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«Governo Dilma foi tomado por tecnocracia de segundo escalão», diz Stédile

O Movimento dos Sem-Terra (MST) realizou nesta segunda-feira, 16, manifestações de protesto em diversas partes do País. Por meio de invasões de propriedades rurais, ocupações de edifícios públicos e interdição de rodovias, os militantes protestam contra a lentidão da reforma agrária. Na opinião do líder mais conhecido e influente do movimento, o economista João Pedro Stédile, o governo da presidente Dilma Rousseff “foi tomado por uma burocracia de segundo escalão que não entende nada de povo”.

Em entrevista ao blog, Stédile também classificou como “burrice política” o contingenciamento de 70%das verbas de custeio do Incra , em vigor deste o início deste mês. Ele ainda criticou o PT, aliado histórico do MST, afirmando que se transformou num partido “chapa branca”, preocupado  com cargos. “O PT deveria ter um projeto para o País”, afirmou.

De acordo com números oficiais, 2011 foi o pior dos últimos 16 anos em termos de reforma agrária. A que atribui isso?
A um conjunto de razões conjugadas. Em primeiro lugar, está em curso uma ofensiva do agronegócio. Com a crise internacional, bilhões de dólares vieram para o Brasil para a compra de terras, usinas, commodities. Com isso o preço da terra subiu. Isso significa que, para se proteger da crise, eles estão disputando terras que poderiam ser destinadas para a reforma. Em segundo lugar, o governo Dilma não compreendeu ainda a importância e a necessidade da reforma agraria como um programa social, de produção de alimentos sadios, para resolver o problema da pobreza no meio rural. Um terceiro fator é o Judiciário.

Por quê?
O Judiciário está impregnado pela ideologia do latifúndio da propriedade. Há 193 casos de desapropriação parados no Judiciário, esperando apenas uma assinatura. No conjunto são mais de 900 mil hectares que já poderiam ter sido destinados para a reforma.

O governo federal contingenciou quase 70% das verbas de custeio do Incra, justamente no mês de abril, quando o MST realiza sua principal jornada de lutas. Como vê esse corte?
Isso é, no mínimo, burrice política, para não ficar falando apenas de incompetência, se considerarmos que temos 160 mil famílias acampadas, à espera de terra. Em todas as suas falas a presidenta diz que o combate à pobreza é prioritário, que a educação é prioritária. Ao mesmo tempo que ela diz, isso, porém, os burocratas dos ministérios do Desenvolvimento Agrário e do Planejamento contigenciam os recursos do INCRA e do Pronera – o único programa de educação no campo. O governo Dilma foi tomado por uma tecnocracia de segundo escalão, que não entende nada de povo e está paralisando todos os projetos sociais. Eles nem conseguem diferenciar que orçamento de reforma agrária e educação não pode ser considerado como custeio.

Acha que a decisão será revista?
Espero que o governo crie vergonha e altere imediatamente. O engraçado é que isso só acontece com programa para pobre. Com orçamento para empresas, para hidrelétricas, pagamento dos juros da divida interna, que é uma vergonha, nunca suspenderam. Eu também espero que a senhora presidenta crie coragem e mude essa política burra do superávit primário, que nenhum pais desenvolvido do mundo usa mais e que reserva mais de 30% de nosso orçamento para pagamento de juros aos bancos.

O senhor fala na criação de mais assentamentos. Mas a presidente diz que está mais interessada na melhoria dos assentamentos já existentes.
A presidenta está  sendo mal assessorada. Aliás, ela já percebeu isso e até trocou o ministro do Desenvolvimento Agrário. Melhorar os assentamentos é uma coisa, aliás é uma divida. Outra coisa é desapropriar para resolver o problema das famílias que não têm terra, que são superexploradas. Misturar as duas coisas é como dizer aos sem-teto: só vamos construir novas casas, depois que fizermos reformas nas casas que já existem!

E quanto aos assentamentos já existentes?
Também estão abandonados. Faltam 180 mil casas. Apenas 10% deles têm acesso ao crédito rural. O programa de assistência técnica é uma vergonha, porque nem chega às famílias. A melhor politica para os assentamentos é fortalecer a CONAB, transformá-la numa grande empresa compradora de alimentos produzidos nos assentamentos e na agricultura familiar. Mas o orçamento para essas compras está parado, ao redor de R$ 300 milhões por ano. Se Conab tivesse um R$ 1 bilhão, teríamos um salto, pois os assentados poderiam produzir sabendo que a produção seria toda comprada.

Para garantir a governabilidade e o projeto político do PT, o governo tem feito cada vez mais concessões à bancada ruralista. O que acha disso?
Há muita diferença entre a vontade da presidenta e a natureza de seu governo, que é um governo de composição de classes, uma frente política de interesses diferentes e, às vezes, até antagônicos. Nesse quadro, as classes dominantes, por meio de seus grupos políticos, vão pautando cada vez mais o governo e transformando-o em refém de seus interesses.

E quanto ao PT?
Há uma diferença entre o governo Dilma e o PT. Acho que o PT deveria ser mais ofensivo, ter um projeto para o País e ser autônomo em relação ao governo. Só assim é possível atuar na sociedade, organizar os trabalhadores, mobilizando e pressionando por mudanças estruturais. O problema é que o PT virou um partido chapa-branca, que se preocupa mais com cargos e em puxar o saco do governo, deixando de cumprir seu papel de partido político.

O MST perdeu parte de sua capacidade de mobilização em decorrência do crescimento econômico e da criação de mais empregos.
Claro que existe mais emprego e que houve uma pequena distribuição da renda a favor dos trabalhadores sobre o total do PÌB. Mas isso não significa que os problemas estruturais da concentração da propriedade da terra e da riqueza se resolveram. O Brasil continua sendo um pais muito desigual e injusto. E no meio rural a única forma de construirmos um modelo de produção agrícola voltado para o mercado interno, com desenvolvimento econômico e social, é por meio da democratização da propriedade, do fortalecimento de agroindústrias, de cooperativas e da agricultura familiar, adotando a matriz da agroecologia.

E quanto à dificuldade para mobilizar pessoas?
Estamos ainda num período histórico de descenso do movimento de massas e da falta de mudanças estruturais. E é isso que afeta as mobilizações no campo, e também na cidade. A ultima greve geral foi em 1988, mas nem por isso os problemas da classe trabalhadora urbana se resolveram. Em algum momento, porém, entraremos num novo período histórico de retomada das mobilizações de massa.

As manifestações do dia 16 de abril destinam-se também a relembrar o massacre de trabalhadores rurais em Eldorado dos Carajás, em 1996. Como estão os processos para punir os responsáveis?
Essa é outra vergonha, outra demonstração da conivência do Judiciário com o latifúndio. Foram assassinados 19 companheiros, em 1996. Demoraram seis anos para realizar o júri popular e lá, “milagrosamente”, foram absolvidos os mandantes e os 154 policiais que praticaram os crimes. Foram condenados apenas os dois comandantes, com penas de mais de 200 anos de prisão para cada um. Eles recorreram em liberdade – e assim estão até hoje. Recentemente, no dia dia 28 de março, o insuspeito ministro Gilmar Mendes, revogou as medidas cautelares e determinou que os dois esperassem na cadeia. Já se passaram 19 dias e a ordem ainda não chegou a Belém. Se fosse um pobre, teria sido preso no mesmo dia.

 

João Paulo Capobianco: «O governo é pré-histórico na questão ambiental»

O ex-secretário-executivo do ministério do Meio Ambiente critica o governo Dilma, diz que a legislação está perdendo força e prevê aumento do desmatamento

O ambientalista Capobianco, em seu escritório em São Paulo. Ele se diz preocupado com o papel do Brasil na conferência Rio+20, que será realizada em junho (Foto: Letícia Moreira/ÉPOCA)

Há alguns dias, importantes organizações da área ambiental divulgaram um documento com severas críticas ao primeiro ano do governo Dilma Rousseff no setor. Instituto Socioambiental, Fundação SOS Mata Atlântica e WWF, entre outras, classificam o atual período como o de “maior retrocesso da agenda socioambiental desde o fim da ditadura”. A acusação é endossada pelo biólogo e consultor João Paulo Capobianco, um dos mais respeitados ambientalistas do país. No governo Lula, Capobianco ocupou o segundo cargo mais importante do Ministério do Meio Ambiente, o de secretário-executivo. Saiu junto com a ministra Marina Silva e depois participou de sua campanha pela Presidência. Nesta entrevista, ele explica porque avalia tão mal os primeiros atos de Dilma no setor. 

ÉPOCA – As organizações que militam na área de meio ambiente classificaram o primeiro ano do governo Dilma como “o maior retrocesso da agenda socioambiental desde o fim da ditadura”. O senhor concorda com isso?
João Paulo Capobianco –
Concordo completamente. A agenda que envolve meio ambiente e a questão social do ponto de vista dos direitos de minorias, como índios e quilombolas, tem evoluído desde o fim da ditadura militar. É uma evolução permanente. Claro que as coisas nem sempre andaram como gostaríamos. A Lei da Mata Atlântica demorou 14 anos para ser aprovada. A Lei de Crimes Ambientais demorou 12 anos. Foi um conjunto de avanços sempre muito morosos. Mas foi uma agenda crescente. Nós não tivemos nesse período nenhum retrocesso na legislação. Tivemos demoras, dificuldades de implementação, mas inversão nós nunca tivemos. Estamos tendo agora. São modificações na legislação por iniciativa ou omissão do Executivo. Um exemplo é esse novo Código Florestal.

