuestros recursos naturales y humanos, y ante nuestra resistencia por defender a la Pachamama y nuestras comunidades, ante el fracaso de sus Partidos-Estado, imponen la criminalización de nuestra defensa de la Vida. "Actúen y luego piensen" ha ordenado el Presidente Alan García a la policía, luego de las decenas de muertos por hacer acciones de protesta social, expresando la descomposición y autoritarismo en que ha terminado el sueño y ha puesto el epitafio a la lápida de la ilusión del Estado Uninacional. Es la hora de nuestras alternativas : Estados Pluri Nacionales y Buen Vivir/ Vivir Mejor, para incorporar y proteger la inmensa diversidad natural, social y cultural en que habitamos, y el A A UE-CAN tampoco puede desentenderse de esta encrucijada y pretender negociar nuevas cadenas de opresión con gobiernos, partidos y políticos, que hacen lo contrario a lo que se comprometieron al ser elegidos y que están incapacitados para ofrecer garantías a cualquier compromiso sobre nuestros territorios, bosques, montañas, aguas o biodiversidad, salvo a costa de nuevos genocidios o etnocidios.

PROPONEMOS las siguientes alternativas para implementar un efectivo proceso de descolonialidad del Poder, del Saber y Sentir, como base fundamental de cualquier nuevo "Acuerdo de Asociación" UE-CAN, es decir entre los descendientes de colonizadores y colonizados, y para no pasar de la primera a la segunda arremetida sobre nuestros territorios :

?  La UE reconozca y repare la deuda histórica, ambiental, social y cultural, dejada por sus antecesores, los señores feudales de Castilla y que hoy agravan las corporaciones transnacionales.
?  Construcción de Estados Plurinacionales con base comunitaria, ante el fracaso en Abya yala de los estados Uni Nacionales privatizadores, depredadores y criminalizadores. Los derechos colectivos son la garantía para los derechos individuales y si es posible unirlos, así como unir la democracia comunitaria, con la participativa y representativa y la Unidad en la Diversidad. Reclamar igualdad cuando la diferencia inferioriza, y diversidad cuando la "igualdad" invisibiliza.
?  Construcción de sistemas sociales del "Buen Vivir/Vivir Mejor" (Sumaq Kawsay en Quechua o Sumaq Qamaña en Aymara) basdaos en la reciprocidad entre humanos y con la madre tierra, y no en el suicido planetario de la mercantilización de la vida.
?  Respeto a nuestra protección milenaria de Territorios y Pachamama, deteniendo toda invasión extractivista (minera, hidrocarburífera, hidroeléctrica, pesquera, maderera, agrocombustibles) que no h aya sido consultada a los hijos de la tierra a través de nuestras comunidades. Alto a la catástrofe en el Perú con mineras encima de la mitad de 6000 comunidades andinas en las cabeceras de cuencas de agua para la costa, y petroleras en el 70% de la amazonía y encima de más de 1000 comunidades.
?  Anulación de las leyes o proyectos de ley y proyectos de supuesta "cooperación" que pretenden parcelar, individualizar, privatizar, "reforestar", nuestros territorios comunales, con apoyo del Banco Mundial y Banco Interamericano de Desarrollo y Banco Europeo de Inversiones (a través del IIRSA) porque esa mercantilización de la Vida es la que está llevando al suicidio a la humanidad.
?  Aplicación de la Declaración de la ONU y Convenio 169-OIT sobre Derechos de los Pueblos Indígenas Originarios, para respetar nuestro Derecho Mayor (distinto del eurocéntrico derecho positivo) y nuestros derechos colectivos (Territorio, Consulta , Politicas Interculturales) y nuestra identidad como Pueblos (pre existentes a los actuales Estados) como nuestra capacidad de basarnos en nuestras raíces y hermandad con la madre tierra, para poder interactuar en forma autónoma y crítica con las sociedades del mundo. No hay interculturalidad posible sin Pluri Nacionalidad Comunitaria, y mucho menos si la educación bilingüe, sigue marginal y depende de las "decisiones" de proyectos del Banco Mundial o similares. El Sistema de Saber refleja el sistema de Poder.
?  Detención del proceso autoritario de criminalización y respuestas para-militares de toda defensa de nuestras comunidades, culturas y Pachamama, y que la UE comunitaria no avale, encubra o minimice aquí lo que dice respetar en sus países.
?  Derechos humanos para nuestros hermanos que fueron expulsados de nuestras tierras por el neoliberalismo excluyente, y que para sobrevivir han migrado a Europa, enriqueciéndol a con su trabajo y culturas. No a la xenofobia, racismo y discriminación laboral, social y cultural en Europa.
?  Respeto al patrimonio intelectual, natural y cultural de nuestros pueblos, devolviendo Europa los productos culturales que se llevaron a la fuerza, y retirando de cualquier negociación el acceso a nuestros recursos biogenéticas y conocimientos tradicionales.

