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“É questão de honra Cambahyba virar assentamento”, dizia liderança do MST assassinada

O trabalhador rural assentado Cícero Guedes não conseguia conter as lágrimas quando recordava da mística que homenageou militantes incinerados nos fornos da Usina Cambahyba pela ditadura civil-militar brasileira nos anos 1970 e 1980. Era angustiante para ele imaginar que naquele lugar pelo menos dez militantes torturados e mortos no DOI e na Casa da Morte haviam sido incinerados por lutarem por justiça social. Décadas depois, no mesmo lugar, a liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), Cícero Guedes, tomba pelo sonho de ampliar a reforma agrária no país.

“A mística foi muito forte, ninguém merece ser queimado. Muita gente faz atrocidade neste mundo e não é queimado. É questão de honra para o movimento esse latifúndio virar assentamento. A gente se emociona porque somos seres humanos e sabemos e sentimos na pele o companheiro que luta por justiça social”, disse Cícero, sobre o ato promovido em agosto pelo MST e pela Articulação Estadual Memória, Verdade e Justiça na usina.

 

Coordenador do acampamento Luiz Maranhão, localizado no parque industrial da Usina Cambahyba, Campos dos Goytacazes-RJ, Cícero Guedes dos Santos, de 54 anos, foi assassinado com mais de dez tiros na cabeça por pistoleiros na madrugada desta sexta-feira (25), em Campos dos Goytacazes. Ele participou de uma reunião na noite anterior no acampamento e foi baleado em uma emboscada quando retornava de bicicleta para sua casa no assentamento Zumbi dos Palmares. Cícero fazia parte da Direção Estadual do MST no Rio de Janeiro.

 

O velório vai acontecer neste domingo 27/01, na capela do cemitério Campo da Paz em Campos dos Goytacazes a partir das 9h e o enterro ocorrerá às 13h. Antes do enterro o MST fará um ato político de denúncia da violência do latifúndio na região. Já confirmaram presença o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Carlos Guedes, o senador Lindbergh Farias (PT), os deputados estaduais Robson Leite (PT) e Marcelo Freixo (Psol), o delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), José Otávio, o superintendente do Incra, Gustavo Noronha e diversas entidades de direitos humanos. 

 

“Pedimos e reivindicamos que investiguem e punam os responsáveis, que garantam a segurança para os familiares de Cícero que moram na região, além da imediata desapropriação da Cambahyba. Este é mais um crime do latifúndio de Campos dos Goytacazes, que envolve diretamente as questões da Cambahyba”, declarou Marina dos Santos, da coordenação estadual do MST. “A gente está considerando um crime semelhante ao que aconteceu com Sebastião Lan que foi assassinado pelo latifúndio em Campos Novos em Cabo Frio da década de 1980. Ele era presidente do sindicato dos trabalhadores rurais. Da mesma forma que Cícero, Sebastião era referência para o movimento e fazia o trabalho de organização dos trabalhadores”, acrescentou Marina.

 

A Polícia Civil emitiu um comunicado afirmando que está empenhada na investigação da morte da liderança. O órgão também informou que medidas cautelares estão sendo adotadas para esclarecer a autoria e a motivação do crime.

 

“Desafio é pra ser cumprido”

 

Cícero acompanhava todas as áreas que estavam na luta pela terra na região de Campos. Ele atuava nos diversos assentamentos e era responsável pelo Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do governo federal. Na ocupação de Cambahyba, ele planejou todo o processo de organização das famílias. Referência na produção agroecológica, Cícero também era organizador e entusiasta das Feiras da Reforma Agrária do MST que acontecem no Largo da Carioca, no centro do Rio, com a venda de verduras e frutas livres de agrotóxicos. “Realizar mais feiras é um desafio e desafio é pra ser cumprido. Tudo pra nós é desafio, estamos acostumados com essa situação. Esse negócio de veneno é uma babaquice desses filhos da puta. O capitalismo é cruel e devasta tudo. Não tem esse negócio de remédio, é veneno mesmo e veneno mata”, dizia Cícero.

 

O alagoano Cícero vivia desde 1998  no Sítio Brava Gente no assentamento Zumbi dos Palmares. De Alagoas, trazia lembranças de uma vida sofrida, onde trabalhava em condições desumanas e até passava necessidade. Foi nos canaviais de Campos dos Goytacazes que Cícero, junto com a esposa Maria Luciene, iniciou suas atividades na cidade. Depois, como operário da construção civil, participou das obras da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf). O sonho de ter sua própria terra para plantar se concretizou com a mobilização popular da primeira ocupação de terras na região, em 1996, da Usina São João, que deu origem ao maior assentamento do estado, o Zumbi dos Palmares.

 

Mesmo assentado, com seu lote garantido, Cícero nunca perdeu de vista a necessidade de fortalecer o movimento e ampliar a reforma agrário no Brasil. Ele coordenava o acampamento Cambahyba que pressionava o Governo Federal a destinar para fins de reforma agrária as terras da usina que são consideradas improdutivas pelo Incra há 14 anos. Em dezembro, o Incra sinalizou que retomaria o processo de desapropriação para fins de reforma agrária. mais ainda não há nada concreto.

 

A usina Cambahyba é um complexo de sete fazendas que totaliza 3.500 hectares. A área pertencia ao já falecido Heli Ribeiro Gomes, ex-vice governador biônico do Rio de Janeiro (1967-1971), ligado à Tradição Família e Propriedade (TFP) e agora é controlada por seus herdeiros. De extrema-direita, Heli permitiu que a usina funcionasse como braço operacional das execuções, uma alternativa para eliminar os vestígios dos mortos pelo regime. Segundo o ex-delegado Claudio Guerra, no livro Memórias de uma Guerra Suja, a usina recebeu até benefícios dos militares pelos serviços prestados com acesso fácil a financiamentos.

 

NOTA DE FALECIMENTO

Coordenador do acampamento Luiz Maranhão, localizado no parque industrial da Usina Cambahyba, Campos dos Goytacazes-RJ, Cícero Guedes dos Santos, de 49 anos, foi assassinado com mais de dez tiros na cabeça por pistoleiros na madrugada desta sexta-feira (25), em Campos dos Goytacazes. Ele participou de uma reunião na noite anterior no acampamento e foi baleado em uma emboscada quando retornava de bicicleta para sua casa no assentamento Zumbi dos Palmares. Cícero fazia parte da Direção Estadual do MST no Rio de Janeiro.

 

O velório vai acontecer neste domingo 27/01, na capela do cemitério Campo da Paz em Campos dos Goytacazes a partir das 9h e o enterro ocorrerá às 13h. Antes do enterro o MST fará um ato político de denúncia da violência do latifúndio na região. Já confirmaram presença o presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Carlos Guedes, o senador Lindbergh Farias (PT), os deputados estaduais Robson Leite (PT) e Marcelo Freixo (Psol), o delegado do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), José Otávio, o superintendente do Incra, Gustavo Noronha e diversas entidades de direitos humanos. 