ÉPOCA – A aprovação dos transgênicos no governo Lula não foi considerado um retrocesso pelo movimento ambientalista?
Capobianco –
Ali foi diferente porque não havia uma legislação anterior para tratar desse assunto. Foi assim: na época do presidente Fernando Henrique Cardoso o governo fazia vista grossa e o transgênico cresceu de forma descontrolada. Aquilo estava sendo usado sem legislação, sem nenhum procedimento de biosegurança. Então no começo do governo Lula nós envolvemos oito ministérios para propor uma lei. A lei que foi enviada pelo governo para o Congresso foi elaborada em acordo com o Ministério do Meio Ambiente. Na Câmara, o deputado Aldo Rebelo alterou completamente o texto, mas o governo reagiu e tivemos uma grande vitória. No Senado, as mudanças voltaram e lá o governo não agiu acabou perdendo. Foi uma perda, sim. Mas é diferente da situação atual porque a questão do transgênico não era algo que já estivesse ajustado na legislação e andou para trás.

ÉPOCA – Então nunca houve retrocesso?
Capobianco –
Na época do governo Collor (1990-1992) houve uma tentativa. Quiseram fazer uma consolidação da legislação ambiental. De fato, a legislação ambiental tem um leque muito grande de resoluções, leis, decretos, normas constitucionais. E quando isso começou a ganhar forma, ficou claro que, na verdade, queriam aproveitar a oportunidade para eliminar vários avanços. Naquele momento as organizações todas se mobilizaram e o governo retirou a proposta. Tivemos também a iniciativa do Congresso de modificar o Código Florestal em 2000. Isso foi até 2001, 2002, o famoso Relatório Micheletto (do deputado Moacir Micheletto), que quase foi para votação em plenário com muita chance de ganhar. Mas foi retirado pelo governo. O governo bancou (a retirada da proposta) e depois editou uma Medida Provisória para resolver alguns problemas do Código. Então o que acontecia claramente eram tentativas de modificar a legislação ambiental. Isso ocorria. Mas ou o governo atuava para ajustá-las, ou impedia o avanço dessas tentativas no Congresso. O que está acontecendo agora é o oposto disso.

ÉPOCA – Os analistas políticos classificam a aprovação do novo Código Florestal na Câmara como a maior derrota política do governo Dilma no Congresso até aqui. Se o governo perdeu, como é possível responsabilizá-lo pelo mérito? Por uma medida que foi aprovada a sua revelia?
Capobianco –
O governo Dilma possui a maior base de apoio da história democrática. Nenhum presidente da República teve uma base como a atual. E, objetivamente, o governo não operou essa base. Ele opera essa base em todos os projetos que lhe interessam. O governo não atuou de forma adequada em relação ao Código Florestal, não ouviu os alarmes e as diversas manifestações preocupadas com o assunto. Quando o governo percebeu que seria criado um problema político, resolveu agir. Só que muito tardiamente, o relatório já estava pronto. O relatório foi costurado pelo deputado Aldo Rebelo, que é um político com muita experiência legislativa, foi ministro, presidente da Câmara. O governo tentou barrar e não conseguiu. Então, de fato, o governo perdeu. Mas ele perdeu após uma letargia enorme, uma omissão muito grande, permitindo, durante mais de um ano, que esse projeto fosse construído.

ÉPOCA – O senhor disse que o governo só tentou reagir contra o novo Código Florestal porque percebeu que seria criado um problema político. Que problema seria esse?
Capobianco –
Na campanha de 2010, a presidente Dilma Rousseff se comprometeu, de próprio punho, em vetar qualquer dispositivo que implicasse em anistia, estímulo ao desmatamento ou redução das áreas de preservação permanente. Quando ficou claro que essa proposta de Código Florestal continha esses elementos, viram que iria sobrar para ela. Além disso, o movimento contrário ao Código cresceu. Um conjunto muito grande de formadores de opinião foi à Presidência da República alertar sobre os retrocessos do Código.

ÉPOCA – Mas o senhor diria que a essa letargia do governo contra o Código foi proposital?
Capobianco –
Certamente. Dizer que o governo tem uma visão anti-ambiental talvez seja muito forte. Mas uma coisa é evidente: a sensibilidade do atual governo com a questão ambiental é mínima. Houve uma omissão completa do governo nesse processo, o que é inadmissível, pois você tem no governo pelo menos um ministério, no mínimo um, que é o do Meio Ambiente, que tem como uma das funções institucionais acompanhar os processos legislativos e, em nome do governo, atuar no Congresso. Ele não fez isso. O Ministério se omitiu, o governo como um todo se omitiu. E quando perceberam que o dano para a imagem do governo seria importante, resolveram entrar, mas de forma atabalhoada, desorganizada. Perdeu.

ÉPOCA – E no Senado, como foi a postura do governo?
Capobianco –
No Senado, sim, o governo agiu de forma objetivamente anti-ambiental. Depois de perder na Câmara, o governo saiu dizendo assim: “no Senado nós vamos reverter isso”. Só que o primeiro ato do governo no Senado foi permitir a escolha do mesmo relator em três comissões, uma coisa inédita. A matéria precisa passar em quatro comissões: Constituição e Justiça, que é obrigatória, Agricultura, Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente. O governo tem papel fundamental nesse processo, é um ente extremamente forte. E aí ele permitiu que o projeto fosse analisado nas comissões de Constituição e Justiça, Agricultura e Ciência e Tecnologia pelo mesmo relator. Quem foi esse relator? O senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB), que, enquanto governador de Santa Catarina, aprovou um Código Ambiental local que é o único contrário ao Código Florestal nacional. O Código de Santa Catarina é mais permissivo e desrespeita frontalmente o Código Florestal nacional. É objeto de uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no Supremo Tribunal Federal. Então o governo aceita o Luiz Henrique em três comissões. Três. Em função do seu currículo, era a pessoa mais inadequada para isso.

ÉPOCA – A outra comissão foi para o senador Jorge Viana, do PT do Acre.
Capobianco –
Que foi a nossa grande decepção. Esperava-se que ele fizesse um relatório mais correto, mas ele não fez. Ele fez um praticamente idêntico ao do senador Luiz Henrique.

ÉPOCA – Qual a diferença entre os textos da Câmara e do Senado?
Capobianco –
O relatório do Senado é, na sua estrutura, igualzinho ao da Câmara. É um projeto melhor, mais bem organizado. É melhor como peça legal. Mas para o meio ambiente é igual. Ele continua com a anistia para quem desmatou, mantém a redução das áreas de preservação permanente, mantém a redução da reserva legal (que cada propriedade é obrigada a ter) e estimula novos desmatamentos.

ÉPOCA – Estimula como, objetivamente?
Capobianco –
Primeiro, pela anistia para quem desmatou. Cria uma sensação de impunidade, evidentemente. Também porque reduz o cálculo das áreas de preservação permanente. O que é isso? São áreas extremamente frágeis que são protegidas pela legislação desde 1934: topo de morro, mata ciliar, encostas. Hoje, para você calcular a área de preservação na beira de rio, você tem de contar a partir da maior cheia sazonal. Pegue um rio de planície na Amazônia, no Pantanal ou na Mata Atlântica litorânea, por exemplo. Se você olhar para o leito regular, pode ter 12 metros, 15 metros. Mas todo ano, na cheia, ele sai dessa margem e atinge até 100 metros. Hoje, você calcula a área de proteção a partir desse limite maior, de 100 metros. Não estou falando da grande cheia excepcional, que pode ocorrer eventualmente, mas da cheia sazonal, que ocorre todo ano. O que fizeram? No projeto do novo Código eles colocaram que você deve calcular a área de proteção a partir do leito regular. Significa que vai reduzir brutalmente a áreas de preservação. Na Amazônia, igapós e igarapés perdem, ficam todos de fora. No Pantanal será uma tragédia.

ÉPOCA – A legislação não precisaria de nenhum retoque?
Capobianco –
Precisa. Há um pressuposto que todo mundo concorda: você precisa criar oportunidades para regularizar as propriedades que estão irregulares. Todo mundo concorda com isso. Mas como fazer? Para quem atua na área ambiental, resolver isso significa criar incentivos, facilidades e condições para estimular a recuperação das áreas. O que a bancada ruralista faz? Eles querem eliminar a recuperação. Então você parte de um consenso, mas com pontos de vista totalmente diferentes para a solução.