SOLICITAMOS que los Presidentes y delegados de la UE, CAN y de América Latina (Abya Yala) practicando en los hechos la llamada "democracia participativa" reciban a una delegación de nuestros Pueblos y Comunidades Originarios Indígenas para que les expongan nuestras preocupaciones y propuestas.

ANUNCIAMOS nuestra declaratoria de estado de alerta permanente y de movilización en defensa de los derechos de nuestros hermanos de los Pueblos Originarios Indígenas de Bolivia y Ecuador y sus propuestas de descolonialidad de sus Estados y de reorganizaciones constitucionales a través de Estados Pluri Nacionales Comunitarios y de sistemas socio económicos del Buen Vivir. Rechazamos la violencia racista de los oligarcas de Santa Cruz y Guayaquil y sus estrategias supuestamente "regionalistas" luego que han perdido el control de gobiernos nacionales, para mantener sus privilegios como terratenientes o testaferros de transnacionales extractivistas. Rechazamos la violencia racista en Bolivia que no acepta ser gobernados por un Aymara, como el hermano Evo Morales, y cobardemente apalea a vendedores ambulantes, solo por ser Guarayos.

DEMANDAMOS respeto a la Vida y a la Paz en los Territorios Indígenas de Guatemala y Colombia, por cualquier fuente de violencia, venga de donde venga, y en especial la anulación del paramilitarismo avalado desde el Estado colombiano; e igualmente, el cese de la respuesta violenta del Estado chileno sobre el Pueblo Mapuche que defiende sus bosques, aguas y vidas, y que se respete sus derechos y dialogue en lugar de perseguirlos y encarcelarlos. La UE no puede "negociar" sin deslindar claramente esos negocios de la criminalización cotidiana.

LLAMAMOS a las hermanas y hermanos de los pueblos originarios indígenas del Abya Yala a movilizarnos para encontrarnos en el Foro Social de las Américas (Octubre 2008 en Guatemala) y las Cumbres Continentales en Chile (2009) de Mujeres Indígenas y luego de Pueblos Indígenas del Abya Yala. Así mismo, profundizar nuestras alianzas con los movimientos originarios del Africa, Asia, Europa y Oceanía, para desarrollar nuestras propuestas de Estados Pluri Nacionales Comunitarios y Sistemas de Buen Vivir, durante el Foro Social Mundial (Belem do Pará, Enero 2009) en alianza con los movimientos de afro descendientes (recordando el Amanlá, Poder al Pueblo de los hermanos de Sudáfrica), el de las mujeres, ambientalistas, sindicatos, jóvenes, artistas y otros del mundo, así como con los luchadores por la renovación teórica, intelectual y académica, que nos han acompañado en este encuentro en Lima, como expresión del proceso de descolonialidad del saber y conocimiento.

LLAMAMOS a sacar lecciones de los procesos de nuestros hermanos de Bolivia y Ecuador, y la necesidad de construir nuevas formas de organización política autónoma de nuestros Pueblos y Comunidades, basadas en nuestras raíces y principios de Territorialidad, Comunidad, Identidad, Reciprocidad, y dejar de ser "escaleras" para los apetitos de poder vengan de donde vengan. Ante el desencanto y fracaso de la "politiquería" criolla y eurocéntrica, es la hora de la política de los hijos de la tierra del Mandar Obedeciendo y de que la espiritualidad y la cultura se reencuentren con la política.