Pedimos a todas as entidades e organizações que entrem em contato com a 134 DP delegado Geraldo Assed, pedindo averiguação dos fatos e punição dos assassinos e mandantes, neste grave crime do latifúndio.

tel: 022 – 27265393 / 27241580 / 27241939


Reforma Agrária: Por Justiça Social e Soberania Popular!

Secretaria Estadual do MST/RJ

 

Líder do MST é encontrado morto em Campos dos Goytacazes, RJ

Cícero Guedes liderou ocupação da usina Cambaíba.
Segundo pessoas próximas, o grupo recebia ameaças constantes.

http://g1.globo.com/rj/serra-lagos-norte/noticia/2013/01/lider-do-mst-e-encontrado-morto-em-campos-dos-goytacazes-rj.html

Um militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) foi assassinado na noite de sexta-feira (25) em Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense. Cícero Guedes dos Santos era um dos líderes do movimento no assentamento nas terras da usina Cambayba, em Martins Lage, na divisa da cidade com o município de São João da Barra. Cícero foi atingido com vários tiros na cabeça e encontrado em uma estrada vicinal.

Segundo pessoas próximas à vítima, Cícero teria sido visto pela última vez por volta das 22h, andando de bicicleta entre os lotes do Assentamento Oziel Alves, acampamento montado pelos sem-terra dentro da usina.

De acordo com o MST, a morte pode ter sido ocasionada pela disputa da terra. Os sem-terra pediam a desapropriação de parte da propriedade de 2.800 hectares considerada improdutiva pelo Incra. Desde o ano 2000, o MST ocupa uma parte do terreno da usina,e desde então o caso está em disputa na Justiça. Cícero foi um dos coordenadores da ocupação.

    MST invade usina e pede desapropriação no Norte do Rio

O delegado da 134ª Delegacia de Polícia de Campos dos Goytacazes, Geraldo Rangel, que acompanha o caso, informou que a investigação trabalha com hipótese semelhante à levantada pelos sem-terra.

Segundo o delegado, a quebra do sigilo telefônico de Cícero Guedes vai ser solicitada, já que ele descartou a hipótese de latrocínio e acredita que o crime tenha mesmo ligação com o movimento sem-terra.

Bandeiras do MST são penduradas em prédio da Usina Cambaíba (Foto: Rafael Duarte / APN)Bandeiras do MST são penduradas em prédio da

Usina Cambaíba (Foto: Rafael Duarte / APN)

De acordo com a professora de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense, Ana Costa, que acompanhava as intervenções do grupo na cidade, R$ 570 em dinheiro e notas fiscais – originárias da comercialização da produção do MST -, foram encontradas no bolso da vítima.

"O dinheiro não foi mexido e por isso só pode ter sido morte encomendada. Foi encontrado projétil debaixo do corpo. Vamos desencadear todo o esforço que pudermos para não deixar esse crime impune", afirmou a professora.

O diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF) e também integrante do MST há 20 anos, Luiz Carlos Mendonça, afirmou que já tinham ocorrido ameaças a integrantes do movimento. “Logo que ocupamos as terras no dia 1 de novembro, na primeira semana sofremos ameaças de pessoas, registramos queixa na delegacia e a partir daí começamos a tomar as precauções para nossa integridade”, disse. Ainda segundo ele, uma guarnição da polícia teria sido solicitada para que ficasse na entrada do assentamento.

Em nota oficial, o MST se pronunciou sobre o assassinato. "A morte da companheiro Cícero é resultado da violência do latifúndio, da impunidade das mortes dos Sem Terra e da lentidão do Incra para assentar as famílias e fazer a Reforma Agrária".

Enterro

Segundo a família, a previsão é de que o enterro de Cícero Santos aconteça no domingo (27), entre os horários de 10h e 12h. O local do velório ainda está para ser definido e deve ser realizado ou no assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos dos Goytacazes, ou na sede do Sindipetro-NF, também na cidade.

Asesinan a tiros a líder de los Sin Tierra de Brasil en Rio de Janeiro

Sábado 26 de enero de 2013

Asesinan a tiros a importante líder de los Sin Tierra de Brasil Cícero Guedes, dirigente de los campesinos de Río de Janeiro, fue acribillado, incluso con disparos en la cabeza. Cuerpo fue encontrado cerca del asentamiento Oziel Alvez.

El agricultor Cícero Guedes, uno de los principales dirigentes del Movimiento de los Sin Tierra (MST) en el estado brasileño de Río de Janeiro, fue asesinado a tiros en la madrugada de hoy por desconocidos, informó la organización.

El cuerpo de Guedes, con heridas de bala en la cabeza, fue hallado en una carretera rural de Campos de Goytacazes, municipio en el interior del estado de Río de Janeiro, en un local próximo al Asentamiento Oziel Alvez, un campamento del MST del que era el principal coordinador.

El dirigente rural, de 43 años y que tenía seis hijos, fue visto por última vez en la noche del viernes cuando salió en bicicleta de dicho asentamiento, en donde están concentradas las familias del MST que ocuparon la Usina Cambahyba, un desactivado ingenio azucarero compuesto por siete haciendas y con 3.500 hectáreas de extensión.

La organización campesina ocupó la propiedad rural luego de que fuera declarada como improductiva para presionar al Gobierno a expropiarla e incluirla en los programas de reforma agraria. Pese a que había sido beneficiado por el Instituto Nacional de Reforma Agraria (Incra) en 2002 con un lote de tierra en el asentamiento Zumbi dos Palmares, también en Campos de Goytacazes y en el que cultivaba banana y leguminosas, Guedes se mantuvo activo como militante de los Sin Tierra y lideraba a las familias que esperan la expropiación de la Usina  Cambahyba.

Declaración del MST

Según el MST, por las técnicas agrícolas sustentables que utilizaba en su lote, Guedes era considerado una referencia en conocimiento agroecológico tanto por los militantes de la organización como por estudiantes y profesores de la Universidad del Norte Fluminense con los que colaboraba.

De acuerdo con el Movimiento, el Incra ya se comprometió a crear un asentamiento para beneficiarios de la reforma agraria en la Usina Cambahyba pero hasta ahora no ha iniciado el proceso de expropiación de las haciendas.