ÉPOCA – Qual tem sido a estratégia do governo?
Capobianco –
No Senado o governo atuou de forma clara. Ali ele expôs, de forma objetiva, qual é a sua visão. É por um código que faz anistia, estimula desmatamento e reduz proteção. Quando esse projeto foi aprovado no Senado, tentaram passar para a sociedade que havia um consenso. “Ah, resolvemos os problemas da Câmara, os absurdos da Câmara”. Houve uma contra-informação importante. Aí as informações começaram a circular, as organizações fizeram uma discussão e ficou provado que aquilo não era verdade. Ficou claro que, na sua essência, o projeto do Senado era tão ruim quanto o da Câmara. E aí o governo montou o que a Marina Silva muito bem chamou de telequete, aquela luta livre falsa, marmelada, em que os dois caras ficam se batendo e se jogando no chão. O governo permitiu que o projeto, ao voltar para a Câmara, fosse relatado pelo deputado ruralista Paulo Piau (PMDB-MG). Quem é Paulo Piau? Ele foi o autor das piores emendas no início, quando a matéria estava na Câmara. Na nossa avaliação o governo estimulou que fosse o Paulo Piau. Para quê? É para acontecer exatamente isso que está acontecendo. É para que ele modifique o texto novamente, recuse várias mudanças do Senado, encha o texto de retrocessos e retorne com as piores coisas que tinha antes. Aí o governo entra com tudo, obriga a base a votar o texto do Senado e vende para a sociedade a ideia de que salvou o Código Florestal. Essa foi a jogada. Mas isso foi denunciado e agora virou um problema. O fato concreto é que essa questão do Código é o exemplo mais acabado daquilo que nós estamos chamado, no governo Dilma, de maior retrocesso desde a ditadura.

ÉPOCA – O que mais as organizações classificam como retrocesso?
Capobianco –
A Lei Complementar 140. Esse era um projeto que visava organizar as atribuições das diferentes esferas da União para tornar os processos de licenciamento mais eficientes. Era um projeto ambiental na sua origem, nós trabalhamos nele. O que a Câmara fez, com o beneplácito do governo, foi aproveitar esse projeto para reduzir o papel do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e para reduzir o papel do Ibama. Virou um projeto anti-ambiental. O governo também deixou andar, não colocou sua base para impedir a aprovação. O que a gente pensou? “Bem, o governo vai vetar”. Mas não vetou, sancionou. Então ali ficou patente que não houve oposição ao projeto.

ÉPOCA – O desmatamento na Amazônia Legal em 2011 foi de 6.238 quilômetros quadrados. É o menor índice da série histórica, 11% menor que o de 2010. Não é uma boa notícia?
Capobianco –
Claro que é. A redução do desmatamento foi uma decisão política, tomada em 2004 com um plano interministerial para essa finalidade. Alguns dizem que o desmatamento caiu no governo Lula porque teve a queda dos preços das commodities, a soja perdeu preço e outros fatores. Eu sempre digo o seguinte: é verdade, o governo soube usar um ambiente favorável para apertar as políticas para redução de desmatamento. Foram criados 23 milhões de hectares de unidades de conservação na Amazônia nas áreas de expansão do desmatamento; houve um processo de cancelamento de títulos de milhões de hectares, pois havia uma grilagem monumental; teve uma ação pela primeira vez integrada com Exército, Ibama e Polícia Federal, que atuou de forma extremamente forte; teve a modificação do sistema de monitoramento por satélite, que era anual a passou a ser em tempo real. Foi, enfim, uma série de medidas. Agora, a base fundamental para atuação do governo foi sempre o Código Florestal. O Código é que permitia imputar ao proprietário a obrigação da proteção, pois ele dizia “em área de floresta, na Amazônia, você só pode desmatar 20%”. Antes ele era letra morta. O governo resolveu implementar isso aí. Agora tem a inércia. Ela é muito grande. Você não aumenta o desmatamento repentinamente. Assim como não reduz repentinamente. Então o atual governo é herdeiro desse processo.

ÉPOCA – E o que vai acontecer a partir de agora?
Capobianco –
Antes, toda a postura do governo federal era de preservação, de implantação do Código, de controle. Qual é a política do atual governo? Permitir que um novo Código avance, redução de proteção, anistia para quem desmatou irregularmente, uma série de sinais completamente contraditórios em relação ao que estava sendo feito desde 2004. Então eu diria que a tendência é de um retorno do desmatamento. Essa é a perspectiva. Você está mudando a legislação e está passando um sinal para a sociedade de menos controle, de menor valorização do tema. Eu acredito que a redução do desmatamento, que é a grande vitrine do governo, está condenada. Está condenada se o governo aprovar esse novo Código Florestal.

ÉPOCA – Quando isso será percebido no índice? Dá para prever?
Capobianco –
Como eu disse, a inércia é grande. Mas no ano passado você já teve alguns meses atípicos. Teve uma explosão do desmatamento e o governo foi obrigado a ir para campo e correr com operações tremendamente para tentar segurar. Segurou, foi importante. Agora, como você vai segurar isso se mudar a legislação? Como vai segurar isso se quem desmatou a reserva legal não será punido? Eu preservei, meu vizinho desmatou e agora tudo bem? Eu mantive a área de preservação permanente, mas esse cara passou por mim, riu da minha cara e desmatou a área dele. Agora vem a lei e anistia o sujeito? E eu que preservei? É um sinal totalmente equivocado, que jamais o governo poderia passar para a sociedade.

ÉPOCA – O senhor acredita na possibilidade de veto do novo Código Florestal por parte da Presidência?
Capobianco –
Veto parcial não adianta. Há uma armadilha. O projeto foi escrito de uma forma para que vetos parciais ficassem inviáveis. Ela (Dilma) pode vetar alguns dispositivos, algumas coisinhas, mas a estrutura não dá para vetar. Um exemplo é essa questão do cálculo da área de preservação permanente: isso está no caput do parágrafo de todo o artigo que define a área de proteção permanente. Então se vetar isso, veta tudo, toda a proteção. O texto foi feito de uma forma para que você não possa vetar. Assim, do meu ponto de vista, não existe possibilidade do veto parcial. Mesmo que ela vete alguns pontos, se vetar, não vai resolver o problema estrutural.

ÉPOCA – É essa avaliação que está por trás da campanha que as entidades estão fazendo pelo veto total?
Capobianco –
Sim. Tem de vetar tudo e criar um outro projeto. Na verdade, o certo seria ter um projeto com origem no Executivo. E não permitir que a bancada ruralista fizesse um projeto que prosperasse.

ÉPOCA – E Belo Monte, a outra grande polêmica do governo Dilma?
Capobianco –
Belo Monte não é uma polêmica. Não vejo polêmica ali. O problema de Belo Monte é o processo de licenciamento que não seguiu a tramitação adequada. O que um licenciamento ambiental obrigatoriamente tem de fazer? Tem de identificar todos os impactos e avaliar se esses impactos são mitigáveis ou não. Tem empreendimentos em que os impactos são tão absurdos, que não tem como resolver. Belo Monte está nessa linha. Mas vamos supor que, no caso de Belo Monte, tivesse como resolver. O que aconteceu? O processo não teve todos os impactos adequadamente levantados, as comunidades afetadas não foram adequadamente ouvidas, como exige a lei, e as medidas mitigadoras não foram adequadamente planejadas e implementadas. Então você tem um processo onde prevaleceu uma decisão política de licenciar e fazer essa obra de qualquer forma. Todo licenciamento ambiental foi tratado como um ônus necessário só porque a lei obriga. Não foi tratado como uma oportunidade para você, de fato, equacionar todos os problemas e compor um acordo sobre o empreendimento com as populações afetadas. Belo Monte foi um processo goela abaixo. E agora estão aparecendo os problemas.

ÉPOCA – Se o problema está na condução do processo, não seria mais fácil fazer tudo certinho, até para evitar os prejuízos com todos esses conflitos? Por que, na sua opinião, o governo faz dessa forma?
Capobianco –
Minha interpretação: há uma concepção no atual governo de que a questão ambiental é secundária, é menor, ela não justificaria. Então se você tem essa visão, essa ideia de que a questão ambiental é secundária, qualquer discussão vira um negócio… Aí alguém diz: “é um absurdo esse processo de licenciamento, demora anos”. Sim. É assim. Você tem obras em outros países relevantes que demoram dez anos para licenciar. Porque é um processo onde você deve, de fato, esgotar o problema. Você tem de resolver o problema. Não adianta você achar que é uma questão cujo objetivo é atrasar a obra. O objetivo é o seguinte: você tem de resolver o problema. Só que para isso você tem de ter compromisso. E considerar que esses são problemas de fato. Olha só, voltando à linha dos retrocessos: o governo editou um conjunto de portarias para normatizar o licenciamento ambiental. Uma delas define uma quilometragem para dizer se a comunidade é afetada ou não pela obra. Então diz lá: “comunidades até X quilômetros são afetadas e precisam ser ouvidas”. Mas e a comunidade que estiver X quilômetros mais um, não será ouvida? Não, não será ouvida.

ÉPOCA – Mas precisa ter um critério objetivo, não?
Capobianco –
Claro. Mas qual tem de ser esse critério? Antes, as comunidades que comprovadamente eram afetadas, através de estudos ambientais, laudos, eram ouvidas. Os laudos diziam: “olha, essa comunidade será afetada por A, B ou C problema”, independentemente se estiver a um quilômetro ou a 20 quilômetros. Outro exemplo incrível: quando você tem um licenciamento, vários órgão têm de opinar. Se afeta terra indígena, a Funai tem de opinar; se afeta patrimônio arqueológico, o Iphan tem de opinar; se afeta área de conservação, o Instituto Chico Mendes tem de opinar; e o Ibama tem de opinar sobre tudo. Aí o órgão demora para opinar. É um problema. Por que o órgão está demorando para opinar? É corpo mole? É oposição ao empreendimento? Mas pode ser que o órgão esteja desaparelhado, não consegue. O que o governo fez? Deu um prazo: se o órgão não opinar naquele prazo, significa que ele aprovou o empreendimento por decurso de prazo. É uma coisa absurda. Criou-se o licenciamento por decurso de prazo. É como se fosse por WO. Não importa se foi uma dificuldade para consultar a comunidade -algumas são isoladas, de dificílimo acesso-, ou se foi incapacidade física para atingir o local. O Brasil não é uma Suíça em que você pega o carro, anda um pouco e encontra qualquer comunidade. Estamos falando de Amazônia, onde estão as grandes obras. Para você consultar uma comunidade indígena, muitas vezes você precisa entrar com avião, barco, jipe, são dificuldades inerentes a um país continental como o nosso.