Por miles de años reprodujimos la Vida en el mundo y hoy el capitalismo está a punto de destruirla

Somos los hijos de la Tierra, aves de una sola ala, que necesitamos abrazarnos para que el Cóndor y el Aguila vuelvan a volar y la humanidad a soñar y sobrevivir

Coordinadora Andina de Organizaciones Indígenas, CAOI
Confederación Nacional de Comunidades del Perú Afectadas por la Minería, CONACAMI
Organización Nacional Indígena de Colombia, ONIC
Confederación de Pueblos de la Nacionalidad Kichwa del Ecuador, ECUARUNARI
Consejo Nacional de Ayllus y Markas del Qollasuyu, CONAMAQ
Organización Nacional de Pueblos Indígenas de Argentina,ONPIA
Identidad Lafquenche
Confederación Sindical Unica de Trabajadores Campesinos de Bolivia, CTUCSB
Confederación de Pueblos Indígenas del Oriente Boliviano, CIDOB
Confederación Campesina del Perú, CCP
Confederación Nacional Agraria, CNA
Unión de Comunidades Aymara, UNCA
Asociación Interétnica de Desarrollo de la Selva Peruana, AIDESEP
Asociación Nacional de Maestros en Educación Bilingüe del Perú, ANAMEBI
Coordinadora Nacional de Rondas Campesinas del Perú, CONARC
Coordinadoras Regionales de Comunidades Afectadas por la Minería, de Ancash, Pasco, Huancavelica, Ayacucho, Arequipa, Tacna, Moquegua, Puno, Apurímac, Piura
Convergencia Maya Waqib'kej de Guatemala
COPUCNA, Ayacucho
Escuela Dolores Ulcuango, Ecuador
Organización Shoshoni (Estados Unidos)
Comunidades de Sudáfrica
Comunidad Campesina de Segunda y Cajas
Comunidad Campesina de Yantla
Organización Indígena Chiquitana, OICH
Asociación Regional de Pueblos Indígenas de la Selva Central, ARPI SC
Organización Indígena de Roraima, Brasil

Con la participación solidaria de :

Immanuel Wallerstein (Univ. Yale), Boaventura de Souza (Univ. Coimbra), Anibal Quijano (Univ.Binghamton), Rodrigo Montoya (Univ.San Marcos), Edgardo Lander (Universidad de Caracas), Sylvia Marcos (Univ.Morelos), María Lugones (Univ. Buenos Aires), Puente entre Culturas (Holanda), CEADES (Bolivia), Cándido Grabowski y Moema Miranda (IBASE, Brasil), Magdalena León (Foro Socia l de las Américas), Rafaella Bollini (ARCI, Italia), Giampero de Marzo (ASud,Ecología y Cooperación, Italia), Consejo Indigenista Misionero del Brasil, CIMI y otros

Parlamentares Suíços e Acionistas solicitam explicações ? Syngenta por crimes cometidos no Brasil

Indignados com o assassinato do trabalhador Valmir Mota de Oliveira, o Keno e com as agressões a dezenas de outros trabalhadores rurais da Via Campessina, por seguranças da empresa NF, contratada pela Syngenta, membros do Parlamento da cidade de Basel, na Suíça, enviaram pedidos de esclarecimentos à empresa.

Os parlamentares querem saber, quais serão as providências da Syngenta para reparar os danos sofridos pelas vítimas do ataque e quais medidas serão adotadas em relação à filial brasileira, para evitar que novos acontecimentos como este voltem a ocorrer.

 Acionistas minoritários da transnacional também cobraram providências aos diretores da empresa, para uma solução pacífica do conflito, no Paraná, e para que a empresa respeite as leis no Brasil e assuma sua responsabilidade frente ao ocorrido.. De acordo com Rudolf Meyer, acionista da empresa “as tentativas de explicação da Syngenta infelizmente não retiram sua responsabilidade sobre os acontecimentos porque a empresa de segurança era contratada pela Syngenta”. Os questionamentos foram feitos durante a Assembléia Geral dos acionistas da empresa, ocorrida em 22 de abril, em Basel. Na assembléia, foi lida uma carta enviada por organizações de Direitos Humanos brasileiras, como a Terra de Direitos.