"La muerte del compañero Cícero es resultado de la violencia del latifundio, de la impunidad de las muertes de los Sin Tierra y de la lentitud del Incra para asentar las familias y poner en marcha la reforma agraria", aseguró el Movimiento en su comunicado.  "El MST exige que los
culpables sean presos, juzgados y condenados", agrega la nota.

crecen los conflictos por tierra en brasil

Según las estadísticas de la Comisión Pastoral de la Tierra (CPT), una organización del Episcopado, pese a que el número de muertes por disputas por la tierra en Brasil vine cayendo desde las 73 registradas en 2003 hasta 29 en 2011, el número de conflictos ha crecido.

De acuerdo con la última edición del informe "Conflictos en el campo en Brasil" de la CPT, el número de conflictos por tierras, por el acceso al agua o por el trabajo forzado rural pasó de 1.186 en 2010 a 1.363 en 2011 y el número de campesinos amenazados de muerte subió de 125 a 347 en el mismo período.

En 2011, tras el asesinato seguido de seis líderes ecologistas y campesinos en diferentes estados amazónicos, la presidenta brasileña, Dilma Rousseff, anunció el envío de una fuerza conjunta de militares y policías a las zonas consideradas de riesgo, así como protección para los amenazados de muerte.

Em 2012, país teve 176 invasões, o 2ºmenor número no governo do PT

Frustração de movimentos sociais desestimulou mobilizações, diz especialista

Por Evandro Oboli, Brasilia, dia 23 de janeiro de 2013

Em 2012, a Ouvidoria Agrária Nacional registrou 176 invasões de terra em todo o país. É o segundo menor registro dessas ações desde o início dos governos do PT, em 2003. A menor ocorrência de invasões nessa década do PT se deu em 2009, quando aconteceram 173 invasões. Em 2011, tinham sido registradas 200 invasões.


Para o governo, políticas de inclusão social explicam essa redução das invasões de terra. Para a oposição, o assistencialismo do Bolsa Família e o fiasco da reforma agrária desestimularam as invasões. Para os movimentos sociais, o desinteresse do governo em criar novos assentamentos tirou os acampados das estradas.

 

O maior registro de invasões no período petista aconteceu em 2004, com 327 ações. De 2004 até hoje, as ocupações foram diminuindo e terminaram 2012 em quase a metade. Nesses dez anos de Lula e Dilma, ocorreram 2.344 invasões de terra. Esse número é menor que nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que, em seus dois mandatos, de 1995 a 2002, enfrentou 2.462 invasões dos sem-terra. Em 1995, o governo começou a contabilizar as invasões de terra pela Ouvidoria Agrária.

 

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, disse achar que as invasões diminuíram pelas ações de inclusão social do governo e também pelo aumento de vagas no mercado de trabalho, seja no emprego formal ou no informal. O ministro afirmou que houve um aumento de famílias assentadas nos últimos dez anos, o que teria reduzido a pressão dos movimentos sociais. Vargas disse ainda que houve também um aumento da renda no campo.

 

— Não foi só a transferência de renda que melhorou a vida no campo, mas também benefícios da Previdência e rendimento com trabalho. E esse ambiente de melhoria de condições de vida no meio rural e o elevado número de famílias assentadas nesses últimos anos fizeram a pressão diminuir. Isso reflete nos movimentos sociais — disse Vargas.

 

O professor Sérgio Sauer, da Universidade de Brasília (UnB), pesquisador de temas agrários, argumentou que o número de famílias envolvidas na luta pela terra reduziu, e que há momentos de maior mobilização e outros de retração. Sauer diz que outros fatores impactaram nas mobilizações no campo, como a medida provisória do fim do governo FH que impediu vistoria em propriedade invadida.

 

— Já a eleição do presidente Lula gerou novas esperanças e os acampamentos e ocupações voltaram a crescer. Mas a frustração desta expectativa fez os números decrescerem. A falta de expectativa de assentamentos e a disponibilização de novas áreas desestimulam as mobilizações.

 

O deputado Ronaldo Caiado (DEM), ruralista, disse que a tendência é acabarem as invasões, que têm cunho ideológico.

 

— A tese da ocupação perdeu força — afirmou.

 

 

Brasília, 24 de Janeiro de 2013 – Quinta Feira

MST culpa governo por desmobilização

 

Movimento atribui redução das invasões à frustração dos sem-terra com ritmo lento da reforma agrária

 

Evandro Éboli

 

BRASÍLIA Organização que mais invadiu propriedades rurais até hoje, o Movimento dos sem terra (MST) diz que as invasões desaceleraram nos dez anos de governos do PT por causa da lentidão do governo federal na criação de novos assentamentos de reforma agrária. Para Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, o processo está tão vagaroso que as famílias dos sem-terra perderam a disposição de obter imóveis rurais com esse tipo de ação.

 

– A lentidão do governo para criar assentamentos é tão grande que as famílias de trabalhadores rurais perderam a perspectiva de conquistar a terra com ocupações. Muitas buscaram outras formas de sobreviver, porque é difícil esperar quatro ou cinco anos para ser assentado – disse Conceição.

 

Ele garantiu, porém, que ainda há nos acampamentos do MST 90 mil famílias.

 

– Esses trabalhadores rurais pobres querem ser assentados. Se o governo criar quatro assentamentos grandes em cada estado, aumentará novamente o número de ocupações, porque os trabalhadores pobres do campo voltarão aos acampamentos com a esperança renovada de conquistar a terra.

 

Como revelou ontem O GLOBO, em 2012 foram promovidas 176 invasões de terra, o segundo menor número nos dez anos de PT na Presidência da República. Para o coordenador do MST, o governo Dilma não fortalece os assentamentos existentes e favorece os grandes fazendeiros e proprietários de terra.

 

A Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) também atribui a redução das invasões à falta de empenho do governo na sua política de reforma agrária.

 

– A baixa perspectiva de assentamentos provoca esse desestímulo. O governo criou 885 assentamentos em 2005. Em 2011, esse número caiu para 109. Foi o menor índice dos últimos 15 anos. É inconcebível. Os movimentos do campo organizam uma grande mobilização em 2013 para chamar atenção para o descaso com a reforma agrária. Não vamos deixar barato para esse governo – disse Willian Clementino, diretor de Política Agrária da Contag.

 

Abaixo, a entrevista completa concedida por e-mail por Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST

 

 

1-É possível perceber uma redução  no número de ocupações nos últimos anos. A que se atribui essa queda?

 

A lentidão do governo para criar assentamentos é tão grande que as famílias de trabalhadores rurais perderam a perspectiva de conquistar a terra com ocupações. Muitas buscaram outras formas para sobreviver, porque é difícil esperar quatro ou cinco anos para ser assentado. Mesmo assim, persistem nos acampamentos do nosso movimento 90 mil famílias, que estão em áreas ocupadas anos atrás e pressionam o governo.

 

2. Há quem entenda que o número de ocupações se dá em razão de programas sociais do governo, como Bolsa Família, e outros de transferência de renda. Qual o impacto desses programas nas ações no campo?