ÉPOCA – Mas não dá para não ter prazo algum, certo? Vai ficar solto, sem prazo?
Capobianco –
Mas já existe prazo. A lei prevê prazo, claro. O que eles fizeram foi dizer que se não cumprir, acabou tudo, está aprovado. O que o governo deveria fazer? Quando há problema de atraso, deveria chamar o órgão e perguntar. Por que atrasou? O que aconteceu? Qual é a justificativa para não ter feito essa manifestação no prazo? Se o órgão não tiver justificativa, faça a ação necessária, substitua o executivo. Mas não pode dizer “se não cumpriu o prazo, azar o seu”. Nesse caso, o que o governo está privilegiando? Não está privilegiando o conteúdo, mas o prazo. Que prazo? O prazo da obra. A pergunta é: o governo está privilegiando a qualidade do empreendimento ou está privilegiando a agenda do empreendedor? No governo Dilma, a decisão, claramente, é privilegiar a agenda do empreendedor. Faz isso em detrimento da questão ambiental, das populações indígenas, das comunidades tradicionais.

ÉPOCA – Como o senhor avalia a questão das áreas de proteção?
Capobianco –
O governo não criou nenhum hectare de área de proteção ambiental. Ao contrário. Pela primeira vez desde a Constituição um governo reduz a área protegida. Reduziu na Amazônia para fazer hidrelétricas no rio Tapajós. Pode reduzir? Legalmente pode, mas você compensa com outra área para não ter perda. Isso é comum. Para isso é preciso fazer um projeto de lei e encaminhá-lo para o Congresso, onde tem audiência pública, debate, consultas, tem o contraditório. O que o governo fez agora? Fez por Medida Provisória. É o ápice da loucura, porque é uma decisão unilateral do poder Executivo. Qual é a urgência e relevância de reduzir um parque nacional para o canteiro de uma obra que não nem sequer foi licenciada?

ÉPOCA – Qual é?
Capobianco –
Essa história da redução do parque para fazer hidrelétrica no rio Tapajós é reveladora da visão do atual governo. Ele não submete a obra ao licenciamento, nem sabe se a obra vai ser aprovada do ponto de vista ambiental, mas ele já reduziu o parque. Já provocou um dano permanente. Qual é a leitura disso? A leitura é que o governo já decidiu que vai fazer a hidrelétrica, que o licenciamento é favas contadas, virá de qualquer jeito. Eu não diria que é uma postura anti-ambiental. Mas é uma visão em que a questão ambiental está em 14º plano.

ÉPOCA – A presidente Dilma disse que as pessoas contrárias a hidrelétricas na Amazônia vivem num estado de “fantasia”.
Capobianco –
Fantasia é viver num mundo onde você acha que apenas as hidrelétricas vão responder à questão energética. Se ela tivesse dito que a energia eólica nunca será capaz de suprir a demanda crescente, todos nós concordaríamos. Porque não é nem a eólica, nem a solar, nem a hidrelétrica, nem a nuclear e nem a térmica que vai, individualmente, suprir a demanda. Nenhum país tem mais isso. Todos, a começar pela China, que é o mais emblemático, passando pelos Estados Unidos e pela a Europa inteira, estão investindo pesadamente nas fontes múltiplas. A questão é o conjunto atuando sinergicamente. Na eólica, o Brasil tem potencial enorme. Se utilizasse tudo, teria mais que toda a energia somada que o Brasil gera hoje. Então a grande fantasia é dela, achando que vai convencer os líderes que estarão aqui na Rio+20 de que essa tese de dar ênfase só na hidrelétrica é viável. Ela acha que alguém vai acreditar nisso? Todos já abandonaram essa tese.

ÉPOCA – E o Ministério do Meio Ambiente, como tem agido?
Capobianco –
Para nossa surpresa, é a primeira vez que a gente vê uma operação de desmonte da legislação, de fragilização dos órgãos ambientais, sem que o ministro se insurja contra. É a primeira vez, desde a época do Paulo Nogueira Neto, ainda no governo militar. Nós tivemos vários episódios no passado em que o ministro do Meio Ambiente tomou a iniciativa, se manifestou, ameaçou se demitir. Faziam o que a gente chama de contraponto no centro do governo. Qual é o papel do ministro do Meio Ambiente dentro governo? É fazer a crítica interna, inclusive em benefício do próprio governo.

ÉPOCA – Mas o senhor tem essa informação de dentro? A ministra Izabella Teixeira faz essas críticas internas e é derrotada ou nem faz? O senhor está dizendo que ela não faz.
Capobianco –
Ela se pronuncia na imprensa defendendo essas medidas. Ela defende o Código Florestal do Senado, diz que ele é excelente, que vai promover o maior programa de recuperação florestal do mundo. Não sei de onde tirou isso. Ela não está posicionada fazendo o contraponto. Ela está apoiando institucionalmente essas coisas.

ÉPOCA – Depois de surpreender o país com 20 milhões de votos em 2010, a ex-senadora Marina Silva optou pela neutralidade no segundo turno. Se ela tivesse apoiado Dilma no segundo turno, naquela fase decisiva, não teria agora melhores condições políticas para influenciar o governo nesses assuntos?
Capobianco –
Analisar fatos passados à luz dos atuais dá errado. O que eu posso dizer é o seguinte: a campanha Marina Silva trabalhou verdadeiramente a questão da defesa de uma proposta de governo, apesar do partido. Foi uma campanha de propostas. A mensagem era “eu não vou para o embate, vou para o debate”. E os 20 milhões de votos foram dados a ela, na minha opinião, porque ela manteve uma coerência, em todo o processo, de insistir nisso, de dizer que o Brasil precisava e merecia uma discussão de propostas. Então quando a campanha acabou, qual foi a avaliação? Ela tem uma capacidade muito grande de sintetizar. Perguntaram o que ela iria fazer com os 20 milhões de votos. Ela respondeu assim: “Eu não tenho votos, quem tem voto é o eleitor. Ele votou em mim e em uma proposta que incluía uma crítica aos dois adversários”. A Marina fez uma crítica permanente aos dois candidatos, o Serra e a Dilma, dizendo que eles tinham desrespeitado a eleição. Fizeram um embate entre eles, uma baixaria, em detrimento ao eleitor. Então como é que ela poderia apoiar um ou outro depois daquilo?

ÉPOCA – Os dois queriam apoio. Não era o momento político ideal para amarrar uma pauta?
Capobianco –
Nós colocamos a pauta. Dissemos “não, não tem apoio, mas vamos fazer um documento com questões fundamentais e apresentá-lo para os dois, vamos ver como eles respondem”. A Dilma respondeu muito corretamente. Foi aí que ela disse que vetaria qualquer iniciativa que implicasse em anistia, redução de proteção ou incentivo ao desmatamento. O Serra respondeu de maneira mais evasiva. Aliás, nem respondeu, foi o Sérgio Guerra (presidente do PSDB) que respondeu. O que nós fizemos? Colocamos no site as duas manifestações. Ficou claro que a Dilma assumiu aqueles compromissos. Acho que foi uma decisão política perfeitamente correta. Você pergunta agora se foi um erro da Marina. Não dá para avaliar assim. E se a Marina tivesse apoiado a Dilma naquele momento e agora estivesse acontecendo tudo isso aí do mesmo jeito, o que você me perguntaria? Você iria dizer assim: “Não foi um erro apoiar a Dilma? Esse apoio não acabou legitimando esse desmonte no setor de meio ambiente?” A Marina fez o certo. Ela preservou sua credibilidade e agora não tem responsabilidade por isso que está sendo feito.

ÉPOCA – O que podemos esperar do Brasil na Rio+20?
Capobianco –
É mais um bom exemplo da mudança da perspectiva do governo no Brasil. Na Rio 92 eu era membro, participei de todas as reuniões de organização, de toda discussão da agenda, de todas as reuniões interministeriais. Também participei da Rio+5 e da Rio+10. Digo o seguinte: é surpreendente como a Rio+20 está virando o anti, do anti, do anti. A Rio 92 era diferente. É a ONU que coordena tudo, mas o país sede tem uma importância enorme nesse tipo de evento. A receptividade dele, a forma como ele interage com a agenda é decisiva para tornar o ambiente favorável ao avanço. Da mesma forma, você não pode fazer uma conferência para discutir direitos humanos num país que desrespeita direitos humanos. Por que não pode? Ora, qual é o ambiente para a discussão? Na Rio 92 o Brasil agiu com extrema competência, apoiou as convenções, apoiou o debate ambiental, teve iniciativas internas, criou a terra Yanomami, fechou o Serra do Cachimbo, uma série de medidas. Foi pró-ativo. O Brasil favoreceu a agenda ambiental no processo da Rio 92. E criou um ambiente positivo apesar dos problemas políticos daquela época, impeachment do Collor e tudo aquilo. Tanto foi positivo que a Rio+20 agora é novamente no Brasil. Mas como é que o Brasil recebe a Rio+20 agora? Primeiro, uma desorganização, um despreparo para a recepção. Segundo, uma agenda totalmente anti-ambiental. O que o Brasil fez de relevante na área ambiental nos últimos meses? Terceiro: o que o Brasil está fazendo em relação à agenda do evento?