 Do lado de fora, cidadãos e organizações da Suíça fizeram manifestações contra a Syngenta. As organizações suíças também enviaram denuncias à Relatoria pelo Direito à Alimentação, da ONU. Durante reunião com a ONU, a assessora do Relator para o Direito a Alimentação afirmou que a falta de diálogo com a Syngenta fará com que a ONU, emita uma declaração pública, em maio, sobre o comportamento da empresa em relação aos acontecimentos em seu campo experimental e a falta de esclarecimentos por parte da multinacional, sobre o crime. Este tipo de declaração só é realizada em casos extremamente graves. 

A Anistia Internacional também manifestou-se sobre o assunto, pedindo providências ao Governo do Estado do Paraná e solicitando que a Syngenta respeite o direitos humanos dos trabalhadores da Via Campesina. Mais de 200 cartas de organizações ligadas à Anistia Internacional foram enviadas ao Governo Estadual e à Syngenta.

 As ações na Suíça foram acompanhadas pela advogada da Terra de Direitos, Gisele Cassano e pelo militante da Via Campesina, Jonas Queiroz, ferido no ataque da empresa de segurança NF, contra os trabalhadores acampados no campo experimental. Para Gisele Cassano, advogada da Terra de Direitos “ apesar de toda mobilização internacional, a Syngenta nega-se a dialogar com o Governo do Estado sobre uma solução pacífica para a questão. Os trabalhadores podem sofrer mais um despejo violento, pois a Syngenta não aceita a desapropriação da área. Isso comprova a truculência da empresa e a falta de compromisso com os direitos humanos”.

Radioagéncia NP en Español: Noticias de Brasil – 6 mayo 2008

#Avance de la soja en el Norte trajo concentración de la tierra, dice informe 
Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4563&Itemid=39

 #MST ocupa usina en protesta por las condiciones de trabajo en el corte de la caña 
Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4562&Itemid=39

 #Propuestas de la ONU para el campo se aproximan a las del MST 
Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4557&Itemid=39

#Agrocombustibles generan inflación de insumos agrícolas 
Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4556&Itemid=39

#Anvisa detecta el uso de agrotóxicos prohibidos en cultivos brasileños 
Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4553&Itemid=39

#Brasil tendrá en poco tiempo la mayor área de plantío de soja en el mundo 
Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4550&Itemid=39

#Parlamentarios suizos quieren explicaciones sobre violencia de la Syngenta en Brasil Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4549&Itemid=39

#Municipios que más deforestan son más violentos, afirma CPT
Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/in

#Avance de la soja en el Norte trajo concentración de la tierra, dice informe 
La región Norte de Brasil presentó un crecimiento del área plantada con soja de 20% entre las zafras de 2006 y 2007. Sin embargo, el número de propiedades rurales dedicadas al grano cayó más de 40% en diez años. Los datos, que indican que la producción de soja aumentó la concentración de la propiedad de la tierra en el país, están presentes en el informe “El Brasil de los Agrocombustibles”, producido por la organización no gubernamental Repórter Brasil.

Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4563&Itemid=39

 

#MST ocupa usina en protesta por las condiciones de trabajo en el corte de la caña 
Cerca de 300 integrantes del Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra (MST) y entidades amigas acamparon a comienzos de este miércoles, día 30, frente a la Usina Santa Helena, perteneciente al Grupo Cosan, en el municipio de Río das Pedras, en el interior del estado de San Pablo. La acción, realizada en la víspera del día de los trabajadores -1º de mayo- paralizó las actividades de la usina. La protesta tiene como objetivo denunciar las condiciones degradantes de los trabajadores del corte de la caña y la lentitud, por parte del poder público, en combatir la práctica y punir a los responsables.

Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4562&Itemid=39

 

#Propuestas de la ONU para el campo se aproximan a las del MST 
Durante la última semana, el Movimiento de los Trabajadores Rurales Sin Tierra (MST) realizó una serie de movilizaciones para denunciar los problemas del campo brasileño y proponer alternativas. Aunque los grandes vehículos de comunicación hayan preferido criminalizar al Movimiento, en lugar de exponer y discutir sus reivindicaciones, las propuestas levantadas por el MST se aproximan a las propuestas recientes de la Organización de las Naciones Unidas (ONU).

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#Agrocombustibles generan inflación de insumos agrícolas 
Los insumos utilizados para la producción de alimentos actualmente son blanco de un proceso inflacionario, para el cual no hay todavía perspectivas de reversión. La cuestión fue uno de los asuntos discutidos durante la 30ª Conferencia Regional de la Organización de las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación (FAO), realizada la última semana en Brasilia, capital brasileña. Según el director general de la FAO, Jacques Dioulf, “los precios de los alimentos – afectados por las alzas de los insumos – no deben retomar a un nivel inferior al de sus cotas en 2006”.

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#Anvisa detecta el uso de agrotóxicos prohibidos en cultivos brasileños 
Un análisis realizado por la Agencia Nacional de Vigilancia Sanitaria (Anvisa) junto con las secretarías estaduales de salud, constató, entre otros problemas, la utilización de agrotóxicos prohibidos en Brasil en la producción de algunos cultivos. Según la Anvisa, tres cultivos de los nueve analizados configuran los casos más preocupantes.

Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4553&Itemid=39

 

#Brasil tendrá en poco tiempo la mayor área de plantío de soja en el mundo 
Aun en 2008, Brasil puede superar a los Estados Unidos en la exportación de soja. La estimativa pertenece al informe “Brasil de los Agrocombustibles”, producido por la organización no gubernamental Repórter Brasil. Los males sociales y ambientales generados por el aumento de la producción de agrocombustibles en Brasil fue tema de una discusión promovida por la organización no gubernamental el jueves pasado, día 24, en Buenos Aires, capital de Argentina

Mas información: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=4550&Itemid=39

 

#Parlamentarios suizos quieren explicaciones sobre violencia de la Syngenta en Brasil 
Parlamentarios suizos y accionistas de la multinacional suiza Syngenta Seeds exigieron explicaciones de la empresa por las acciones de violencia y daños al medio ambiente que involucran las actividades de la multinacional en Brasil. La exigencia fue realizada durante la Asamblea General de los accionistas de la Syngenta, realizada la última semana en la ciudad suiza de Basel.

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#Municipios que más deforestan son más violentos, afirma CPT
Entre los 50 municipios de la región amazónica que más extrajeron madera durante 2004 y 2007, 75% posee registros de violencia en el campo. De acuerdo con la Comisión Pastoral de la Tierra (CPT), estos municipios acumularon el promedio de un asesinato en este período, mientras el índice de la región es siete veces menor. Los campeones de la deforestación también lideran los flagrantes de trabajo esclavo.

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El lobby farmacéutico y transgénico en el Gobierno ZP

Miguel Jara migueljara.com 7 de mayo de 2008 


Pronto van cumpliéndose las peores expectativas en materia sanitaria y de medio ambiente con el nuevo Gobierno de Zapatero. La jugada de la desaparición de Cristina Narbona y el Ministerio de Medio Ambiente, o para mayor exactitud, la absorción por parte del Ministerio de Agricultura (ésta sobre todo química, industrial y con cesiones al lobby pro alimentos transgénicos) de la cartera de Medio Ambiente, ha sido muy comentada. Se interpreta, y los hechos comienzan a confirmarlo, como un intento de acabar con una voz y una política crítica, la de la propia Narbona, y con un Ministerio que podía ser un obstáculo al actual modelo desarrollista, insostenible ambientalmente y por lo tanto poco saludable que practica el Gobierno.

Puestos a gestionar una segunda legislatura, ganada la primera con una política "social", el PSOE está optando por darle un perfil más mercantilista, más proempresas al nuevo Ejecutivo. Narbona molestaba, en muchos casos estaba consiguiendo que el suyo fuera un Ministerio pro ecología, y esto es necesariamente contrario a la lógica promercado del Gobierno, cualquier gobierno europeo en la actualidad.