 

Isso é secundário. A maior parte das famílias que organizamos está no nordeste, onde é o foco do Bolsa Família. O que desmotiva as famílias a viver nos acampamentos e fazer ocupações é a falta de perspectiva da conquista da terra e realização da Reforma Agrária. No entanto, esse trabalhadores rurais pobres querem ser assentados, porque assim conquistam uma terra para trabalhar, uma casa para viver e escola para os filhos. Se o governo criar quatro assentamentos grandes com 500 famílias em casa estado aumentará o número de ocupações, porque os trabalhadores pobres do campo voltarão aos acampamentos com a esperança renovada de conquistar a terra.

 

3. O governo Dilma optou, pelo menos anunciou, por fortalecer assentamentos a distribuir terras. Como o movimento entende essa política? Concorda que assim está se dando?

 

O governo Dilma não assenta nem fortalece os assentamentos existentes. As ações do governo demonstram a sua prioridade para o agronegócio e descaso com a reforma agrária e a pequena agricultura. O agronegócio concentra terra, produz para exportação e utiliza de forma exagerada venenos. A pequena agricultura deve ser a prioridade do país, dentro de um novo modelo de desenvolvimento, para produzir alimentos de qualidade para o povo brasileiro, sem agrotóxicos, em agroindústrias sob controle dos trabalhadores, organizados em cooperativas.

 

4. Que comparação o movimento faz da reforma agrária implementada nos anos de Fernando Henrique Cardoso, de Lula e de Dilma?

Nenhum desses governos implementou uma política de Reforma Agrária para acabar com o latifúndio. Foram criados assentamentos apenas para resolver conflitos isolados. Fernando Henrique criou assentamentos sob pressão da sociedade por ser um dos responsáveis pelo massacre de eldorado de carajás. Lula sofreu uma pressão grande dos trabalhadores rurais que montaram acampamentos e fizeram lutas com a expectativa de que fosse feita a reforma agrária. No entanto, Lula não enfrentou o latifúndio, mas teve sensibilidade social pelo seu compromisso histórico com os sem terra. Dilma ainda não fez nada, mas acreditamos que não vai querer entrar para a história do Brasil como a presidenta que não fez nada pela Reforma Agrária.

Por que a desapropriação de terras estáparada no governo Dilma?

6 de janeiro de 2013

Da Página do MST  http://www.mst.org.br/content/por-que-desapropriacao-de-terras-esta-parada-no-governo-dilma

O governo Dilma é o que menos desapropriou imóveis rurais para fazer reforma agrária nos últimos 20 anos. Reportagem da Folha de S. Paulo, publicada neste domingo, revela que na primeira metade do mandato, 86 unidades foram destinadas a assentamentos.

O número supera só o de Fernando Collor (1990-92), que desapropriou 28 imóveis em 30 meses, comparando ao mesmo período das administrações anteriores desde o governo Sarney (1985-90).

 

"O governo Dilma é refém dessa aliança com o agronegocio, que é o latifundio modernizado, que se aliou com as empresas transancionais. O governo está iludido pela proteção que a grande midia dá a essa aliança e com os saldos na balança comercial. Mas esquece que esse modelo é concentrador de terra e de renda, desemprega muita gente, desmata o meio ambiente, sobrevive usando cada vez mais venenos agrícolas, que vão se transformar em câncer", disse Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, em entrevista à Folha.

"O governo Lula e Dilma não são governos do PT nem de esquerda. São governos de uma frente politica de classes que reúne um amplo leque de classes sociais brasileiras. Desde a grande burguesia, o agronegócio, a classe média, a classe trabalhadora, os camponeses e os mais pobres. Essa natureza de composição dá estabilidade política ao governo e amplas margens de apoio na opinião pública, mas impede reformas estruturais, que afetariam os interesses das classes privilegiadas", analisa Alexandre.

Abaixo, leia a íntegra da entrevista concedida pelo dirigente do MST à Folha, que publicou trechos.

Como o senhor avalia o histórico dos números de desapropriações e assentamentos? A quantidade de famílias assentadas e desapropriações vêm caindo desde 2008/2009.
 
Infelizmente, nos últimos dois anos do governo Lula e agora no governo Dilma, foi abandonada a política de desapropriação de latifúndios. Isso é um desrespeito à Constituição, que determina que todo latifundio improdutivo deve ser desapropriado e dividido para quem quiser trabalhar. Em segundo lugar, a política do governo favorece a concentração da propriedade da terra em todo o país. Os latifundiarios agradecem, embora depois votem nos tucanos, como o mapa eleitoral demonstrou em 2010.

Como o senhor avalia o desempenho da reforma agrária durante a gestão petista, desde 2003?
 
O governo Lula e Dilma não são governos do PT nem de esquerda. São governos de uma frente politica de classes que reúne um amplo leque de classes sociais brasileiras. Desde a grande burguesia, o agronegócio, a classe média, a classe trabalhadora, os camponeses e os mais pobres.

Essa natureza de composição dá estabilidade política ao governo e amplas margens de apoio na opinião pública, mas impede reformas estruturais, que afetariam os interesses das classes privilegiadas. Assim, nesse tipo de governo, estão bloqueadas não só a Reforma Agrária, mas tambem a reforma tributária, a reforma politica, a reforma do judiciário, a reforma industrial, a reforma urbana e a reforma educacional. O governo não consegue nem aprovar a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, que é uma questão civilizatória e que os países do capitalismo industrial já adotou.

Como o senhor avalia o desempenho do governo Dilma Rousseff nestes dois anos, com apenas 76 imóveis desapropriados?
 
Uma vergonha! O governo Dilma é refém dessa aliança com o agronegocio, que é o latifundio modernizado, que se aliou com as empresas transancionais. O governo está iludido pela proteção que a grande midia dá a essa aliança e com os saldos na balança comercial. Mas esquece que esse modelo é concentrador de terra e de renda, desemprega muita gente, desmata o meio ambiente, sobrevive usando cada vez mais venenos agrícolas, que vão se transformar em câncer.  500 mil novos casos de câncer aparecem por ano pelos alimentos contaminados. E o cancer é democrático, porque pega todo mundo. É um modelo predador do meio ambiente e só aumenta os índices de desigualdade nos municípios aonde é hegemonico. Perguntem aos prefeitos eleitos se eles querem grandes propriedades exportadoras e isentas de ICMS ou querem um meio rural de agricultura familiar? A história vai cobrar desse governo no futuro. Mas ai será tarde…

Como mudar esse cenário para 2013? O que o MST pretende fazer e o que espera do governo federal?
 
O MST vai continuar lutando e ocupando os latifúndios improdutivos para forçar as desapropriações e, ao mesmo tempo, costurar alianças que levem a um novo projeto para o país. No entanto, a reforma agrária agora não é apenas o aumento do número de desapropriações. Isso é uma obrigação constitucional. A reforma agrária agora representa a necessidade de mudança do modelo agricola. Deixar o agronegocio de lado e reorganizar a agricultura baseada na produção de alimentos sadios para o mercado interno. Reforma agrária é reorganizar o setor agroindustrial, baseado em cooperativas e não grandes empresas transnacionais como agora. Adotar a matriz tecnologica da agroecologia, preservar o meio ambiente e frear o êxodo rural para as grandes cidades. Mas para isso é preciso um novo projeto para o Brasil. Esse projeto depende da construção de alianças de classe que extrapolam as bases sociais e a força politica dos movimentos camponeses.

 

O dilema da Reforma Agrária no Brasil do agronegócio

CARTA CAPITAL Edição da semana de 05/01/2013

http://www.cartacapital.com.br/edicao-da-semana/veja-os-destaques-da-edicao-impressa-de-cartacapital-71/

O governo ainda não entendeu a natureza e a gravidade dos problemas sociais no campo

POR JOÃO PEDRO STEDILE


A sociedade brasileira enfrenta no meio rural problemas de natureza distintos que precisam de soluções diferenciadas. Temos problemas graves e emergenciais que precisam de medidas urgentes. Há cerca de 150 mil famílias de trabalhadores sem-terra vivendo debaixo de lonas pretas, acampadas, lutando pelo direito que está na Constituição de ter terra para trabalhar. Para esse problema, o governo precisa fazer um verdadeiro mutirão entre os diversos organismos e assentar as famílias nas terras que existem, em abundância, em todo o País. Lembre-se de que o Brasil utiliza para a agricultura apenas 10% de sua área total.

Há no Nordeste mais de 200 mil hectares sendo preparados em projetos de irrigação, com milhões de recursos públicos, que o governo oferece apenas aos empresários do Sul para produzirem para exportação. Ora, a presidenta comprometeu-se durante o Fórum Social Mundial (FSM) de Porto alegre, em 25 de janeiro de 2012, que daria prioridade ao assentamento dos sem-terra nesses projetos. Só aí seria possível colocar mais de 100 mil famílias em 2 hectares irrigados por família.

Temos mais de 4 milhões de famílias pobres do campo que estão recebendo o Bolsa Família para não passar fome. Isso é necessário, mas é paliativo e deveria ser temporário. A única forma de tirá-las da pobreza é viabilizar trabalho na agricultura e adjacências, que um amplo programa de reforma agrária poderia resolver. Pois nem as cidades, nem o agro-negócio darão emprego de qualidade a essas pessoas.

Temos milhões de trabalhadores rurais, assalariados, expostos a todo tipo de exploração, desde trabalho semiescravo até exposição inadequada aos venenos que o patrão manda passar, que exige intervenção do governo para criar condições adequadas de trabalho, renda e vida. Garantindo inclusive a liberdade de organização sindical.

Há na sociedade brasileira uma estrutura de propriedade da terra, de produção e de renda no meio rural hegemonizada pelo modelo do agronegócio que está criando problemas estruturais gravíssimos para o futuro. Vejamos: 85% de todas as melhores terras do Brasil são utilizadas apenas para soja/ milho; pasto, e cana-de-açúcar. Apenas 10% dos proprietários rurais, os fazendeiros que possuem áreas acima de 500 hectares, controlam 85% de todo o valor da produção agropecuária, destinando-a, sem nenhum valor agregado, para a exportação. O agronegócio reprimarizou a economia brasileira. Somos produtores de matérias-primas, vendidas e apropriadas por apenas 50 empresas transnacionais que controlam os preços, a taxa de lucro e o mercado mundial. Se os fazendeiros tivessem consciência de classe, se dariam conta de que também são marionetes das empresas transnacionais,

A matriz produtiva imposta pelo modelo do agronegócio é socialmente injusta, pois ela desemprega cada vez mais pessoas a cada ano, substituindo-as pelas máquinas e venenos. Ela é economicamente inviável, pois depende da importação, anotem, todos os anos, de 23 milhões de toneladas  de fertilizantes químicos que vêm da China, Uzbequistão, Ucrânia etc. Está totalmente dependente do capital financeiro que precisa todo ano repassar: 120 bilhões de reais para que possa plantar. E subordinada aos grupos estrangeiros que controlam as sementes, os insumos agrícolas, os preços, o mercado e ficam com a maior parte do lucro da produção agrícola. Essa dependência gera distorções de todo tipo: em 2012 faltou milho no Nordeste e aos avicultores, mas a Cargill, que controla o mercado, exportou 2 milhões de toneladas de milho brasileiro para os Estados Unidos. E o governo deve ter lido nos jornais, como eu… Por outro lado, importamos feijão-preto da China, para manter nossos hábitos alimentares.

Esse modelo é insustentável para o meio ambiente, pois pratica a monocultura e destrói toda a biodiversidade existente na natureza, usando agrotóxicos de forma irresponsavel. E isso desequilibra o ecossistema, envenena o solo, as águas, a chuva e os alimentos. O resultado é que o Brasil responde por apenas 5% da produção agrícola mundial, mas consome 20% de todos os venenos do mundo. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelou que a cada ano surgem 400 mil novos casos de câncer, a maior parte originária de alimentos contaminados pelos agrotóxicos. E 40% deles irão a óbito. Esse é o pedágio que o agronegócio das multinacionais está cobrando de todos os brasileiros! E atenção: o câncer pode atingir a qualquer pessoa, independentemente de seu cargo e conta bancária.

Uma política de reforma agrária não é apenas a simples distribuição de terras para os pobres. Isso pode ser feito de forma emergencial para resolver problemas sociais localizados. Embora nem por isso o governo se interesse. No atual estágio do capitalismo, reforma agrária é a construção de um novo modelo de produção na agricultura brasileira. Que comece pela necessária democratização da propriedade da terra e que reorganize a produção agrícola cm outros parâmetros. Em agosto de 2012, reunimos os 33 movimentos sociais que atuam no campo, desde a Contag, que é a mais antiga, MST, Via campesina ,até o movimento dos pescadores, quilombolas, etc., e construímos uma plataforma unitária de propostas de mudanças. É preciso que a agricultura seja reorganizada para produzir, em primeiro lugar, alimentos sadios para o mercado interno e para toda a população brasileira. E isso é necessário e possível, criando políticas públicas que garantam o estímulo a uma agricultura diversificada em cada bioma, produzindo com técnicas de agroecologia. E o governo precisa garantir a compra dessa produção por meio da Conab.

A Conab precisa ser transformada na grande empresa pública de abastecimento, que garante o mercado aos pequenos agricultores e entregue no mercado interno a preços controlados. Hoje já temos programas embrionários como o PAA (programa de compra antecipada) e a obrigatoriedade de 30% da merenda escolar ser comprada de agricultores locais. Mas isso está ao alcance agora de apenas 300 mil pequenos agricultores e está longe dos 4 milhões existentes.

O governo precisa colocar muito mais recursos em pesquisa agropecuária para alimentos e não apenas servir às multinacionais, como a Embrapa está fazendo, em que apenas 10% dos recursos de pesquisa são para alimentos da agricultura familiar. Criar um grande programa de investimento em tecnologias alternativas, de mecanização agrícola para pequenas unidades e de pequenas agroindústrias no Ministério de Ciência e Tecnologia.

Criar um grande programa de implantação de pequenas e médias agroindústrias na forma de cooperativas, para que os pequenos agricultores, em todas as comunidades e municípios do Brasil, possam ter suas agroindústrias, agregando valor e criando mercado aos produtos locais. O BNDES, em vez de seguir financiando as grandes empresas com projetos bilionários e concentradores de renda, deveria criar um grande programa de pequenas e médias agroindústrias para todos os municípios brasileiros.

Já apresentamos também ao governo propostas concretas para um programa efetivo de fomento à agroecologia e um programa nacional de reflorestamento das áreas degradadas, montanhas e beira de rios nas pequenas unidades de produção, sob controle das mulheres camponesas. Seria um programa barato e ajudaria a resolver os problemas das famílias e da sociedade brasileira para o reequilíbrio do meio ambiente.

Infelizmente, não há motivação no governo para tratar seriamente esses temas. Por um lado, estão cegos pelo sucesso burro das exportações do agronegócio, que não tem nada a ver com projeto de país, e, por outro lado, há um contingente de técnicos bajuladores que cercam os ministros, sem experiência da vida real, que apenas analisam sob o viés eleitoral ou se é caro ou barato… Ultimamente, inventaram até que seria muito caro assentar famílias, que é necessário primeiro resolver os problemas dos que já têm terra, e os sem-terra que esperem. Esperar o quê? O Bolsa Família, o trabalho doméstico, migrar para São Paulo?

Presidenta Dilma, como a senhora lê a CartaCapital, espero que leia este artigo, porque dificilmente algum puxa-saco que a cerca o colocaria no clipping do dia

Fazendeiros assassinos de fisdcais de trabalho escravo em UNAI continuam impunes, quando acaba?

Por Frei Betto, no sítio da Adital

Em janeiro de 2004, três auditores fiscais do trabalho e um motorista foram assassinados em Unaí (MG) ao investigarem trabalho escravo em uma lavoura de feijão. Em janeiro próximo se completam 9 anos de impunidade. Até agora ninguém foi condenado pela chacina que tirou as vidas dos auditores Eratóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva, e do motorista Ailton Pereira da Silva.


O Brasil possui uma eficiente fiscalização do trabalho degradante. O Grupo Móvel atua desde 1995 e, a partir de 2003, já libertou mais de 35 mil trabalhadores, segundo dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra).

 

Há obstáculos permanentes a enfrentar, como aponta meu confrade Xavier Plassat (Prêmio Nacional de Direitos Humanos 2008), como a burocracia que atrasa a apuração de denúncias; dificuldades operacionais para agilizar a Polícia Federal, que atua como polícia judiciária; resistência de algumas superintendências regionais a fiscalizações efetivas.

 

A fiscalização, entretanto, tem melhorado. Apenas 1/3 das denúncias continua sem investigação. Isso não significa que libertar trabalhadores faz cessar a escravidão. Ela deita raízes profundas no solo brasileiro: tivemos o mais longo período de escravidão nas Américas, 358 anos (1530-1888) e, hoje, a ganância, a miséria e a impunidade favorecem esse crime hediondo.

 

A escravidão não ocorre apenas em áreas rurais. Expande-se aos grandes centros urbanos, como em confecções de São Paulo, que exploram a mão de obra de imigrantes bolivianos e asiáticos.

 

Em 2010, 242 pessoas foram libertadas de situações análogas à escravidão em atividades não agrícolas, como construção civil (175 em obras do PAC!). Na zona rural, 2/3 dos casos, entre 2003 e 2010, ocorreram na pecuária (desmatamento, abertura e manutenção do pasto); 17% em lavouras de cana de açúcar, soja, algodão, milho, café, e reflorestamento; e 10% em carvoarias a serviço de siderurgias.

 

A maioria dos libertados trabalhava na pecuária e no corte de cana, sobretudo na região amazônica, principalmente nos estado do Pará, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso, onde se destaca a voz profética do bispo Dom Pedro Casaldáliga, ainda hoje, aos 84 anos, ameaçado de morte por defender os oprimidos (Prêmio Nacional de Direitos Humanos 2012).

 

Por que trabalho escravo em pleno século XXI? O lucro! E quando flagrado, o proprietário finge não saber o que ocorria em suas terras e culpa o capataz. Fazendeiros, parlamentares, magistrados, artistas de TV, figuram entre proprietários rurais que adotam trabalho braçal de baixo custo em condições subumanas – o trabalho escravo.

 

Daí a dificuldade de a Câmara dos Deputados aprovar, após espera de 8 anos, a emenda constitucional que propõe cancelar a propriedade da terra de quem adota mão de obra escrava. Felizmente, a PEC 438 foi aprovada em maio deste ano e, agora, aguarda aprovação do Senado.

 

Hoje, o proprietário rural não é mais dono do servo, nem responsável por sua manutenção e reprodução de sua prole, como acontecia no Brasil colonial. Ele usa e abusa da mão de obra escrava, arregimentada sob promessas enganosas, e a descarta três ou quatro meses depois. Carvoeiros, roçadores de pasto e cortadores de cana têm, em pleno século XXI, expectativa de vida inferior aos escravos do século XIX.

 

O trabalho escravo está presente nas principais cadeias produtivas do agronegócio brasileiro: carne e madeira (metade das denúncias); cana e demais lavouras (metade dos libertados), e carvão vegetal.

 

Há uma estreita vinculação entre expansão do agronegócio no contexto da economia globocolonizada e a precarização das relações trabalhistas. Eis a contradição, alerta frei Xavier Plassat: o mesmo governo que estimula as monoculturas de exportação corre atrás dos enormes prejuízos que ela provoca, inclusive à imagem do Brasil no exterior.

 

A OIT (Organização Internacional do Trabalho) calcula que, atualmente, haja no mundo de 12 a 27 milhões de trabalhadores escravos. No Brasil, estima-se em 25 mil o número de pessoas submetidas a condições degradantes de trabalho, inclusive crianças.

 

É hora de as centrais sindicais descruzarem os braços quanto a essa nódoa do cenário brasileiro.

MST critica politica de falta de reforma agraria do Governo, entrevista com Marina dos santos

"A Reforma Agrária está paralisada por causa do modelo de desenvolvimento em questão hoje no Brasil, o agronegócio”, analisa Marina dos Santos (foto), da Coordenação Nacional do MST em entrevista a José Coutinho Júnior para a

Página do MST, 10-12-2012.

Dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) indicam que 10.815 famílias foram assentadas de janeiro a novembro. O que esse número representa para a Reforma Agrária?

Esse número é irrisório, dada uma realidade tão complexa que temos no Brasil, com altíssimo nível de concentração de terra, que só aumenta com a ação das transnacionais, que vem se apropriando das terras no Brasil e na América do Sul. É um número que reflete o aumento da concentração, da desnacionalização da terra e dos bens naturais. Por outro lado, o governo  prioriza o agronegócio, o latifúndio, a produção de poucos produtos para exportação, em detrimento do fortalecimento da agricultura familiar camponesa.

A opção do governo pelo agronegócio é clara, demonstra tanto o discurso político da maioria dos ministérios como a liberação de recursos para as grandes empresas. A Reforma Agrária está praticamente parada no país. Não existe uma ação do governo de democratizar a terra e para enfrentar o latifúndio improdutivo. Pelo contrário.

Essa atitude em relação à Reforma Agrária se agravou no governo Dilma?

Isso vem da década de 90, com a aceleração do modelo neoliberal e do surgimento e consolidação do agronegócio no Brasil. E nos últimos anos, todos os governos têm propagandeado que fizeram a maior Reforma Agrária de todos os tempos, mas há uma contradição enorme aí. E os grandes meios de comunicação ignoram isso. O índice Gini mostra que a concentração de terras não está mudando. É inexplicável os governos fazerem “a maior Reforma Agrária do mundo”, quando o Gini aponta a manutenção da concentração de terras. Você não pode democratizar a terra se ao mesmo tempo ela está concentrada. A Reforma Agrária está paralisada por causa do modelo de desenvolvimento em questão hoje no Brasil, o agronegócio.

A grande imprensa aponta que como o agronegócio gerou empregos para trabalhadores de baixa renda, que desistiram de lutar pela Reforma Agrária. Como você analisa isso?

É outra contradição. O que temos visto é que quem garante a produção de alimentos saudáveis e a geração de empregos é a agricultura familiar, não o agronegócio. Pelo contrário, o agronegócio estimula o êxodo rural, a saída das famílias do campo, que vão para as médias e grandes cidades urbanas tentar sobreviver. Essa é uma tese que não condiz com a realidade do campo brasileiro.

Qual o percentual de assentados que desistem de seu lote. Por que existe essa desistência?

Há alguns anos, pesquisas indicavam que menos de 10% dos assentados desistiam do lote. Em um contexto geral da agricultura brasileira e levando em conta o êxodo rural causado pelo agronegócio, o percentual dos assentamentos é bem abaixo da média do campo. Os principais motivos que levam as famílias a desistir do lote é a falta de políticas públicas e de infraestrutura. O governo tem várias medidas que facilitam o acesso às políticas públicas pelos grandes proprietários, que já tem uma infraestrutura razoável. Quem está sendo assentado agora não tem nenhum tipo de infraestrutura e não há facilidades que propiciem que os assentados acessem crédito. E onde há, é muito burocratizado. É difícil para muitos ter acesso aos créditos disponíveis para a pequena agricultura, e os assentados ficam a mercê de uma sobrevivência sem o apoio das políticas públicas.

Como você vê o discurso do Incra de que a prioridade agora é desenvolver os assentamentos?

A questão é que nem o desenvolvimento dos assentamentos está sendo feita pelo Incra e pelo governo. Estão investindo em determinados estados para criar assentamentos modelos, que vão facilitar a propaganda da Reforma Agrária e dos assentamentos. São raros os assentamentos que estão tendo apoio a esse processo de infraestrutura e desenvolvimento. Infelizmente, eles têm atuado menos na questão de desapropriação das terras improdutivas para a realização dos assentamentos, o que é uma pena, porque o lema desse governo é o combate à miséria. A realização da Reforma Agrária, a distribuição de terras e o investimento nas áreas dos assentamentos são uma política fundamental para superar a miséria do país. Tanto da população que vive no interior como de quem mora nas cidades, que teriam acesso a geração de emprego, ao crescimento do mercado local, à produção de alimentos mais farta, barata e com maior qualidade.

Que medidas seriam necessárias por parte do governo para colocar em curso uma Reforma Agrária efetiva?

A primeira medida deveria fazer uma reestruturação para fortalecer o Incra, que está completamente sucateado, com poucos funcionários, salários baixos e poucos recursos para  realizar o trabalho de campo. Teria que renovar o quadro funcional, tirando pessoas desmotivadas e até contrárias à realização da Reforma Agrária, disponibilizando recursos para garantir o trabalho de campo. O outro elemento é disponibilizar recursos de fato, aumentando a verba do Incra para a realização de desapropriações, aquisições de terras e vistorias. E fazer uma sinalização política para a sociedade de que o governo estaria disposto à realização da Reforma Agrária, com o enfrentamento do latifúndio.

Qual o papel dos movimentos sociais nesse contexto?

Os movimentos têm de continuar cumprindo seu papel organizador, mobilizador e de pressão. Devem continuar organizando os trabalhadores sem-terra pelo país. E pressionar os governos para que cumpram sua responsabilidade, punindo o latifúndio improdutivo e realizando a Reforma Agrária.

E os desafios para o ano que vem?

É a necessidade de articulação e unidade dos movimentos sociais do campo, que foi iniciada neste ano com o encontro unitário [organizado em agosto pelos movimentos sociais, sindicatos e organizações de indígenas, quilombolas e ribeirinhos]. Temos que continuar trabalhando para garantir a unidade das lutas e pautas de todos movimentos sociais do campo, para que isso garanta uma maior pressão sobre o governo federal.  Os movimentos devem continuar organizando as áreas de assentamento, tanto nos quesitos culturais, de educação, da formação técnica e política dos assentados, para que produzam alimentos de qualidade, livre de agrotóxicos, para a população do campo e da cidade.

E na parte de apontar as contradições do agronegócio?

Outro desafio importante é denunciar para a sociedade o uso dos agrotóxicos, que é um grande vilão do agronegócio. A sociedade está ganhando uma consciência do mal que o agronegócio faz, com sérias consequências para as pessoas, o meio ambiente, para o conjunto da sociedade com o alto uso de venenos no campo. Temos que ganhar a simpatia da sociedade para a realização da Reforma Agrária, porque ela não vai se concretizar apenas com a pressão dos movimentos do campo. Se o conjunto da sociedade brasileira não pautar, reivindicar e cobrar de fato a Reforma Agrária, não conseguiremos realizá-la.

Stédile cobra reforma agrária do governo Dilma

Fundador e coordenador do MST avalia que momento é de refluxo do movimento popular

Há mais de 30 anos na luta dos trabalhadores rurais sem terra, João Pedro Stédile, um gaúcho descendentes de italianos, ficou conhecido pela forma direta como manifesta suas opiniões políticas. Nesta entrevista exclusiva ao ABCD MAIOR, o coordenador do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) avalia que o Brasil passa por um refluxo no movimento popular. Stédile dá nota oito para a presidente Dilma Rousseff e cinco para todo o governo, que para ele reúne setores da burguesia e dos trabalhadores.


1. Vocês enquadram a gestão do PT dentro do modelo do neo-desenvolvimentismo? Por que?

A formulação que os movimentos sociais fazemos, entre eles o MST, a via campesina, é que de os governos Lula e Dilma são fruto de uma frente política de classes da sociedade brasileira. Dela participam desde a grande burguesia até os mais pobres. E isso dá estabilidade e popularidade ao governo, porém o mantém como governo de composição de classes, com decisões heterogêneas e, às vezes, até contraditórias, ora beneficiam a burguesia, ora os trabalhadores, ora os mais pobres. No plano econômico, o próprio governo tem se auto-definido como neo-desenvolvimentista. É uma alternativa importante ao projeto tucano e do imperialismo, o neoliberalismo.  O neo-desenvolvimentismo procura desenvolver políticas que gerem crescimento econômico e distribuição de renda.  Isso é importante, porém insuficiente.  Os problemas graves da sociedade brasileira, como emprego para todos, terra para todos sem terra, universalização da educação, moradia digna para todos, e acesso à cultura, somente conseguiremos resolver com reformas estruturais. E elas somente serão viáveis com a retomada da mobilização de massas e se tivermos, dentro do governo, uma correlação de forças de partidos mais compromissados com os trabalhadores.

 

2.Em relação à reforma agrária, quais os avanços e recuos durante estes dez anos?

Nos últimos dez anos, não houve avanços em termos de reforma agrária.  Reforma agrária é uma política publica que leve a democratização da propriedade da terra, como bem da natureza, ao maior numero possível de seus cidadãos.  Nos últimos dez anos, se ampliou a concentração da propriedade da terra.  E pior, concentrou inclusive nas mãos de empresas de fora da agricultura e do capital estrangeiro. O governo Dilma não conseguiu nem resolver o problema social das 150 mil famílias que estão acampadas, algumas há mais de cinco anos, ao longo de estradas brasileiras. Por tanto, o governo Dilma abandonou a reforma agrária, iludido com o sucesso do agro-negócio, que produz, ganha dinheiro, mas concentra a riqueza e a terra e aumenta a pobreza no campo.

 

3. Como você o avalia o governo Dilma do ponto de vista ideológico: de um a 10, qual a nota?

A presidenta Dilma tem um bom desempenho pessoal e ideológico, daria  oito. A composição de seu governo, formada pelas forças políticas que detêm o controle dos ministérios, é bem pior do que no governo Lula. São prepotentes e desconhecem as prioridades do povo.  Ainda estão navegando com as políticas sociais do governo Lula.  Daria 5 para eles.

 

4. Gestões municipais progressistas podem ajudar o fortalecimento de organizações como o MST que defendem a agricultura familiar e a economia solidária?

Nós somos devotos de Santo Antonio Gramsci, o mais interessante dos santos italianos, sobretudo porque foi um sábio e comprometido com os trabalhadores.  E ele dizia que a luta de classes ocorre em todos os espaços da sociedade moderna.  Seja nas disputas eleitorais, seja em muitos espaços de pequenos poderes, que ele chamava de “estado ampliado”.   Por tanto, todos os espaços, um jornal, uma rádio, uma televisão comunitária, um sindicato, uma prefeitura, um governo do estado… Todos são espaços que podem acumular forças para o projeto da classe trabalhadora ou podem acumular forças para os capitalistas e os exploradores. Nós acreditamos e defendemos que as prefeituras podem e devem ser espaços importantíssimos para desenvolver políticas públicas a favor das necessidades do povo, democratizar a participação popular nas decisões municipais, etc.

 

5. Há partidos e organizações de vanguarda preocupados com esta construção? Que movimentos você enxerga como atores políticos no futuro imediato e de médio prazo? 

Infelizmente, no sentido genérico e incluindo todas as categorias do campo e da cidade, vivemos um período de refluxo do movimento de massas.  E isso retirou força política para a classe atuar nas disputas da sociedade.   Porém, esses períodos são limitados, em algum momento virá um novo processo de acenso.   Ninguém sabe quando, nem como.   E somente nos períodos de reascenso é possivel  rearticular formas organizativas e forças políticas-ideológicas. Por isso que agora estamos vivendo uma pasmaceira, em termos de organização política, que nos leva apenas a disputar eleições.  Que são necessárias, porém insuficientes para o projeto da classe trabalhadora. Então, em períodos difíceis como esse, temos de investir na formação de militantes, no estímulo da luta social, e na construção de meios de comunicação alternativos…até que a maré mude..

 

 

6. O MST há muito denuncia a judicialização da política no Brasil. Esta ofensiva de direita em torno da exploração política do mensalão, como ferramenta de combate ao PT, é parte do mesmo processo de subordinar direitos políticos ao judiciário?

Claro.  A classe dominante brasileira é muito esperta e experiente. Não é por nada que manda há 500 anos.  Ela sabe que não tem hegemonia no governo federal.  Participa, mas não manda.  Então, para se contrapor às forças da classe trabalhadora, nos últimos dez anos, a prioridade da burguesia, além de ganhar dinheiro na economia, tem sido utilizar-se do judiciário e dos meios de comunicação para combater as idéias e os programas da classe trabalhadora.  E o episódio recente do STF é apenas um capítulo  dessa ofensiva e controle hegemônico que a burguesia tem sobre o judiciário e o usará contra todos os que assumirem compromissos claros com a classe trabalhadora.

 

7. Que peso você atribui à regulação da mídia na construção de um país democrático e socialmente justo?

A classe dominante tem no controle hegemônico da mídia, uma de suas principais armas para manter o controle da população, enganá-la e fazer a luta de classes contra o povo e os trabalhadores. Por isso, é fundamental trabalharmos em duas direções: primeiro, lutar pela democratização dos meios de comunicação. Segundo, construirmos nossos próprios meios de comunicação populares, para fazer essa disputa de idéias, de forma democrática, mas com as mesmas condições.