ÉPOCA – O que está fazendo?
Capobianco –
Pegue a entrevista do responsável pela Rio+20 e leia. Ele diz assim: “vocês estão equivocados, a questão ambiental não é só meio ambiente strictu senso, tem de ter o econômico e o social”. É verdade, mas achar que a Bolsa Família é o grande exemplo do Brasil para o mundo nisso? É o grande exemplo social, claro. Mas do ponto de vista ambiental é uma relação muito tênue. A Bolsa Família deve entrar no debate, sim. Mas esse é o tema principal do Brasil? Acho que não.

ÉPOCA – Qual deveria ser a questão central?
Capobianco –
A questão central da Rio+20 é a crise ambiental. Temos clareza dos riscos, indicadores precisos, mas existe um problema de implementação da agenda das grandes convenções climáticas. A Rio+20 não vai discutir isso? Não vai fazer uma avaliação disso? O papel do Brasil seria se insistir nisso, numa agenda desse tipo, uma agenda internacional que coloque o dedo na ferida. É preciso fazer uma reflexão real que gere resultados. Então o risco é a Rio+20 ser uma infindável reunião de boas intenções que só gere blá-blá-blá. A pauta ficou genérica, esvaziada. O Brasil tem atributos incríveis, uma patrimônio natural incrível. Mas o que o governo está fazendo? O que está fazendo em relação ao etanol, por exemplo? Para defendê-lo? Para promovê-lo? Qual é o investimento em energia renovável? O Brasil está construindo Belo Monte, construindo no rio Madeira, no Tapajós. Está fazendo hidrelétrica em terra indígena com licenciamento por decurso de prazo. É inacreditável.

ÉPOCA – As usinas eólicas estão crescendo, o ritmo é bem forte.
Capobianco –
Apesar do governo. A eólica está crescendo no Brasil apesar do governo. Não existe uma linha de apoio em relação à energia eólica. Está crescendo para surpresa do governo. O governo se surpreendeu com o interesse dos investidores. Porque na visão do governo é hidrelétrica e termoelétrica. Uma loucura. E termonuclear. Uma visão totalmente no outro caminho. A Rio+20 está ocorrendo num momento em que o mundo inteiro está com dificuldades para implementar agenda, não é um privilégio do Brasil. Mas no Brasil não é só dificuldade, é retrocesso. E o Brasil vai sediar a Rio+20 num ambiente extremamente negativo, com uma avaliação muito ruim e com uma agenda fraca. Corre o risco de ter uma Rio+20 esvaziada, o que seria muito ruim para o país.

ÉPOCA – Que país, hoje, tem uma agenda ambiental forte?
Capobianco –
Muitos. Os países da União Européia, apesar da crise do Euro e das dificuldades, têm. A China tem. Está fazendo investimentos na chamada economia verde e em zonas tecnológicas de uma forma absurda. A China tem hoje o maior programa de reflorestamento do mundo, a China tem o maior programa de parque eólico e de investimentos em energia solar do mundo.

ÉPOCA – E tem os rios mais poluídos do mundo, uma das maiores emissões do mundo, carvão, o ar mais estragado do mundo…
Capobianco –
Tem, claro que tem. Mas a questão é a seguinte: como é que você faz a conversão? Ela é feita a partir de soluções. Como é que você vai resolver o problema de produção de energia? Primeiro, pela eficiência, pela redução de consumo. Depois, pela questão das energias renováveis. Se você não tem um investimento pesado em renováveis, você nunca vai sair do ciclo vicioso. Se você pegar o valor de investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil nos próximos anos, vai ver que o investimento em derivados do petróleo é a enorme maioria. É na contramão.

ÉPOCA – Então o Brasil é o vilão do meio ambiente?
Capobianco –
Não é isso. O Brasil não é o vilão da história. O vilão na convenção de clima não é o Brasil, é a China e os Estados Unidos. O problema é como você trata a perspectiva. É isso que chama a atenção hoje no Brasil. O Brasil vinha de uma agenda crescente, cumulativa e importante na área ambiental. O Brasil fez uma opção de se comprometer com metas de redução de emissão. Foi o primeiro país em desenvolvimento a fazer isso, gerou um impacto político positivo. Você vinha num processo. E o que tem agora? Tem um refluxo. E esse refluxo vai custar caro para o Brasil. Caro porque o país vai retardar sua adaptação e sua preparação para o acirramento desse debate. Vai custar caro porque o Brasil vai encontrar dificuldade no plano internacional para obter apoio para suas propostas. Vai custar caro porque o Brasil vai encontrar dificuldade para se manter na liderança política que ele vinha conquistando. Caro porque o Brasil vai deixar de aproveitar as oportunidades econômicas da chamada economia verde.

ÉPOCA – Na sua opinião, o que o Brasil deveria estar fazendo?
Capobianco –
O Brasil poderia estar aproveitando suas possibilidades com etanol, por exemplo, para estimular a redução da emissão de carbono. Hoje, porém, o cidadão vai no posto e se o preço do álcool não compensa, ele não usa. Mas e o ganho ambiental do álcool? É um processo limpo, você tem várias vantagens para a economia verde. Mas o governo não tem nem campanha para mostrar esses ganhos. Aliás, ocorre o contrário: o governo segura artificialmente o preço da gasolina, numa atitude populista, em detrimento de um de seus grandes ativos na chamada economia verde. É uma concepção pré-1992. Eu diria que é um governo primitivo na questão da percepção da importância estratégica disso tudo. Não adianta ter as pessoas com melhor renda, melhor salário, podendo comprar, se o ambiente for todo degradado, sem qualidade de vida. A visão do governo é essa: tem de aumentar o consumo. O consumo pelo consumo. Repare: o programa do governo é de Aceleração do Crescimento, PAC. Não é um programa de Aceleração do Desenvolvimento, PAD. Então o governo é pré-histórico na questão ambiental. E ao ser pré-histórico, acaba, por omissão e por ação, permitindo que o que há de mais atrasado no Brasil faça valer sua agenda. É um governo mais para milagre econômico, década de 70, do que para terceiro milênio.

Sem Terra ocupam Ministério do Desenvolvimento Agrário

Cerca de 1,5 mil trabalhadores rurais Sem Terra ocupam, desde a manhã desta segunda-feira (16/4), o prédio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em Brasília, para denunciar a estagnação da Reforma Agrária e a diminuição de investimentos em desapropriações de terras no país por parte do governo federal.

Video: http://www.mst.org.br/ocupacao-mda 

 

A ação integra a Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária que o MST promove todos os anos em abril, mês em que 21 trabalhadores Sem Terra foram mortos no episódio conhecido como Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, em 1996.  

 

Entre as principais pautas de reivindicação dos trabalhadores, estão a elaboração de um plano emergencial para o assentamento das mais de 186 mil famílias acampadas e a criação de um programa de desenvolvimento dos assentamentos, com investimentos públicos em habitação rural, educação e saúde, além de crédito agrícola. 

 

“O primeiro ano do governo Dilma foi o pior para a criação de assentamentos dos últimos 16 anos. Agora em abril, o Ministério do Planejamento cortou mais de 60% do orçamento do Incra, o que deve inviabilizar os programas de assistência técnica e educação. Não podemos admitir que a burocracia do governo corte as verbas relacionadas à melhoria da produtividade e à educação, compromissos sempre tão reforçados nos discursos da presidenta Dilma”, afirma Alexandre Conceição, da Direção Nacional do MST. 

 

Reforma Agrária combate a pobreza

 

Um levantamento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) aponta que a insegurança alimentar é maior na área rural do que na urbana. Enquanto 6,2% e 4,6% dos domicílios em área urbana apresentavam níveis moderado e grave de insegurança alimentar, respectivamente, na área rural as proporções foram de 8,6% e 7%. “A presidenta Dilma fez o compromisso de acabar com a pobreza no seu governo. A Reforma Agrária, casada com um programa de agroindustrialização da produção, é a resposta para enfrentar a pobreza, porque gera renda, cria empregos e aumenta a produção de alimentos”, completa Conceição.

 

Mais um ano de impunidade

 

Uma ação da Polícia Militar do Pará, em 1996, na BR 155, em Eldorado dos Carajás, assassinou 19 camponeses e expôs para todo o país a questão da violência no campo contra aqueles que lutam pela Reforma Agrária. Até hoje, ninguém foi punido pelo massacre: os dois comandantes da polícia militar condenados há 220 anos de prisão estão soltos.

 

Em 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu o dia 17 de abril como o Dia Internacional de Luta pela Terra. O MST realiza durante o mês de abril jornadas de lutas, com ocupações, marchas e atos pelo país inteiro, para pressionar o governo a priorizar a pauta da Reforma Agrária e honrar a memória daqueles que perderam suas vidas na luta pela terra. 