Narbona molestaba y como "cargarse" de raíz un Ministerio entero, el de Medio Ambiente, hubiera sido demasiado chocante, se ha asimilado a Agricultura, que posee una tradición de favorecer a las grandes compañías frente a las pequeñas y medianas explotaciones; de fomentar la industrialización intensiva y con productos químicos tóxicos del campo; y que es en la actualidad el garante de los intereses de la gran industria biotecnológica, es decir, de los alimentos transgénicos (España es el país con mayor superficie de cultivos transgénicos de toda Europa).

El nuevo Ministerio de Agricultura y Medio Ambiente de la ministra Elena Espinosa seguirá apoyando la inclusión en nuestros platos de productos transgénicos y por lo tanto poniendo en peligro nuestra salud y la del entorno. Y tendrá en sus manos toda la parte de Medio Ambiente que antes no gestionó y que Narbona llevaba con un aceptable resultado.

Pero el lobby pro transgénicos no sólo controlará buena parte de las decisiones de Agricultura, como viene haciéndolo durante los últimos lustros; el Gobierno ZP ha colocado a Cristina Garmendia al frente del Ministerio de Investigación y Desarrollo. En el libro Conspiraciones tóxicas , explicamos con numerosos ejemplos el fenómeno de las "puertas giratorias" (trasvase de ejecutivos del sector público al privado o viceversa). Este vuelve a ser un caso de manual. Garmendia era, hasta entrar en el Gobierno de Zapatero, presidenta de la Asociación Española de Bioempresas (Asebio), el mayor lobby pro alimentos transgénicos y fármacos biotecnológicos que hay en España (en el que están otros lobbies como la Fundación Antama o las mayores multinacionales de transgénicos del mundo: Monsanto o Pioneer), y que también congrega a buena parte de la industria farmacéutica biotecnológica (Bayer, Merck, Bristol-Myers Squibb, Roche, Schering Plough, Esteve -que dirigen Farmaindustria-, o Gilead Sciencies -creadores de Tamiflú/Gripe aviar-).

Esta empresaria hasta hace unos días, en 2000 fundó Genetrix, una compañía privada del sector de la biotecnología. Garmendia, no pierde su tiempo y también es presidenta de la Fundación Inbiomed que, financiada con dinero público, está dedicada a la investigación genética con fines farmasanitarios.
El Ministerio de Ciencia e Innovación es clave para la industria farmacéutica. Así, uno de los periódicos sanitarios que ejerce de portavoz de la misma, ha publicado que su creación "ha sido muy bien recibida por la industria". Los grandes laboratorios ven en Garmendia a una de los suyos: "será un buen apoyo para evitar desarrollos legislativos excesivamente dañinos para el sector", argumenta dicha publicación.

Hay que tener en cuenta que a media legislatura anterior el Ministerio de Sanidad sufrió un cambio radical. La ministra Elena Salgado, que como muchos medios especializados en temas sanitarios han publicado no gustaba nada a Farmaindustria, fue desplazada al Ministerio de Administraciones Públicas. En su lugar entró el actual ministro Bernat Soria, muy del gusto de las farmacéuticas. Como ha publicado Correo Farmacéutico: "El ministro Bernat Soria quería convertir esta legislatura en la del impulso de la industria farmacéutica española, 'incluso abordando la posibilidad de un cambio en la legislación de patentes'", verdadera piedra filosofal de Farmaindustria.

Si Cristina Garmendia quiere sacar adelante ese proyecto de cambio de legislación -ahora es de su competencia tras las nuevas atribuciones de su Ministerio- tendrá que contar con el Ministerio de Industria, que también posee competencias legislativas en temas de patentes. El citado periódico recuerda que "al frente de Industria estará, en los próximos años, Miguel Sebastián, amigo y protector político de Cristina Garmendia y figura en ascenso por su amistad con Rodríguez Zapatero".