 

 

16 anos de impunidade. Jornada de Lutas exige Reforma Agrária e justiça

5 de abril de 2012 Por José Coutinho Júnior Da Página do MST

Quando eu morrer
Cansado de guerra
Morro de bem
Com a minha terra:
Cana, caqui
Inhame, abóbora
Onde só vento se semeava outrora
Amplidão, nação, sertão sem fim
Ó Manuel, Miguilim
Vamos embora
(Chico Buarque – Assentamento)


“Morrer de bem com a minha terra”. Infelizmente, muitos sem-terra já morreram sem ter uma terra que possam chamar de sua. O massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido em 1996, na BR 155, sul do Pará, no qual 155 policiais militares utilizaram armas de fogo contra 1500 Sem Terras, entre os quais mulheres e crianças.

A ação da PM assassinou 19 camponeses e expôs para todo o país a questão da violência no campo contra aqueles que lutam pela Reforma Agrária. Até hoje, ninguém foi punido pelo massacre, e os sobreviventes, mutilados tanto física quanto psicologicamente, continuam sem receber a devida assistência médica.

Em 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu o dia 17 de abril como o Dia Internacional de Luta pela Terra. O MST realiza durante o mês de abril jornadas de lutas, com ocupações, marchas e atos pelo país inteiro, para pressionar o governo a priorizar a pauta da Reforma Agrária e honrar a memória daqueles que perderam suas vidas na luta pela terra.

“Nosso dia de lutas surgiu infelizmente por causa de Eldorado dos Carajás. O latifúndio é inerentemente violento e impede as pessoas de viver e trabalhar no Campo. O que ocorreu em Carajás nos dá força e clareza para lutar, pois enquanto houver latifúndio, a desigualdade, violência e falta de democracia no Campo vão continuar”, acredita Jaime Amorim, dirigente do MST em Pernambuco.

Para Dom Tomás Balduíno, Bispo emérito de Goiás co-fundador da Comissão Pastoral da Terra (CPT), “esse dia lembra a força da caminhada dos trabalhadores do Campo, que se arrasta desde Zumbi dos Palmares até hoje na história do Brasil. A luta pela Reforma Agrária não é questão de conseguir apenas um pedaço de chão, mas de mudar nosso país. A luta é profunda, ampla e de mudanças”.

A terra está ali, diante dos olhos e dos braços, uma imensa metade de um país imenso, mas aquela gente (quantas pessoas ao todo? 15 milhões? mais ainda?) não pode lá entrar para trabalhar, para viver com a dignidade simples que só o trabalho pode conferir, porque os voracíssimos descendentes daqueles homens que primeiro haviam dito: “Esta terra é minha”, e encontraram semelhantes seus bastante ingênuos para acreditar que era suficiente tê-lo dito, esses rodearam a terra de leis que os protegem, de polícias que os guardam, de governos que os representam e defendem, de pistoleiros pagos para matar. (José Saramago)

Dezesseis anos depois do massacre, os conflitos no campo continuam; neste ano, três membros do MLST foram assassinados em Minas Gerais. Já em Pernanbuco, outros dois companheiros do MST foram tombados por balas de pistoleiros nos últimos dias.

Jaime acredita que hoje a violência contra os assentados está mais seletiva. “Temos dois tipos de violência: a primeira, perpetrada por grandes grupos de fazendeiros atacando lideranças locais, como aconteceu este ano. A segunda é a violência do Estado, que se utiliza do aparato jurídico para impedir as pessoas de olhar para frente e enxergar a perspectiva de uma Reforma Agrária concreta. O fato de que temos muitos acampamentos que já duram 10, 15 anos pela desapropriação do Estado é por si só uma violência”.

Dom Tomás afirma que esta violência ocorre porque “o poder público nega sistematicamente a Reforma Agrária, apoiando o discurso dos grandes fazendeiros e empresas de que ‘o agronegócio é o modelo do progresso’. Tudo que se opõe a este suposto progresso, segundo essa lógica, são obstáculos que devem ser removidos”.

Aliado a isso está o papel da mídia, cujas informações refletem os interesses das elites
alinhadas com o agronegócio. “A imprensa mudou sua postura: antigamente ela criminalizava os movimentos e desqualificava a luta e as lideranças. Hoje, ela tenta ignorar as lutas sociais de sua agenda, e a população, sem informação, se afasta do tema, formulando ideias de que o movimento está desmobilizado ou que a luta pela Reforma Agrária não é mais importante”, analisa o dirigente do MST.

E se, de repente
A gente não sentisse
A dor que a gente finge
E sente
Se, de repente
A gente distraísse
O ferro do suplício
Ao som de uma canção
Então, eu te convidaria
Pra uma fantasia
Do meu violão
(Chico Buarque – Fantasia)

Para que a Reforma Agrária torne-se realidade e a felicidade deixe de ser uma fantasia, é preciso lutar. Jaime afirma que “estamos animados para a jornada de lutas deste ano, pois ela vai ser uma demarcação de força. Estamos construindo uma unidade maior entre unidades e movimentos do campo, pois todos nós temos sido agredidos pelo mesmo aparato. Temos que nos unir para soltar um grande grito pela Reforma Agrária e contra o latifúndio”.

O rio de camponeses se põe novamente em movimento; foices, enxadas e bandeiras se erguem na avalanche incontida das esperanças nesse reencontro com a vida – e o grito reprimido do povo sem-terra ecoa uníssono na claridade do novo dia: "REFORMA AGRÁRIA, UMA LUTA DE TODOS!" (Sebastião Salgado)"

Terra, 15 anos 

Os trechos em negrito e a foto desta matéria foram retirados do livro Terra, que foi lança há 15 anos. O livro é composto por fotos do fotógrafo Sebastião Salgado sobre a vida dos indígenas e camponeses em um país cuja terra não lhes pertence mais. O prefácio é do escritor José Saramago, e as músicas de Chico Buarque, cujo CD acompanha a obra. Os três juntos constituem a Coleção Terra, criada em 1997. Para Dom Tomás, a arte com foco político se faz fundamental, pois “o povo que luta também celebra, canta, faz seus repentes e trovas. A caminhada do povo é poética, inspirada na mística e profética”.

Jaime avalia que “o MST sempre produziu muito culturalmente, e isto serve de inspiração para quem acompanha o Movimento de fora, como artistas famosos, apoiarem o movimento. Mas os momentos onde a arte está mais próxima da luta política são os momentos de maior mobilização. Arte, cultura e educação caminham lado a lado no movimento”.
 

ANO APÓS ANO, e cadê a Justiça?

Artigo da revista caros amigos,  abril de 2012.

 

Por Joao pedro stedile

 

No dia 17 de abril de 1996, sendo presidente Fernando Henrique Cardoso, as tropas da policia militar autorizadas pelo Governador Almir Gabriel(PSDB-Para), e financiadas pela empresa VALE DO RIO DOCE  (como denunciou mais tarde no processo o advogado dos policiais..), atacaram uma marcha pacífica de mais de mil familias de sem terras que saíram de Eldorado dos Carajás rumo a Belém.

O resultado  do massacre todos sabem, até as pedras.  19 sem-terras assassinados, alguns com requintes de crueldade, depois de algemados, foram mortos a coronhadas.  Outros dois morreram alguns meses depois, e mais de 60 sofreram seqüelas até hoje, impossibilitados para o trabalho agrícola.

 

A sociedade brasileira ficou estarrecida.  A ONU, os bispos, o Papa e os orixás clamaram por justiça.  Os movimentos camponeses de todo mundo escolheram então o dia 17 de abril, como dia mundial da luta camponesa, em homenagem àqueles mártires.

 

Seguiu-se um lento processo na Justiça paraense, que chegou a um Júri Popular,em 2002, que condenou os dois principais comandantes militares a penas de mais de 200 anos de cadeia.    Os comandantes recorreram.  O poder judiciário os acolheu. E silenciou.  Passados 16 anos do massacre, nenhum responsável direta ou indiretamente foi preso, punido ou sofreu qualquer restrição por parte da “justiça”  brasileira ! 

 

Por essas e outras é que o povo brasileiro, de longe, considera o poder judiciário, o mais injustro, o mais anti-democratico, o mais corporativo, o mais servil aos interesses da burguesia.   Como diz o ditado popular, cadeia no Brasil, é feita para pobres e pretos!!.

Mas algum dia teremos uma reforma  do poder judiciário, para estancar a vergonha das injustiças, dos salários imorais, das vantagens e das infiltrações denunciadas até pelo Conselho Nacional de Justiça.

 

Felizmente, os sobreviventes foram assentados num latinfudio de 50 mil hectares, que até então  o Incra dizia ser “produtiva” e hoje se constituem na  mais produtiva e  progressista comunidade rural  do município de Eldorado dos Carajás, o distrito de 17 de abril!.

 

 

Enquanto isso, cadê a reforma agrária?

 

O capital agrário e as corporações transnacionais estão “nadando de braçada” na agricultura brasileira.   Depois da crise do capitalismo internacional, os preços médios das commodities agrícolas dobraram.  Isso representou uma enorme aumento na taxa  de lucro, e uma corrida dos capitalistas de todo mundo, para comprar terras no Brasil, América Latina  e controlar a produção das mercadorias agrícolas.