Si no he contado mal, las industrias biotecnológicas (compuestas por las pro transgénicos y farmacéuticas) tienen cuatro ministerios y cuatro ministros a su disposición: Agricultura, Sanidad, Innovación e Industria. Y además han visto mermado en sus facultades el de Medio Ambiente.
Algunas cosas, como digo, comienzan a cambiar, a peor, se entiende. Para muestra un botón. El pasado fin de semana TVE emitió un reportaje sobre alimentos transgénicos. Como cuenta en una carta dirigida al programa en que se emitió una persona que ha trabajado en el Ministerio de Agricultura y ha sido testigo del vaivén de lobbistas pro transgénicos en el mismo, se eliminó (por problemas técnicos) la intervención de la única voz crítica con el tema de los Organismos Modificados Genéticamente (OMG´s) aplicados a la agricultura, la de Juan Felipe Carrasco, de Greenpeace.

Además, se utilizaron imágenes de la deforestación de la Amazonia para el cultivo de soja transgénica justamente para lo contrario, para explicar las bondades de estos organismos que no son necesarios y que sólo traen beneficios a muy pocas empresas privadas. ¿Estará cambiando la línea editorial de la tv pública al ritmo de los cambios pro corporaciones en el Gobierno ZP?

http://amorhumoraccion.blogspot.com/2008/04/el-lobby-farmacutico-y-transgnico-en-el.html

http://www.rebelion.org/noticia.php?id=66849

Nova onda de criminaliza??o do MST

Altamiro Borges  5 de maio 08

 Já virou rotina o mês de abril ser marcado por furiosos ataques da direita fascista e de sua mídia venal contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. Neste período, em homenagem aos 19 camponeses mortos impunemente no Massacre de Eldorado do Carajás, em 17 de abril de 1996, o MST realiza a “jornada de luta pela reforma agrária”, com ocupações de terras ociosas, bloqueios de estradas e marchas de protesto no país inteiro. Para desqualificar os manifestantes e criar o clima de pânico na sociedade, a mídia já rotulou este mês como o “abril vermelho”. Nem sequer os motivos e as reivindicações dos sem-terra são apresentados à população.

Neste ano, no texto “porque estamos em luta”, o MST explica as razões da jornada. “A reforma agrária está parada. Cresce a concentração fundiária, os assentados não recebem apoio efetivo, aumenta a violência contra os sem-terra e a impunidade dos latifundiários e do agronegócio. 150 mil famílias rurais continuam acampadas, as empresas de agronegócio avançam sobre o território brasileiro, conquistando terras que deveriam ser destinadas aos trabalhadores rurais. O governo tem dado prioridade ao agronegócio. Só o Banco do Banco emprestou 7 bilhões de dólares para 13 grupos econômicos, enquanto nossos assentamentos não recebem investimento suficiente”.

 Além das críticas, a jornada apresenta suas exigências. “Retomada das desapropriações de terra; plano emergencial de assentamento de todas as 150 mil famílias acampadas; alteração do índice de produtividade rural; criação de mecanismo que acelere os trâmites internos para os processos de desapropriação; aprovação do projeto que determina que as fazendas que exploram trabalho escravo sejam destinadas à reforma agrária; destinação das áreas hipotecadas no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal para a reforma agrária; criação de uma linha de crédito especifica para assentamentos, que viabilize a produção de alimentos para a população das cidades”.

 

Censura e discursos despropositados

 Estas e outras justas reivindicações simplesmente são omitidas pela mídia venal. Todo o esforço da direita e dos seus jornalistas de aluguel é para satanizar e isolar o MST. Neste ano, o processo de criminalização atingiu às raias do absurdo. Antes mesmo do “abril vermelho”, os ricos donos da Vale, que participaram da lesiva privatização da ex-estatal, acionaram a Justiça e arrancaram algo inusitado fora dos tempos de ditadura: a censura de um dos coordenadores do MST, João Pedro Stedile. A juíza Patrícia Whately extrapolou a fixar multa de R$ 5 mil caso o dirigente “incite” atos pela reestatização da empresa – algo que ainda hoje é analisado pela própria Justiça.   