Resultado:  O Brasil sofreu nos últimos anos, o maior índice de concentração de terras de todos os tempos.  Está em curso uma enorme concentração da produção agrícola, que destina 85% de todas as terras agrícolas apenas para quatro produtos: soja, milho, cana e pecuária de corte.    A economia brasileira de volta aos tempos coloniais,  virou agro-exportadora, enquanto a industria caiu para apenas 15% do PIB.

 

O agronegocio concentra terras e produção.  Aumenta sua dependência dos fertilizantes importados que esse ano atingiu a marca de 28 milhões de toneladas.  Transforma o Brasil no maior consumidor mundial de venenos agrícolas, que contamina o solo, as águas,e  até a atmosfera,  matam seres vegetais, animais, e proliferam o câncer em mais de um milhão de brasileiros por ano.  Sendo que segundo o Instituto Nacional do Câncer, somente 40% escparão com vida!

Desequilibra o meio ambiente com seus desmatamentos e destruição da biodiversidade. Altera o clima.  Mas segue ganhando muito dinheiro.

Tudo isso é saudado pela imprensa burguesa como o sucesso do progresso!

 

E o governo ? 

Bem, o governo ainda não tomou posse na área agrária, e quando se manifesta é para dizer besteira, como essa repetição burra, de que reforma agrária não é  distribuir terras, que primeiro temos que melhorar a qualidade dos assentamentos.

Seria a mesma coisa de dizer  aos 10 milhões de famílias brasileiras que vivem em moradias precárias, que o governo não vai mais construir casas, que antes prefere  reformar as casas dos que já tem.

Senhores governantes : procurem no dicionário da educação do campo, recém editado pela Fiocruz,  ou no Aurélio.  Reforma agrária é um programa governamental, em que o estado desapropria as grandes propriedades, os latifundios e os distribui entre os agricultores sem- terra,  promovendo a democratização da propriedade rural no país.

Todos os países do hemisfério norte,  todas as democracias contemporâneas realizaram reformas agrárias, democratizaram o acesso a terra, como base para construção de sociedades mais democráticas.  Afinal, a terra é um bem da natureza, e todos os cidadãos tem os mesmos direitos sobre elas, assim como tem direito a alimentação, a emprego,  moradia digna e a educação.

 

Como não querem fazer uma verdadeira reforma agrária , ficam inventando subterfúgios de ocasião.  Sejam mais sinceros, pelo menos!    E menos burros, porque os grandes proprietários de terra, as empresas transnacionais e o agronegocio sempre fizeram campanha e financiaram os candidatos neoliberais e contrários ao governo Lula e Dilma. 


João Pedro Stedile, da coord. Nacional do MST e da via campesina Brasil

Semana de lucha campesina en Madrid 13-22 Abril

SEMANA DE LUCHA CAMPESINA MADRID 2012

POR LA SOBERANÍA ALIMENTARIA Y CONTRA LOS OMG EN LA AGRICULTURA Y ALIMENTACIÓN


http://noquierotransgenicos.wordpress.com/actividades-2012/comunidad-de-madrid/
 

El 17 de abril es el Día Internacional de las Luchas Campesinas, que conmemora la masacre de 19 campesinas y campesinos que luchaban por tierra y justicia en Brasil en 1996. Cada año se celebra este día en todo el mundo, en defensa de las campesinas y los campesinos que luchan por sus derechos.

Desde la Iniciativa por la Soberanía Alimentaria de Madrid (ISAm) nos sumamos a esta fecha con un programa repleto de acciones y confererencias, con las que queremos invitaros durante esta semana a celebrar y reivindicar de manera local (en nuestras calles, parques, mercados, centros sociales, universidades y huertos urbanos) la lucha global por la soberanía alimentaria.

 ¿Qué es la Soberanía Alimentaria? El derecho de todos los pueblos a definir sus propias políticas de producción, distribución y comercio de alimentos, garantizando una alimentación sana y sostenible social, cultural y ambientalmente.

 

La Iniciativa por la Soberanía Alimentaria de Madrid (ISAm): Es un espacio de encuentro abierto, formado por productores/as, consumidores/as y colectivos de la sociedad civil que trabajamos reivindicando la Soberanía Alimentaria y construyéndola desde una perspectiva local.

 

¿Cuáles son algunas de las luchas locales y globales por la soberanía alimentaria?

   El derecho a la alimentación. ¡Fuera la agricultura y alimentación de la OMC! ¡No a la especulación finaciera con los alimentos y las tierras!

   El acceso a los recursos de producción del campesinado y de los sin tierra: Tierra, agua, semillas y crédito. ¡No al acaparamiento/robo de tierras! ¡No a las patentes sobre la vida!

   Los modelos de producción campesina agroecológica y los mercados locales. ¡No a la agricutura industrial que contribuyen al cambio climatico!  ¡Por una agricultura respetuosa con el planeta, los campesinos y os consumidores!

   El reconocimiento del papel y de los derechos de las mujeres, productoras del 60% de los alimentos del mundo.

   Políticas públicas agrarias y comerciales en las que participe el campesinado y los consumidores. ¡No al injusto reparto de las ayudas de la PAC! ¡No a los abusos de poder del agronegocio en la cadena agroalimentaria! ¡Por un mundo rural vivo!

   El derecho de los consumidores a decidir lo que quieren comer, y cómo y quién lo produce. ¡No a los OGM (Organismos Genéticamente Modificados o transgénicos) en nuestros campos, mesas y cuerpos!

 

¡GLOBALICEMOS LA LUCHA, GLOBALICEMOS LA ESPERANZA!

 

Actividades 2012

ACCIONES POR LA SOBERANÍA ALIMENTARIA

Viernes 13 abril: Fiesta de disfraces “Así me quedé de comer transgénicos” 21h en La Dragona-Ecologistas en Acción (Marqués de Leganés 12)

Sábado 14 abril: Sábado verde en la huerta: trabajando la tierra comunitariariamente

13h en La Huerta de Cantarranas, Viveros UCM (Ciudad Universitaria, detrás de periodismo)

Domingo 15 abril: Pasacalles por la Soberanía Alimentaria con la charanga “Charangalera”

12h en Plaza de Cascorro (Rastro)

Sábado 21 abril: Degustación de alimentos locales producidos en la Comunidad de Madrid (con charla y debate) Slow Food Madrid  12:00 h en el Mercado de San Fernando (Embajadores 41)

Domingo 22 abril:  Pasacalles reivindicativo por el Día de la Tierra con el lema “Por el medio ambiente, el clima y la justicia social” 12:00 h  Recorrido pendiente de confirmar

 

CICLO DE CONFERENCIAS: LUCHAS POR LA SOBERANÍA ALIMENTARIA

Domingo 15 abril: La reforma de la PAC (Política Agraria Común): Implicaciones ecológicas y socioeconómicas. Asamblea de Medio Ambiente 15M-Sol, AGIM-COAG, Ana Carricondo (SEO/Birdlife), Ecologistas en Acción 16h en Retiro (Quiosco de la Música)

 Martes 17 abril: Luchas por la Soberanía alimentaria en Madrid: La Iniciativa

por la Soberanía Alimentaria en Madrid (ISAm) y la Red de Huertos Urbanos de

Madrid (ReHdMad). ISAm y Kois Fernández (FRAVM y ReHdMad)

18-20h en Salón de Actos, Edificio de Alumnos, Universidad Complutense de Madrid (Ciudad Universitaria)

Miércoles 18 abril: Amenazas y oportunidades para la Soberanía Alimentaria en el mundo y en Europa: Compra de tierras, especulación financiera, cambio climático, PAC, cadena agroalimentaria y normativa higiénico-sanitaria europea Tom Kuchard (Ecologistas en Acción) y Belén Martínez (Aula Rural, Universidad Complutense de Madrid)

19-21h en Tabacalera (Embajadores 53)  

Jueves 19 abril: Petroalimentos y Cambio Climático: Alternativas para la producción y distribución local de alimentos Blanca Ruibal (Amigos de la Tierra) y Juan Sánchez-Bravo (productor ecológico de Madrid) 19-21h en Tabacalera (Embajadores 53) 

Viernes 20 abril: Por un mundo rural vivo en el Estado español: Proyección del documental "La Tierra asoma" sobre el proyecto de Amayuelas y presentación de los encuentros de Rurales EnREDadxs. Jeromo Aguado (Plataforma Rural y URPF en Tierra de Campos) y  Rurales EnREDadxs 19-21h en Esta es una plaza (Doctor Fourquet 24)

 

Organiza: Iniciativa por la Soberanía Alimentaria de Madrid

http://noquierotransgenicos.wordpress.com/actividades-2012/comunidad-de-madrid/

Llamamiento a la IV Semana Estatal de Lucha. Por la Soberanía Alimentaria, Sin Transgénicos,

15 – 22 Abril de 2012

El 17 de abril es el Día Internacional de las Luchas Campesinas, que conmemora la masacre de 19 campesinas y campesinos que luchaban por tierra y justicia en Brasil en 1996. Cada año se celebra este día en todo el mundo, en defensa de las campesinas y los campesinos que luchan por sus derechos.