 

Já em abril, a cada ocupação de terra ou protesto diante do Incra ou Banco do Brasil, um senador se revezava no plenário para desferir ataques hidrófobos ao MST. Artur Virgilio (PSDB-AM) e Gerson Camata (PMDB-ES) foram os mais histéricos, acusando os manifestantes de “bandidos” e “terroristas”. Na seqüência, o novo presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, aproveitou a sua posse para, segundo leitura da mídia, atacar os sem-terra. O ministro elogiou a democracia nativa, “ainda que alguns movimentos sociais de caráter fortemente reivindicatório atuem, às vezes, na fronteira da legalidade… Nesses casos, é preciso que haja firmeza por parte das autoridades”, aconselhou, quase que num recado ao presidente Lula, presente na solenidade.

 

Terrorismo midiático da TV Globo

 

A criminalização maior do MST, porém, partiu novamente da mídia burguesa. Jornais, revistas, rádios e telejornais destilaram veneno contra a “jornada de luta pela reforma agrária”. O “abril vermelho” ocupou os principais noticiários sempre com abordagens negativas. Os manifestantes foram execrados como arruaceiros, violentos e inimigos da sagrada propriedade privada. Como registrou Marcelo Salles, editor do Fazendo Média, o ataque mais virulento coube à TV Globo.

 

Numa das várias “reportagens” do Jornal Nacional, “nos dois minutos e vinte quatro segundos da matéria busca-se a criminalização do MST. Para tanto, as imagens e palavras são articuladas para transmitir ao telespectador a idéia de que seus militantes são responsáveis por todo o medo que ronda o Pará. Logo na abertura, o fundo escurecido por trás do apresentador exibe a sombra de três camponeses portando ferramentas de trabalho em posições ameaçadoras, como a destruir a cerca cuidadosamente iluminada pelo departamento de arte da emissora… Em nenhum momento os dirigentes do MST são ouvidos, o que contraria o próprio manual de jornalismo da Globo”.

 

Obsessão editorial da revista Veja

 

Quanto à asquerosa revista Veja, desta vez ela não deu capa para demonizar o MST – como uma em que João Pedro Stedile aparece como o próprio molock. Mas nem precisava. O seu ódio à luta pela reforma agrária já é notório. Um excelente estudo de Cássio Guilherme, intitulado “Revista Veja e o MST durante o governo Lula”, comprova que a publicação da famíglia Civita tem como obsessão editorial atacar os sem-terra. Ele acompanhou a cobertura da revista desde a criação do movimento, em janeiro de 1984. Num primeiro momento, ela até tentou cooptar o MST, tratando seus militantes como “coitadinhos, pés-descalços, analfabetos, que lutam por um simples pedaço de chão. Tal atitude por parte da revista teve a deliberada intenção de neutralizar as suas forças”.

 

Como não conseguiu o seu intento, ela passou a atacar sistematicamente o movimento. “Como o MST sobreviveu e continuou crescendo, a alternativa foi satanizar o movimento. Passou-se a dar destaque para toda e qualquer conseqüência negativas das suas ações. A revista usou de diversos clichês preconceituosos, fazendo o julgamento social de seus integrantes. Termos como invasão, baderna e arcaico passaram a ser correntes nas reportagens. Visavam esteriotipar o movimento como atrasado e antidemocrático, inclusive associando-a a figura de Lula, o principal adversário nas corridas presidenciais”. A detalhada pesquisa, de quem teve estômago para acompanhar suas edições, confirma que a criminalização do MST é um dos principais objetivos da direita fascista.

 

Conforme constatou Cássio Guilherme, para a revista Veja “o MST não quer apenas terras, mas principalmente a tomada do poder; os sem-terra são massa de manobra de seus líderes; as figuras de Che, Fidel e Mao Tse Tung sempre são ligadas de forma pejorativa; confrontos com mortos são culpa única e exclusiva do MST que promove invasões; a reforma agrária é uma utopia do século passado; e não existem mais latifúndios improdutivos no Brasil. Enfim, o MST invade, seqüestra, saqueia, vandaliza, tortura, mata”. Não há nada de jornalismo imparcial, mas sim pura ideologização visando criminalizar um dos principais movimentos sociais do país.

 

 

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro recém-lançado “Sindicalismo, resistência e alternativas” (Editora Anita Garibaldi)