CONTACTO y DIFUSIÓN:  Para dar visibilidad común a las acciones que se realicen durante la Semana de Lucha, por favor comunica con antelación las actividades previstas en los territorios en el email agricultura1[at]tierra.org para darle difusión conjunta en el blog http://noquierotransgenicos.wordpress.com/

 

 En el Estado Español padecemos desde hace años la aplicación de políticas que promueven un modelo agrario con graves impactos sociales y ambientales. Así las políticas estatales, europeas e internacionales han permitido que en el Estado Español:

– Se fomente el modelo agroindustrial mientras que se han perdido, solo entre 2003 y 2008,  más de 124 000 empleos en el campo.

– La proliferación de los transgénicos: el Estado Español es el único país de la Unión Europea que cultiva transgénicos a gran escala, además de acoger casi la mitad de los experimentos con transgénicos al aire libre que se realizan en Europa

–  El acaparamiento de  la distribución de alimentos por parte de unas pocas empresas.

La sociedad lleva años movilizándose contra los cultivos transgénicos y por la Soberanía Alimentaria. El rechazo a estos cultivos y al modelo agrario que conllevan continúa creciendo. Cada vez tenemos más motivos para seguir con la lucha debido a las amenazas que sufren la agricultura campesina y los derechos de las personas consumidoras.  Por ello queremos hacer un nuevo llamamiento por la Soberanía Alimentaria en torno al Día Internacional de la Lucha Campesina, la semana del 15 al 22 de abril.

Tenemos que seguir recordando la demanda social mayoritaria de una agricultura y una alimentación libres de transgénicos, de una PAC (Política Agraria Común) justa que apoye la agricultura familiar y promueva un mundo rural vivo y de políticas estatales, europeas e internacionales que impidan el acaparamiento de tierras.

Y siguiendo el llamamiento de La Vía Campesina, unámonos y luchemos

¡Por la Soberanía Alimentaria! ¡Por una Agricultura y una Alimentación libres de transgénicos! ¡Acabemos con el acaparamiento de tierras! ¡La tierra para quienes la trabajan!

Entrevista de João Pedro Stedile no Jornal da Record News

5 de abril de 2012 Página do MST

Veja entrevista de João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, aos jornalistas Heródoto Barbeiro e Andrea Beron, no Jornal da Record News, na noite desta quinta-feira. 

Abaixo, veja as duas partes da entrevista. 

http://www.mst.org.br/Joao-Pedro-Stedile-participa-do-Jornal-da-Record-News-nesta-quinta-feira

 

 

Cuatro trabajadores sin tierra son asesinados en dos días

En menos de dos días, cuatro trabajadores rurales sin tierra fueron brutalmente asesinados en Brasil. En todos los casos figuran indicios de ejecución.

Escuchar noticia: http://www.radioagencianp.com.br/10711-Cuatro-trabajadores-sin-tierra-son-asesinados-en-dos-dias

En menos de dos días, cuatro trabajadores rurales sin tierra fueron brutalmente asesinados en Brasil. En todos los casos figuran indicios de ejecución. Los crímenes tuvieron lugar en los estados de Pernambuco, en el nordeste, y Minas Gerais, en el centro sur del país.

El último día 23, en el estado nordestino, el trabajador Antônio Tiningo fue víctima de una emboscada cuando iba para el campamento de la hacienda Açunena, en el municipio de Jataúba. Tiningo era un líder del MST de la región. Él coordinaba el campamento que ya existía hace tres años.

De acuerdo con el integrante de la coordinación del MST en Pernambuco, Jaime Amorim, en los últimos años la violencia contra los trabajadores rurales está intensificándose. Para él, esto ocurre porque el gobierno trata la reforma agraria con desatención.

“El área en la cual el trabajador fue asesinado ya había sido donada al Incra – Instituto Nacional de Colonización y Reforma Agraria – para la desapropiación. Sin embargo, el Incra no la desapropió. Además de la cuestión del latifundio, existe un Estado que trabaja contra la reforma agraria. Por lo tanto, el Incra es desestructurado y todo eso va generando otra violencia más, que es la violencia sobrevenida de la inoperancia del gobierno.”

En el estado de Minas Gerais, tres trabajadores fueron ejecutados en el último sábado, día 24. El grupo compuesto por dos hombres y una mujer fue encontrado asesinado en la carretera estadual MGC-455, en Miraponga, distrito de Uberlândia. Una niña de cinco años – nieta de la pareja – estaba en el coche y presenció el crimen y pudo después informar lo ocurrido a la policía.

Ellos formaban parte del Movimiento de Libertación de los Sin Tierra (MLST).  La división de asuntos internos y el Incra ya clasificaron los crímenes como actos de ejecución. El auditor nacional de Derechos Humanos, Bruno Teixeira, informó que acompañará el caso en Minas Gerais.

De San Pablo, Brasil, de la Radioagencia NP, Augusto Juncal.

Ayuda al MST en el 17 de abril

Estimados amigos/as
 
No proximo dia 17 de abril  estaremos realizando diversas atividades de protestos, pela  impunidade de 16 anos de injustiças,  em que os responsaveis pelo mASSACRE  de carajas, ninguem foi  punido ou responsabilizado. O processo judicial-rcriminal, mesmo depois do Juri,  dorme  no Supremo tribunal federal,  depois que os culpados condenados recorreram.   E os policias aguaram em liberdade. Vejam se podem realizar alguma coisa em solidariedade em seus paises, e junto à embaixada do Brasil,e enviando mensagens ao STF.  Presidente do STF, Minsitro Carlos Pelusso. carlak@stf.gov.br
 
para Secretaria especial de direitos humanos, do governo Federal, Ministra Maria do Rosario, Brasilia. a/c pedro.pontual@sdh.gov.br
 
e ás familias dos trabalhadores, hoje assentados no ASSENTAMENTO 17 DE ABRIL,  municipio de Eldorado dos carajas.Pará; aos cuidados de Ayala Ferreira.   ayalaferreira@hotmail.com

Passaram-se 16 anos, desde aquele fatidico 17 de abril de 1996, em que foram brutalmente assassinados 19 companheiros nossos,e alguns meses depois perdemos mais dois. E ainda ficaram outros 69 com sequelas pro resto da vida, alguns impedidos para o trabalho agricola.

 

Ate hoje os dois comandantes foram a julgamento, pro Juri popular, foram condenados a 220 anos de prisao.  Recorreram, e estao em liberdade. Ou seja, ninguem responsavel por aquelas mortes, governador, Empresa VALE, Policia Militar, etc.. foi punido!

 

O MST e todo militante social não pode se calar diante de tamanhas injustiças.

 

Diante disso, realizamos reuniao nacional, e estamos conclamando, a que cada militante;dirigente organize na sua base, seja acampamento ou assentamento, ou escola ou municipio:

   DIA 17 DE ABRIL proximo, as oito horas da manha, vamos parar a rodovia, ruas, transito mais próximo de nossas atividades por 21 minutos em homenagem aos 21 assassinados.

   É importante levar faixas de denuncia pedindo justilça, nossa bandeiras.

   Os assentamentos que puderem levem alimentos e distriburam aos caminhoneiros, e avisem que será bloqueio por apenas 21 minutos.

    Quem puder fazer panfletos, melhor ainda, para explicar por que estamos parando o transito. Quem puder conseguir carro de som com movimento sindical, tambem seria importante.

    Os grupos de jovens poderiam fazer pixações nos locais, antecedendo e durante a mobilização.

   Quem esta proximo da cidade, seria ideal, bater o sino da igreja nesse momento. As oito horas em ponto, tocar o sino em sinal de respeito aos mortos.

 

Por tanto, companheiros e companheiras, recomendamos que cada um tome para si, essa missão não espera instancias ou maiores deliberações. Reuna-se com seus vizinhos, companheiros e programem.

 

 

Os acampamentos a beira das estradas parem a rodovia.

Os assentamentos vao para a rodoviamais proxima.

As escolas e centros de formaçao que tiverem alunos, vão para as ruas, se manifestar.

 

Bom trabalho

 

João Paulo Rodrigues

Secretaria Geral.

 

um forte abraço a todos e todas
 
pela secretaria nacional
 
Joao paulo  Rodrigues
Janaina strnozake
Joao pedro stedile

Mulheres liberam ped?gio e ocupam Ministério da Fazenda

Em março acontece a Jornada Nacional de Luta das Mulheres. Mas a luta de todas deveria ser também de todos. Ontem, cerca de seiscentas integrantes da Via Campesina, MTD e Levante Popular da Juventude liberaram as cancelas de um pedágio na rodovia BR 290. Em Porto Alegre, já com um número maior de participantes, ocuparam o prédio do Ministério da Fazenda, debateram e fizeram um ato em frente ao Palácio da Justiça. Neste vídeo dizem o por que das ações:

http://coletivocatarse.blogspot.com/2012/03/mulheres-liberam-pedagio-e-ocupam.html

 

Em março acontece a Jornada Nacional de Luta das Mulheres. Mas a luta de todas deveria ser também de todos. Ontem, cerca de seiscentas integrantes da Via Campesina, MTD e Levante Popular da Juventude liberaram as cancelas de um pedágio na rodovia BR 290. Em Porto Alegre, já com um número maior de participantes, ocuparam o prédio do Ministério da Fazenda, debateram e fizeram um ato em frente ao Palácio da Justiça. Neste vídeo dizem o por que das ações: