Para Stedile, do MST, protestos no país podem voltar «mais radicais»

01/07/2013 – 13h19

O economista João Pedro Stedile, 59, líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), afirma que é preciso aproveitar a onda de protestos para criar novos mecanismos de participação popular nos destinos do país. Caso contrário, diz, "as mobilizações voltarão com mais força e mais radicais". Segundo ele, a rejeição dos jovens manifestantes aos partidos é normal. "Qualquer pessoa que assiste todos os dias a forma como agem os partidos fica indignada." A seguir, trechos da entrevista, feita por e-mail, a pedido do líder dos sem-terra.


Folha – Que balanço o sr. faz das manifestações?
João Pedro Stedile – Foram muito positivas, porque trouxeram a juventude de volta às ruas. Estão oxigenando a política, inclusive, nos salões palacianos e no Congresso. No início, foram motivadas pela indignação de uma parcela da juventude e pela esperteza do Movimento Passe Livre, que se aproveitou desse sentimento para mobilizar. Teve a contribuição da visão medíocre do governo Alckmin, que, acostumado a baixar o pau na população, como fez em outros despejos, conseguiu jogar gasolina nos protestos.

Elas são um divisor de águas? O que muda a partir de agora?
Desde as "Diretas-Já", não tínhamos mobilizações tão expressivas e em todo país. Por isso, elas são de fato uma retomada das ruas como espaço de fazer política. No entanto, o que vai acontecer daqui para diante ainda está em disputa. A direita quer apenas pautar temas atrasados ou de pouca relevância, para que não tenha mudança nenhuma e para apenas desgastar o governo Dilma e colher os frutos na eleição de 2014. De parte da classe trabalhadora, há necessidade dela também vir para a rua e colocar em pauta as reformas econômicas e políticas, que os governos Lula e Dilma não tiveram capacidade de fazer pelas alianças partidárias esdrúxulas dentro de um sistema político que precisa de uma profunda reforma.

Quais atores ganham e quais perdem com esses protestos?
Quem perdeu foram aqueles que fazem política tradicional, conservadora, reacionária, de tudo ser no toma lá, dá cá. A Rede Globo, que se achava toda poderosa, perdeu, porque a única palavra de ordem que unificou a juventude em todo país foi "fora, Rede Globo", uma vez que a juventude tem se informado pela internet e pelas redes sociais, não dando bola para televisão. Quem ganhou foi a juventude e o povo brasileiro. Tomara que o governo Dilma acorde e se sintonize cada vez mais com os interesses da população.

Como interpreta os protestos que terminaram em violência?
Ninguém de sã consciência vai para uma passeata para ter violência. Esses episódios sempre ocorrem com a conjugação de vários fatores. Primeiro, o despreparo da Polícia Militar, que sempre trata o povo como inimigo, apesar de cada um dos soldados ser gente do povo. Onde houve diálogo da PM com os manifestantes não houve violência. Segundo, houve grupos fascistas, em especial em São Paulo e no Rio, que planejaram e foram para as passeatas para gerar caos e pânico.

O sr. acredita que, em meio ao quebra-quebra, exista o ingrediente da revolta da população mais excluída, e não ações de vândalos simplesmente?
Não acredito que a população indignada use a violência. O povão gosta de xingar, dizer nome feio, mas é contra o uso de violência, de quebra-quebra e saques. Nessas situações, o povo respeita o patrimônio público.

Como o sr. avalia essa rejeição aos partidos em meio aos protestos? É uma rejeição "a" partidos ou especificamente a "esses" atuais partidos?
Essa juventude nasceu durante a implementação do neoliberalismo, na década de 90, e rejeita a forma de fazer política a partir desse período. Ela não é apolítica nem contra a organização partidária. Mas qualquer pessoa que assiste todos os dias a forma como agem os partidos fica indignada com a submissão às grandes empresas, as trocas de votos por emendas, as disputas por cargos, as disputas internas nos partidos. Precisamos urgentemente mudar a forma de fazer política no Brasil e enterrar essas práticas. Por isso, a reforma política é fundamental. É fundamental, em meio a essas mobilizações, criar novos mecanismos de participação popular nos destinos do país. Se não houver mudanças nesse sentido, tenho certeza que as mobilizações voltarão com mais força e mais radicais.

Movimentos sociais, indígenas e sindicatos têm reclamado da falta de diálogo com o governo Dilma. O governo tem falhado? Por quê?
O governo Dilma é um governo de composição de classes. Infelizmente, no último período, o governo tem priorizado apenas os interesses da burguesia e relativizado os interesses da classe trabalhadora. Basta ver a pauta que o governo prioriza. De um lado, propõe leilões de petróleo, liberação de outorgas de mineração para o grande capital, terceirização dos direitos trabalhistas, dinheiro do BNDES para grandes empresas. Para a classe trabalhadora: pão e água. A reforma agrária está paralisada, a legalização das áreas indígenas e quilombolas está paralisada e, em alguns casos, essas disputas são tratadas com repressão, como a Policia Federal fez em Mato Grosso do Sul. É claro que, uma hora dessas, essa contradição de classes estoura no governo ou nas ruas.

Esse diálogo piorou em relação ao governo Lula?
Não é uma questão de diálogo. Diálogo você pode ter o tempo inteiro. O problema é a disputa de interesses de classe e força de cada classe para pressionar o governo. Até agora, os empresários tinham mais força no governo. Agora, espero que a voz das ruas represente uma força popular que faça o governo implementar políticas a favor da classe trabalhadora.

O MST defende o "volta Lula"?
O governos são apenas espelho da correlação de forças na sociedade. Nós defendemos um projeto popular para o país. O que o Brasil precisa é debater na sociedade um projeto que represente a soberania nacional e popular para resolver os problemas do povo. Não podemos mais aceitar um país rico, que é a sétima economia do mundo, com tanta desigualdade social. Com salários tão baixos, sem democratizar a terra e os meios de comunicação. O povo vive em moradias com condições ruins, gasta 40% da renda com aluguel, não têm transporte público de qualidade, não tem atendimento de saúde, padece nas filas do SUS e os filhos não aprendem nas escolas públicas. Enquanto isso, o capital estrangeiro vem aqui explorar o nosso petróleo, nossos minérios, nosso etanol e nossa agricultura, aliados com uma burguesia brasileira submissa, que nunca pensou o Brasil como nação.

As cidades estão fervendo e o campo parece adormecido, com exceção dos indígenas. Quais as razões para isso?
Nas grandes cidades, há uma crise urbana instalada pela especulação imobiliária que elevou em 150% os preços dos imóveis e terrenos nos últimos três anos. Não há transporte público de qualidade e falta atendimento de saúde e educação. Há uma grande aglomeração de pessoas nesse inferno do cotidiano, então a juventude resolveu enfrentar e dar um tapa no diabo. Mas a classe trabalhadora ainda não se mexeu. Já no campo, estamos ainda sofrendo o refluxo do movimento de massas, que vem desde 2005, pela hegemonia do capital, que tomou conta da agricultura e impôs o modelo do agronegócio. Mas suas contradições e consequências começam a aparecer. Ou seja, a concentração da propriedade da terra, das usinas, da produção em apenas três produtos (soja, cana e gado) começa a aparecer. Logo outros setores da população do campo começarão a se mexer.

Como economista, como vê as recentes ações do governo diante de inflação pressionada e PIB estagnado?
O que está acontecendo é resultado de uma economia cada vez mais dependente do capital internacional. O Brasil está cada vez mais refém das politicas dos governos centrais e da ação do capital internacional sobre a economia. Por outro lado, o governo federal com sua composição de classes não tem forças e unidade suficiente para implementar políticas econômicas nacionalistas, que protejam nosso trabalho e nossa riqueza, porque também não tem um projeto claro de país.

Brasil cada vez maior (Ou: Das dificuldades da solidariedade internacional no mundo do capital global

Renaud Lambert, “Brazil looms larger”, Le Monde Diplo, junho 2013

http://mondediplo.com/2013/06/08latinam

 João Paulo Rodrigues e Rubens Barbosa parecem ter pouco em comum: Rodrigues trabalha pelos sem-terras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) desde menino; Barbosa foi embaixador do Brasil em Londres, depois nos EUA, de 1994 a 2004, e hoje trabalha como consultor de negócios. Encontrei Rodrigues num pequeno sobrado em São Paulo; os escritórios comerciais de Barbosa ficam na muito chique Avenida Faria Lima, onde helicópteros sem conta transportam executivos ricos de um a outro heliponto, entre os arranha-céus. Rodrigues acabava de comandar uma sessão de treinamento para ativistas do MST; Barbosa esforçou-se para me dar “alguns momentos”, tomados entre telefonemas de clientes que queriam ouvi-lo sobre um movimento do governo – todos querendo ser ‘o primeiro a saber’ (foi a impressão que tive).

 

Por diferentes que sejam, esses dois homens concordam, às vezes, em muito do que dizem. Rodrigues, ao falar dos objetivos políticos do MST – “derrubar o neoliberalismo e construir sistema econômico mais justo” –, identifica a integração regional como prioridade. Barbosa sonha com o Brasil que “transforme sua geografia, em realidade política”. Como escreveu em 2000 ao então presidente Fernando Henrique Cardoso, Barbosa vê a América Latina como “quintal do Brasil, território natural de negócios brasileiros”.[1] E também identifica uma prioridade: “defender nossos próprios interesses” e reforçar o processo da integração regional.

 

Desde que o Grande Libertador Simón Bolívar (1783-1830) sonhou com a unidade continental, houve várias tentativas para promover a colaboração entre os países latino-americanos e integrá-los em entidade supranacional, aproximando países diferentes, com vistas a atingir diferentes objetivos: a independência, no século19; a industrialização regional, depois da 2ª Guerra Mundial; o alinhamento neoliberal, nos anos 1990s.

 

Embora unidos por ambições semelhantes, Rodrigues e Barbosa rejeitariam sempre qualquer aliança política, o que parece fazer sentido. “O traço que define o processo de integração que o Brasil promove hoje” – disse Armando Boito Júnior, cientista político da Universidade de Campinas[2] – “é que o projeto foi lançado e tocado adiante por forças políticas opostas. Há interesses conflitantes, mas, atualmente, as duas agendas são compatíveis ou até convergentes.”[3]

 

O primeiro ponto em que coincidem é que os dois lados rejeitam a ideia de o Brasil ser satélite dos EUA – embora essa ideia tenha seduzido a elite ao longo dos anos 1990.[4] O presidente Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) aplicou todos os meios e recursos de seus dois mandatos para que o Brasil realizasse o sonho dos EUA: uma grande Área de Livre Comércio das Américas (FTAA (ing.); ALCA (esp., port.), que iria do Alasca à Terra do Fogo.

 

Mas o empenho neoliberal de Cardoso assustou a franja industrial da burguesia brasileira. A política dos “tucanos” [como são conhecidos no Brasil os políticos do Partido da Social-Democracia Brasileira, PSDB], de abrir o mercado brasileiro sem qualquer restrição, afogou o país num tsunami de produtos importados e levou a uma onda de falências [e consequentes fusões, em que centenas de empresas faliram ou foram vendidas e compradas na bacia das almas, com ganhos estratosféricos para alguns dos envolvidos e correspondente perda para outros, em processo até hoje ainda obscuro].

 

E a onda de privatizações[5] foi tão avassaladora no Brasil, que levou até a revista Veja, neoliberal,[6] a publicar que “A história do capitalismo conheceu poucas ondas tão intensas de transferências de controle de empresas, como a que se vê hoje, em tão curto período de tempo”.[7]

 

O setor financeiro prosperou, mas a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) passou a temer o pior. Em 2002 a Fiesp produziu estudo em que analisou o provável impacto da ALCA sobre a economia brasileira. O estudo confirmou “o que muitos empresários temiam”: que aquele acordo de livre comércio traria “mais riscos que vantagens para a economia brasileira”.[8]

 

Nas eleições presidenciais de 2002, o grande empresariado brasileiro apoiou um ex-metalúrgico, Luiz Inácio Lula da Silva, que cuidou de fazer naufragar as negociações com os EUA, desde o primeiro momento de seu governo. A própria Fiesp – que se mantivera em silêncio durante as discussões sobre a ALCA, nem por isso teve papel menos decisivo para fazer naufragar aquele projeto.

 

Agora, o mesmo projeto de área de livre comércio pode estar tentando reerguer-se, com a Aliança do Pacífico, assinada em 2012 por Chile, Peru, Colômbia e México. Valter Pomar, líder da Articulação de Esquerda, uma das tendências em que se divide o Partido dos Trabalhadores (PT) brasileiro, vê a influência dos EUA por trás dessa aliança: todos os países envolvidos já assinaram acordos bilaterais de livre comércio com os EUA.[9]

 

Mas nos jantares em Brasília e na Bolsa de Valores de São Paulo, a crise de 2008 contribuiu para arrefecer a febre neoliberal dos tucanos. Só uns poucos que restam ainda em torno do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e bancos como o HSBC, ainda aprovam a aproximação entre México e os EUA (“os EUA são o sol; o México é um planeta que gira em torno do sol”). Mas o relacionamento já custou ao México queda de 6,7 pontos no PIB, em 2009 – fato que nem o PSDB de Fernando Henrique Cardoso conseguiu não ver.

 

“Há outros meios para alcançar a integração regional” – disse Rodrigues, do MST. – “Entre elas, a abordagem na qual nós trabalhamos no MST, de promover a ALBA (Aliança Bolivariana pelos Povos de Nossa América), proposta pela Venezuela e à qual o Brasil ainda não aderiu. Por essa via, a integração dá-se pela solidariedade, não pela competição, e visa a alcançar um “socialismo do século 21”. Mas é visão conhecida de poucos no Brasil. Apesar das reclamações de alguns idealistas esquerdistas visionários, para os quais, se o PT não os tivesse ‘traído’, seria fácil chegar ao socialismo amanhã mesmo, a luta por mudanças sociais radicais encontra poucos defensores no Brasil.”

 

Na véspera da noite em que conversamos, estudantes chilenos haviam conseguido pôr 600 mil pessoas nas ruas de Santiago. Para Rodrigues, “a última vez que se viu tanta gente na rua, no Brasil, era Carnaval.” Por isso, o MST tem de encontrar pontos comuns entre essa abordagem e o modelo de integração que prevalece no Brasil, ao mesmo tempo em que extrai vantagens das contradições dentro do modelo. “E há muitas” – disse Rodrigues, listando os diferentes grupos da aliança de governo: “O governo e seus aliados, alguns setores da indústria, empresas multinacionais, altos funcionários públicos, grande parte da classe trabalhadora, sobretudo pela ação dos grandes sindicatos.” É uma visão moderna do consenso fordista, a serviço de um projeto geopolítico regional.

 

O primeiro ingrediente é a busca por autonomia. Samuel Pinheiro Guimarães é ex-secretário-geral do Ministério de Relações Exteriores do Brasil; ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo do presidente Lula da Silva (2003-2010) e um dos mais conhecidos pensadores brasileiros. Por tudo isso, provavelmente, recebeu a missão de redigir o “Plano 2022”, que fixa os objetivos estratégicos que devem já ter sido atingidos quando o Brasil completar 200 anos como país independente. Aos 74 anos, já é homem que vai direto ao assunto: “Que vantagem França ou Inglaterra poderiam obter, que as movesse a querer integração com, por exemplo, Malta?” – perguntou. – “Nenhuma. A única vantagem, talvez, é que Malta é país soberano e, portanto, vale um voto nas instituições internacionais.” Com outros grandes blocos se formando pelo mundo, o Brasil deve criar sua região ‘própria’, baseada não na América Latina, porque, aqui, o México e a América Central “votam com Washington”, mas na América do Sul, que se deve converter em “eixo central de nossa estratégia de rejeição a toda subserviência aos interesses dos EUA.”

 

O anti-imperialismo do mais progressista dos altos funcionários do Estado brasileiro é equivalente ao anti-imperialismo de Pomar. Pinheiro acredota que, independente das convicções políticas dos apoiadores, um movimento baseado nessa retórica anti-EUA pode levar a mudança social: “Todas as tentativas que houve de construir um bloco socialista na América Latina enfrentaram dois obstáculos: o poder da burguesia latino-americana e o poder da Casa Branca. A iniciativa de integração do Brasil não eliminará a influência externa, mas reduzirá seu impacto; e dá maior autonomia à política nacional.” A posição firme da União de Nações Sul-americanas (Unasur) – fundada em 2008 – provavelmente contribuiu para reverter os golpes tentados na Bolívia e no Equador em 2008 e 2010. Quando a oposição venezuelana e os EUA contestaram a validade da eleição de Nicolas Maduro, a Unasur apoiou o sucessor designado por Hugo Chávez, que fora eleito. “No passado, essas questões caiam no âmbito da Organização dos Estados Americanos – quer dizer, da Casa Branca” – disse Pinheiro Guimarães. Ainda recentemente, o secretário de Estado John Kerry referiu-se à América Latina como “quintal” dos EUA.[10]

 

Pomar crê que a única solução contra a interferência dos EUA é enfrentar o segundo obstáculo: a burguesia latino-americana; mas admite que essa luta teve de ser adiada. Os países sul-americanos são ricos por seus recursos naturais (e estão agora em posição para voltar a controlá-los), mas lutam para diversificar suas economias e construir seus meios de produção. Durante a recente campanha presidencial na Venezuela, Maduro reclamou: “Nosso país não tem uma verdadeira burguesia nacional (…) os setores envolvidos na atividade econômica são altamente dependentes do capital norte-americano.” (O comportamento rentista é a regra.) Apelou a todos que possam ajudar a Venezuela a “plantar as fundações de uma economia produtiva”[11] – mensagem dirigida ao “setor privado nacionalista”, mas que Maduro espera que chegue ao Brasil, cujos industriais e empresários são tidos como mais progressistas.[12]

 

A aliança entre o PT, os grandes sindicatos e os chefes de indústria não se desfez depois da posse de Lula da Silva na presidência; sobreviveu, atualizando a tradição desenvolvimentista do Estado brasileiro. Pelo mundo, ninguém parece saber o que fazer para responder à crise do neoliberalismo, além de aprofundar as mesmas reformas neoliberais. Assim sendo, um programa para desenvolver o mercado interno, mediante o pleno emprego, aumentos de salários, programas sociais e retomada da produção (por mais que desaponte os que viviam da especulação) é opção revolucionária.

 

Muitos ativistas de esquerda percebem isso, mesmo que não se deem por satisfeitos. “Ainda entendo que temos de lutar para chegar ao socialismo” – disse Artur Henrique, ex-presidente da Central Única de Trabalhadores (CUT), federação de sindicatos co-fundadora da nova aliança desenvolvimentista. “Mas não sou dos que acham que o socialismo começará domingo que vem, depois da missa. Não. Quero mudar as coisas, mas vejo bem as condições sob as quais trabalho. No nível regional, tentamos nos afastar do neoliberalismo, mas não estamos em posição de derrotar o capitalismo. Tentamos promover uma versão regional – não uma versão nacional – que considera as necessidades de outros países sul-americanos.”

 

O comércio entre Brasil e Venezuela aumentou 800% desde que Chávez chegou ao poder em 1999. Quando o metrô de Caracas precisou ser expandido, o consórcio brasileiro Odebrecht entrou no negócio, e o governo brasileiro garantiu financiamento em condições favoráveis. Quando falta comida na Venezuela, recebem reforço de indústrias brasileiras (praticamente toda a carne de galinha que a Venezuela consome é brasileira). “A América do Sul é nosso mais importante mercado” – disse Carlos Cavalcanti, diretor do Departamento de Infraestrutura da Fiesp. – “Ainda podemos competir com a Chinha, e é a região para onde exportamos a maior parte de nossos bens manufaturados.” Tudo isso responde por 83% das exportações do Brasil para países da América Latina, e 5% dos embarques da AL para a China. Apesar de toda a economia mundial estar andando mais devagar, os embarques para países vizinhos saltaram, de $7,5 bilhões em 2002, para mais de $35 bilhões em 2010. Cavalcanti disse que “os países da América do Sul estão adotando políticas alimentadas por rendimentos recentes. Para nós, são mercados em crescimento.”

 

Anti-imperialismo e enriquecimento jamais foram incompatíveis: em documento de 2012, a Fiesp descreve o processo da integração sul-americana como “uma quebra em 500 anos de história” marcada pela “subordinação do interesse nacional do Brasil aos interesses das potências mundiais dominantes.”[13] Mas a infraestrutura é a área na qual as demandas de desenvolvimento industrial regional e a busca de maior autonomia geopolítica também regional mais bem se harmonizam com a expansão do capital brasileiro.

 

Em outubro de 2012, a Unasur identificou os recursos naturais como “o eixo dinâmico para a estratégia de integração e unidade dos [seus] países”. Antes, havia usado a mesma lógica como argumento para fazer avançar a IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional da América do Sul)[14]. A IIRSA é uma rede de grandes rodovias, ferrovias e vias de transporte fluvial que cobre todo o subcontinente. Foi proposta em 2000 por Fernando Henrique Cardoso – que via o sistema como parte indispensável do tal grande “livre mercado” das Américas. Mas não conseguiu convencer Chávez: em reunião de chefes de Estado em 2006, Chávez demoliu o projeto, criticando-o por vir carregado de “lógica neocolonial”.

 

Muitos com que conversei disseram que as coisas mudaram muito, depois de 2000. Já não se trata de construir uma única economia sul-americana, mas de trabalhar pelo “desenvolvimento interno” e pela “sustentabilidade do ponto de vista ambiental”, tratando a infraestrutura como “uma ferramenta para inclusão social”, segundo María Emma Mejía, secretária (colombiana) da Unasur, de maio de 2011 a maio de 2012.[15] A carência de infraestrutura é grande, na América do Sul. Em tentativa para acalmar os ecologistas, o vice-presidente da Bolívia Alvaro García Linera assegurou que a exploração dos recursos naturais do país é indispensável para industrializar a Bolívia, mas a falta de capacidade tecnológica ameaça impedir isso. O Peru e a Venezuela precisam de novos portos e novas estradas. A produção de cereais no Brasil cresceu quase 220% entre 1992 e 2012, mas a rede de estradas não melhorou. Em abril passado, a estrada BR-364, que leva até o terminal ferroviário que serve o porto de Santos, ficou paralisada num engarrafamento de 100-km, que provocou atraso de 60 dias nas exportações. “O setor do agronegócio no Brasil seria muito beneficiado com um acesso à costa do Pacífico” – disse Barbosa. – “China é agora nosso maior parceiro comercial.”

 

A IIRSA, concebida num momento em que o neoliberalismo era cultuado, deveria, originalmente, ser financiada pelos mercados e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O bilionário argentino Eduardo Eurnekian admite que foi um erro: “Não suponho, nem de longe, que alguma empresa privada se interesse por assumir a responsabilidade de desenvolver linhas de transporte internacional.” Nessa ponto, a responsabilidade de ter de completar o trabalho recai sobre “os governos, não sobre o setor privado”.[16]

 

Por tudo isso, a integração física da América do Sul está sendo sustentada por vários esquemas nacionais de financiamento. O Brasil tem o mais rico banco de desenvolvimento do mundo: O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). Em 2010, distribuiu mais de $100 bilhões em empréstimos, comparados aos $15 bilhões emprestados pelo IDB e aos $40 bilhões emprestados pelo Banco Mundial. E o BNDES só financia empresas brasileiras, o que é vantagem considerável para Odebrecht, Camargo Corrêa e outras “grandes”, que o governo trabalha para promover.

 

Essas multinacionais da construção devem ter aplaudido a Unasur, em novembro de 2011, quando adotou seu primeiro Projeto Prioridade para a Agenda da Integração (API) para construir 1.500 km de gasodutos; 3.490 km de estrutura em vias de transporte fluvial e marítimo; 5.142 km de rodovias; e 9.739 km de ferrovias. O investimento total é de $116 bilhões, para 531 projetos, incluindo mais de $21 bilhões para projetos prioritários.

 

Os vizinhos do Brasil entusiasmaram-se menos. Em abril passado, na primeira reunião dos Estados Latino-americanos Afetados por Interesses Transnacionais, Bolívia, Cuba, Equador, Nicarágua, República Dominicana, São Vicente e as Granadinas e a Venezuela criticaram o poder econômico de “algumas empresas”, que ameaçam a soberania de “alguns estados”. A terminologia é vaga, mas todos sabiam do que estavam falando.

 

O escritor uruguaio Raúl Zibechi compara a abordagem do governo brasileiro, na questão da integração, a uma troca de bastão: o capital do norte, entrega o bastão ao capital do sul. “Os ingleses construíram a primeira estrada de ferro para exportar minérios; os EUA financiaram a estrada Cochabamba-Santa Cruz, como parte do projeto de avançar para o oeste. Agora, o Brasil constrói suas próprias vias de integração.”[17] Mas para Pinheiro Guimarães, o problema é, sobretudo, geográfico: o Brasil tem metade da área terrestre da América do Sul, metade da população e metade do PIB continental; em 2011, o PIB do Brasil foi cinco vezes maior que o da Argentina, o segundo país mais rico; e 100 vezes o PIB da Bolívia. “E vários países da América do Sul só recentemente introduziram o Imposto de Renda. Eles não têm os recursos indispensáveis para fazer avançar o desenvolvimento, se não forem ajudados. É indispensável ajudá-los.”

 

E então? Exploração ou solidariedade? A pergunta ecoa por toda a América Latina e também dentro do Brasil. A resposta pode ser: as duas coisas.

 

Em abril, Pinheiro Guimarães deu um exemplo de solidariedade regional: “Sob o governo Lula, aconteceu uma coisa extraordinária. Um subsídio do Brasil tornou possível começar a construir uma linha de transmissão entre a usina hidrelétrica de Itaipu e Assunção”,[18] pondo fim aos ‘apagões’ de energia na capital do Paraguai.

 

Empresários da Fiesp extraíram daí outras conclusões: “Setores que empregam muita mão de obra no Brasil, como o setor têxtil e a indústria do vestuário, melhorariam suas condições de competitividade face aos concorrentes asiáticos, pelo mercado interno brasileiro, se pudessem exportar a operação de produção para o Paraguai”, onde “o custo da mão de obra é cerca de 35% menor.”[19]

 

 


NOTAS

[1] 21/1/2000, Carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso (arquivos pessoais de Rubens Barbosa).

[2] O prof. Armando Boito Jr. é um dos principais propagandistas do Partido Comunista Brasileiro, PCB (em ação, por exemplo, em http://goo.gl/1VnKP ) [NTs].

[3] Essa afirmação, no Brasil, hoje, detonaria protesto furioso, menos pelos intelectuais e cientistas políticos dos dois lados, mas, muito mais, pelos eleitores dos dois governos aí referidos (de FHC, até 2001, e Lula-Dilma, de 2002 até hoje). A impressão que se tem, dentro do Brasil, é que os eleitores sabem mais e melhor que os mestres sociólogos e cientistas políticos e filósofos e outros, da Unicamp e da USP [NTs].

[4] Essa ideia seduz a elite brasileira, de fato, pelo menos, desde 1952, quando o general Golbery da Costa e Silva escreveu, numa monografia (esgotada e hoje inencontrável) para uso da Escola Superior de Guerra o mesmo que, em 1967 repetiu em seu Geopolítica e Poder: que o Brasil só teria futuro se se desenvolvesse “ancorado aos países desenvolvidos” (no pós-guerra, significava, claro, ‘ancorar o Brasil’ aos EUA). É a mesma ideia-projeto que está por trás do golpe militar de 1964 – do qual o general Golbery foi um dos principais ‘teóricos’, que levou o Brasil a quase meio século de ditadura militar, da qual ainda subsiste hoje muito “entulho autoritário” [NTs].

[5] O processo de privatizações no Brasil, durante os governos neoliberais do PSDB é objeto de pelo menos um livro importante, de um jornalista investigativo, Amaury Ribeiro Jr., que reúne e oferece vasta documentação: A privataria tucana. Sobre o livro, há bom guia de leitura em http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Privataria_Tucana. E o livro pode ser baixado, em PDF, em http://lelivros.com/book/download-a-privataria-tucana-ribeiro-jr-amaury-epub-mobi-pdf/ [NTs].

[6] A revista Forbes, esse mês, fez, da revista Veja, retrato bem menos condescendente: “Veja é a revista mais odiada do Brasil” (em http://www.forbes.com/sites/andersonantunes/2013/05/27/billionaire-roberto-civita-brazilian-media-baron-dies-at-76/)

[7] Citado em New Left Review, n. 16, Londres, jul.-ago. 2002, em ROCHA, Geisa Maria, Neo-dependency in Brasil, em http://newleftreview.org/II/16/geisa-maria-rocha-neo-dependency-in-brazil (ing.) (e em http://www.rcci.net/globalizacion/2002/fg275.htm (esp.) [NT]).

[8] “Estudo da Fiesp mostra que Alca é mais risco que oportunidade”, Valor Econômico, São Paulo, 26/7/2002, em http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2002/7/26/noticia.4350.

[9] Sobre o mesmo assunto, ver “Santos, a conjura contra Venezuela e a Aliança do Pacífico”
6/1/2013, Atilio Borón, Contrainjerencia
http://goo.gl/EwyNp [NTs].

[10]US protests against Bolivia’s decision to expel USAID”, BBC News, Londres, 1/5/2013.

[11]Maduro no volante”, Folha de S. Paulo, 7/4/2013.

[12] Talvez haja outras exceções, mas deve-se registrar aqui, por obrigatória, a exceção dos empresários da indústria comércio da imprensa-empresa brasileira, os quais, esses, são os mais conservadores e reacionários do sistema solar, ativos desde antes do golpe militar de 1964 e ativos até hoje, sempre contra a democracia brasileira. [NTs]

[13]8 Eixos de Integração da Infraestrutura da América do Sul”, Fiesp, São Paulo, 24/4/2012.

[14] Plano de trabalho do Conselho Sul-americano para Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan) para 2012.

[15] “8 Eixos de Integração da Infraestrutura da América do Sul”, op cit.

[16]Integração depende de governos, afirma bilionário”, Valor Econômico, 19, 20 e 21/4/2013.

[17] ZIBECHI, Raúl. Brasil Potencia, 2012, Bogotá: Ed. Desde Abajo.

[18] 1/4/2013, Entrevista a Valéria Nader e Gabriel Brito, Correio da Cidadania, http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=8228&Itemid=79

[19] 3/4/2013, “Fiesp Mostra vantagens de se levar indústrias ao Paraguai”, Valor Econômico.

El premio gernika de paz y reconciliación ha sido recogido por el MST

Joao Paulo Rodrigues ha recogido el premio Gernika de Paz y Reconciliación. El otro premio fue otorgado a Jesus Eguiguren (Partido Socialista de Euskadi) y a Arnaldo Otegi (miembro de la izquierda abertzale, actualmente preso político) por facilitar el actual proceso de paz que se está construyendo en Euskal Herria. En la foto, Joao Paulo Rodrigues miembro de la  miembro de la Comisión Nacional del MST recoge el premio junto a las hijas de Egiguren y Otegi.

http://gernikatikmundura.wordpress.com/2013/04/29/mstko-ordezkariak-joao-paulo-rodrigues-ek-gernika-saria-jaso-du-el-premio-gernika-de-paz-y-reconciliacion-ha-sido-recogido-por-el-mst/

“Queremos dedicar esse prêmio a todas as vítimas do bombardeio de Guernica, a todos os presos políticos do mundo que lutam por democracia e justiça, e a todos militantes que foram assassinados na luta pela Reforma Agrária”, disse João Paulo, da coordenação do MST e quem recebeu o prêmio pelo Movimento. E concluiu ao afirmar que a luta do MST pela paz, pela democracia e Reforma Agrária só é possível ter paz com justiça social. “Reafirmamos nosso compromisso de lutar em defesa da soberania alimentar, do meio ambiente, dos direitos humanos e em defesa dos camponeses”


Brasilgo MSTak jaso du saria, lurrik gabeko nekazarien alde egindako lanari aitorpena emonez. “Gaur egun 350.000 familiak erabiltzen dituzten bost mila hektarea lur berreskuratu dituzte, bakearen eta justizia sozialaren alde eginez”. Joao Carlos Rodriguez mugimenduko kideak kartzelan dauden eta erail dituzten nekazari guztiak izan ditu gogoan hizketaldi labur baten. Haren berbetan, “lurrik gabeko nekazariek indarrak batzen jarraitu behar dute, sistema kapitalistaren kontra egiteko”.

 

 

Video: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=S1QCAtESr5Q

 -Gernika Sariak jaso dituzte Otegik, Egigurenek eta Brasilgo MST Elkarteak: http://busturialdea.hitza.info/2013/04/26/gernika-sariak-jaso-dituzte-otegik-egigurenek-eta-brasilgo-mst-elkarteak/

-MST é premiado em Guernica pela luta da Reforma Agrária: http://www.mst.org.br/MST-recebe-premio-em-Guernica-pela-luta-da-Reforma-Agraria

-Cubainformación entrevista a Joao Paulo Rodrigues Chaves, de la Coordinación Nacional del Movimiento de Trabajadores Rurales sin Tierra (MST) de Brasil http://www.cubainformacion.tv/index.php/america-latina/49640-entrevista-el-mst-de-brasil-esta-aprendiendo-de-las-experiencias-de-cuba-en-agroecologia-y-agricultura-urbanaa

-Mar de fueguitos (Tas-Tas): El Movimiento de Trabajadores Rurales sin Tierra de Brasil recibe el Premio Gernika por sus 30 años de lucha: http://radioalmaina.org/blog/2013/04/25/mar-de-fueguitos-el-movimiento-de-trabajadores-rurales-sin-tierra-de-brasil-recibe-el-premio-gernika-por-sus-30-anos-de-lucha/

-Artículo de Prensa de Joao Paulo Rodrigues: “Lula fue el padre de los pobres y la madre de los ricos”: http://www.lavozdigital.es/cadiz/v/20130428/mundo/lula-padre-pobres-madre-20130428.html

 

 

 

Entrevista a Joao Pablo Rodrigues Chaves dirigente del MST

«Lula fue el padre de los pobres y la madre de los ricos»

28.04.13 – 00:10 -GERARDO ELORRIAGA |

Contexto economico del pais.

Exportaciones agrícolas. Brasil ocupa el tercer puesto mundial, tan solo por detrás de Estados Unidos y la UE.

Control de tierras. El 50% de su 65 millones de hectáreas aradas se encuentra en manos de grandes grupos económicos y el 54% de los cultivos son transgénicos.

Superficie cultivada. Las explotaciones superiores a las 100.000 hectáreas han pasado de 22 en el 2003 a 2.008 en el 2011.

Miembros del MST. Cuenta con 2,5 millones de afiliados y se atribuye el asentamiento de 500.000 familias.

Las víctimas. Desde 1985, 1.566 personas han sido asesinadas en Brasil por defender su derecho a la tierra. El 8% de estos crímenes han sido juzgados. 


A la vera de las inmensas carreteras brasileñas se encuentran acampadas más de 150.000 familias campesinas que aspiran a la propiedad de una pequeña hacienda. El Movimiento de Trabajadores Rurales Sin Tierra (MST) apoya esta demanda de los braceros desde su creación hace tres décadas. Hoy, convertida en una de las organizaciones sociales más importantes de Latinoamérica, mantiene su lucha en un escenario aún más complejo, globalizado, donde confluyen intereses económicos de enormes dimensiones. Joao Pablo Rodrigues Chaves, miembro de su Coordinación Nacional, acaba de recibir el Premio Gernika por la Paz y la Reconciliación, un galardón a una lucha dificultada por la represión oficial y el asesinato clandestino.

-El conflicto social permanece en el campo brasileño. ¿En estos últimos treinta años se han consolidado progresos o la situación ha empeorado?

-El movimiento se fundó en un periodo dictatorial y, para nosotros, supone un avance importante la consolidación de un proceso democrático y las conquistas económicas y de derechos sociales para el campesino, como la política de créditos agrícolas, la introducción de la energía eléctrica o la educación.

-Pero la concentración de la propiedad se ha agudizado en estas últimas décadas.

-Ha aparecido un nuevo factor, las transnacionales que adquieren tierras para dedicarlas al monocultivo de exportación. Pueden cultivar caña de azúcar y producir etanol en el estado de Sao Paulo o el nordeste, eucalipto con el fin de generar pasta de celulosa, gracias al capital finés o surasiático, o dedicarse al negocio de la soja en el centro oeste. En el negocio han entrado Monsanto, Bunge, Bill Gates y George Soros, entre otros.

-La agricultura brasileña es un ejemplo de globalización comercial.

-El capital internacional ha emigrado a nuestro país como una forma segura de inversión en tiempos de crisis. Toda la exportación de grano se lleva a cabo por cinco o seis firmas y la producción de carne se canaliza a través de tres frigoríficas. Ese fenómeno nos deja en una situación muy complicada porque el enemigo ya no es el latifundista local, sino la gran empresa internacional con sede en Nueva York o Helsinki.

-¿Los gobiernos progresistas de Lula da Silva y Dilma Rousseff apoyan esta expansión?

-Lula fue el padre de los pobres y la madre de los ricos, porque el modelo de desarrollo brasileño está basado en el apoyo al inversor extranjero. Se dedican 2.000 millones de dólares (1.535 millones de euros) a préstamos, subsidios para infraestructuras o incentivos para los campesinos, mientras que las empresas de agronegocio cuentan con 120.000 millones. Por ejemplo, la soja para la exportación no paga impuestos, solo la dedicada al consumo interno.

Espiral de violencia

-En lo que va de año tres de sus representantes han sido asesinados. ¿Quién mata en Brasil?

-Mata quien detenta la tierra. Las grandes empresas son muy modernas, y sus plantaciones de Sao Paulo disponen de la tecnología más reciente, pero el mismo grupo puede poseer una hacienda en Maranhao, al nordeste, completamente arcaica, con sistemas de esclavitud y milicias armadas. También tenemos problemas con la Policía local, radicalizada contra nosotros. Sufrimos su persecución, la criminalización, porque hoy el agronegocio es hegemónico y el campesino sin tierra, el indígena, el sindicalista y el ambientalista son los malos.

-¿Persisten todavía lacras como la esclavitud y el trabajo infantil?

-Permanecen porque la agricultura es mixta, está la moderna y aquella que se basa en el trabajo barato de la mano de obra sin derechos, que destruye la foresta y presiona a los pequeños propietarios para que vendan. En sus haciendas aisladas los trabajadores han de pagar la cama, la comida y la ropa. El año pasado fueron liberados 2.000 personas que estaban en esta situación.

-¿Hay conciencia en el país de los riesgos de este monocultivo industrial, no solo en el plano económico sino en el sanitario, por el elevado uso de pesticidas que exige?

-No, Brasil es el mayor consumidor de agrotóxicos del mundo, con una media de cinco kilos por persona, lo que supone casi mil millones de kilos anuales. El fenómeno es muy grave porque se esparcen por avión, lo que afecta a la salud de las personas. Se fumigan los pastos y los cultivos de soja, maíz, eucalipto o los pastos, pero no hay crecimiento de la producción de frijoles, mandioca o de frutas como el mango. Los precios de los alimentos son los más elevados de Latinoamérica, el del tomate ha aumentado un 150%, va a ser más caro que la carne.

-¿Este modelo de desarrollo es viable?

-No es sostenible, los países emergentes necesitan procesos nuevos. No se invierte en tecnología que no sea para el biodiesel, estamos perdiendo la soberanía alimentaria, los campesinos emigran a las urbes y los grandes capitalistas quieren explotar la Amazonia para extraer el hierro. Vamos a tener enormes problemas sociales y ecológicos.

-La clase política parece carecer de conciencia sobre los riesgos asumidos, pero, ¿qué ocurre con la sociedad?

-Existe la conciencia de que el país se enriquece frente a un mundo decaído y una creciente clase media que reclama una buena casa, coche, televisión y frigorífico. La población brasileña se concentra en cinco ciudades, Sao Paulo, Río de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza y Salvador, y no le importa lo que pueda suceder en el Mato Grosso o la Amazonía, aunque el gran motor económico del país es el campo. Ahora existe mucha preocupación por el aumento de los casos de cáncer, pero no existe un debate sobre su causa. Se piensa en el crecimiento económico, pero no en el social ni en los riesgos que comporta.

 

MST RECEBEU premio GERNIKA, nesta sexta feira, 26 na prefeitura de Gernika, Pais Basco

O MST recebeu nesta sexta-feira (26/4) o prêmio Prêmio Guernica para a Paz e Reconciliação de 2013, na cidade de Guernica, na Espanha. O prêmio foi entregue durante os atos de memória dos 76 anos do bombardeio de Guernica pelos nazistas.

Gernika, 26 de mayo.

Cerca de 400 pessoas participaram da cerimônia, dentre as quais autoridades da cidade, membros da Via Campesina da Espanha e amigos do MST no país Basco.

Ao conceder o prêmio para o MST, o comitê de jurados afirmou que o Movimento é uma “organização que luta pela paz e pela Reforma Agrária no Brasil. Está há 30 anos resistindo, de forma não violenta, e já conquistou mais de 1.500 assentamentos legalizados, que reúnem 350 mil famílias em um total de 5 milhões de hectares".

João Paulo Rodrigues, da coordenação do MST e quem recebeu o prêmio pelo Movimento, agradeceu, ao lembrar das vítimas do bombardeio e da violência contra os trabalhadores rurais pelo latifúndio. 

“Queremos dedicar esse prêmio a todas as vítimas do bombardeio de Guernica, a todos os presos políticos do mundo que lutam por democracia e justiça, e a todos militantes que foram assassinados na luta pela Reforma Agrária”, disse João Paulo.

E concluiu ao afirmar que a luta do MST pela paz, pela democracia e Reforma Agrária só é possível ter paz com justiça social. "Reafirmamos nosso compromisso de lutar em defesa da soberania alimentar, do meio ambiente, dos direitos humanos e em defesa dos camponeses”.

O Deputado Valmir Assunção (PT-BA), em pronunciamento na Câmara dos deputados, elogiou a iniciativa e parabenizou o MST. “Quero aqui parabenizar o MST, que é maior movimento social da América Latina. Parabenizar pela luta e povo aguerrido, que não descansa mesmo diante de uma conjuntura de concentração fundiária e atuação nociva do agronegócio, que não produz alimentos, se utiliza de trabalho escravo e, dentro desta casa, articula-se contra os direitos do povo brasileiro”.

Após a entrega dos prêmios, houve atividades culturais e uma homenagem no cemitério onde estão enterrados os mortos do bombardeio de Guernica.

Premiação

A premiação Guernica para a Paz e a Reconciliação foi estabelecida em 2005 durante as atividades que relembram o bombardeio da cidade espanhola pelos nazistas, em 26 de abril de 1937. A premiação foi liderada pela Câmara Municipal de Guernika-Lumo (Espanha), a cidade de Pforzheim (Alemanha), a Fundação Guernika Gogoratuz, o Museu da Paz e da Casa da Cultura de Guernika-Lumo.

Todos os anos, um prêmios é concedido a pessoas que trabalham pela paz e o outro é apresentado a grandes líderes, personalidades ou instituições que tenham lutado para transformar os conflitos e estabelecer as bases de futuros processos de reconciliação.

vídeo:MST: O MOVIMENTO SEM TERRA E A MAIOR MARCHA DO BRASIL

Titulo do vídeo:MST: O MOVIMENTO SEM TERRA E A MAIOR MARCHA DO BRASIL

País:Brasil Duração:01:10:00 Diretor:Gibby Zobel

http://tal.tv/video/mst-o-movimento-sem-terra-e-a-maior-marcha-do-brasil 

Durante 17 dias, 12.000 integrantes do Movimento Sem Terra acordaram de madrugada e pegaram a estrada BR-060, formando uma coluna de quatro quilômetros rumo à Brasília na luta pela reforma agrária.

Diabolizados como foras-da-lei, perigosos – até terroristas – pela mídia do próprio país, o movimento de mais de um milhão e meio de pessoas tem apoio internacional e já é batizado o movimento mais dinâmico do mundo.

O filme acompanha a longa marcha de 238 quilômetros pela liberdade, uma visão épica da humanidade em movimento.

Chegar no destino não era a meta principal. Para o MST, fundado em 1984, a marcha tinha como objetivo abrir um debate a longo prazo com a sociedade, um sonho do futuro.

O filme segue quatro participantes, mostrando o dia a dia deles abaixo da lona preta, do extremo sul ao árido nordeste do país, para ver se a Marcha Nacional de Reforma Agrária teve impacto sobre eles e as suas comunidades.

Dirigente do MST executado por pistoleiros com 15 tiros na Bahia

2 de abril de 2013 Da Página do MST

Na manhã desta terça (02/4), Fábio dos Santos Silva, dirigente do MST na Bahia, foi brutalmente executado por pistoleiros com 15 tiros, na frente de sua mulher e de uma criança. O dirigente já vinha sendo ameaçado de morte na região de Iguaí. As informações são do deputado Valmir Assunção (PT-BA):

"É com revolta e ainda bastante abalado que denuncio o assassinato do dirigente do MST da Bahia, Fábio dos Santos Silva. Fábio foi executado no fim desta manhã com 15 tiros na frente da sua companheira e uma criança, que seguiam de carro para Palmerinha, distrito próximo a Iguaí, no Sudoeste baiano.

Segundo relato da própria companheira de Fábio, uma moto interceptou o carro em que estavam e executaram Fábio. Ele, que já era ameaçado de morte na região de Iguaí, onde o latifúndio não aceita a democratização da terra, nem a presença dos três assentamentos e do acampamento existente no local, teve sua vida ceifada.

Pergunto-me, quantas vezes os nossos camponeses e trabalhadores serão assassinados? É esse tipo de ação, com o uso da pistolagem, covarde e cruel, que estamos convivendo no campo brasileiro. Esse assassinato, com claros sinais de execução, não pode ficar impune. 

Fábio, que inclusive foi candidato a vereador pelo PT da região, foi um grande lutador, companheiro e militante das causas sociais. Como todo militante do MST, queria ver a Reforma Agrária ser concretizada. 

Companheiro Fábio, aqui continuaremos tua luta. Solidarizo-me à família. 

Fábio, presente, presente, presente! 

O MST está de luto".

600 mulheres do Campo e da Cidade ocupam empresa multinacional de agrot?xicos em Taquari/RS

Porto Alegre, 06 de março de 2013.

Nesta manhã, 600 mulheres da Via Campesina (majoritariamente MST), realizam ocupação na empresa fabricante de agrotóxicos Milenia em Taquari/RS. Além desta atividade, cerca de 400 mulheres estão reunidas em Santa Cruz do Sul/RS, onde realizarão estudo pela manhã e um ato de denuncia pela tarde, marchando pelo centro da cidade.

Estas ações que seguem até o dia 08 de março de 2013, fazem parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres do Campo e da Cidade, organizada no Rio Grande do Sul, pelas Mulheres da Via Campesina, Levante Popular da Juventude e Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD). Esta Jornada está ocorrendo também em outros Estados como Brasília, Bahia, Mato Grosso, Acre, Santa Catarina e Paraná, onde as mulheres denunciam a violência e a utilização de agrotóxicos na produção de alimentos.

Segundo as militantes, no Brasil a venda de agrotóxico nos últimos 10 anos ultrapassou os 190%, ainda que cada brasileiro consome cerca de 5,2 litros de agrotóxico por ano através da alimentação. Estes mesmos dados informam que as propriedades com mais de 100 hectares são as que mais utilizam defensivos na produção de alimentos.

 

17 de abril: Dia Internacional das Lutas Camponesas – VíaCampesina

Resistência contra a mercantilização da natureza – Paremos os monopólios de terras! Chamado à mobilização

A dramática crise meio ambiental, econômica e social que estamos presenciando, surpreendentemente, não tem feito com que as elites nacionais e internacionais adotem nenhuma estratégia de mudança radical. Ao contrário, as superpotências econômicas têm intensificado suas ofensivas em seu afã por monopolizar todos os recursos disponíveis, com o fim de lucro. A terra converteu-se em uma mercadoria valiosa que entrou no mercado da especulação e, com ela, a água, as sementes etc. Essa hipermercantilização dos recursos leva à expropriação massiva dos povos que levam vidas simples no campo. Isso tem afetado especialmente às mulheres e homens camponeses.


Ao mesmo tempo, a resistência está emergindo em todas as partes. Em todo o mundo as comunidades urbanas e rurais que têm sido afetadas pela mesma onda de privatização e destruição da vida estão resistindo contra as empresas transnacionais que têm colocado a lei do benefício às necessidades e aos direitos dos povos.

A resistência dos povos contra os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs) tem sido testemunhas de recentes vitórias; têm acontecido iniciativas de agricultura sustentável nas cidades e nas zonas rurais para alimentar a população local; milhares de pessoas manifestam-se contra os absurdos "projetos de desenvolvimento”, como minas destrutivas, aeroportos, centros comerciais ou plantações industriais. O campesinado e a sociedade civil têm se oposto com firmeza aos monopólios globais em todas as partes.

Há 20 anos, o movimento internacional de camponeses La Vía Campesina defende e estende as práticas e políticas da soberania alimentar por todo o mundo. Com o fim de inaugurar outros 20 anos de luta, fazemos um chamado à mobilização massiva no dia 17 de abril, Dia Internacional das Lutas Camponesas, para reclamar nosso sistema alimentar que está sendo ocupado, cada vez mais, pelo capital transnacional.

Convidamos todo o mundo a organizar atividades, protestos, exposições, ações diretas, debates, projeção de filmes, mercados verdes etc., em sua cidade, escola, escritório, bairro, organização, comunidade…

Onde estejamos, vamos participar dessa celebração coletiva do 17 de abril.

– Envia informações sobre tuas atividades para viacampesina@viacampesina.org
– Se queres, inclui teu nome na lista especial de correio eletrônico, enviando um e-mail em branco para
via.17april-subscribe@viacampesina.net
– Envia-nos informações, fotos, vídeos de tuas atividades. Serão publicados na nova Vía Campesina TV
– Publicaremos o mapa de ações que estarão acontecendo em todo o mundo em
www.viacampesina.org
– Une-te ao nosso evento através do Facebook.

Origem do Dia de Ação: No dia 17 de abril de 1996, no Estado amazônico do Pará, em Eldorado dos Carajás, a polícia militar massacrou aos camponeses que havia se organizado no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), assassinando 19 pessoas. Naquele dia, 1.500 mulheres e homens organizados no MST ocuparam e bloquearam uma estrada, com a intenção de pressionar o Estado e o governo federal pela Reforma Agrária. Às 16:00 horas, 155 policiais militares de duas brigadas rodearam o MST na estrada, atacando as pessoas com gás lacrimogêneo, balas e metralhadoras. Além das 19 pessoas do MST que foram assassinadas durante o massacre, três pessoas morreram depois e 69 foram feridas. As autoridades estatais, a polícia, o exército e os latifundiários locais mais poderosos participaram na organização e na execução do massacre. Mais de 15 anos depois, nenhum dos responsáveis dos responsáveis pelo massacre preso ou castigado.

 

Via Campesina convoca ações populares para Dia Internacional de Lutas Camponesas

No marco dos 20 anos de luta da Via Campesina em defesa da soberania alimentar, a organização internacional já convoca a população a participar do próximo Dia Internacional das Lutas Camponesas, a celebrar-se em 17 de abril, sob o lema Resistência contra a mercantilização da natureza – Paremos os acúmulos de terras!, preparando atividades como protestos, debates, ações diretas, exposições, mercados verdes, e outras atividades em suas comunidades, aldeias, escolas e organizações.

"Com o fim de inaugurar outros 20 anos de luta, fazemos um chamado para a mobilização massiva em 17 de abril, Dia Internacional das Lutas Camponesas, para reivindicar nosso sistema alimentar que está sendo ocupado, cada vez mais, pelo capital transnacional”, expressa a convocatória.

Diante da atual crise econômica, ambiental e social pela qual atravessa o planeta, a organização reforça a necessidade de se manifestar resistir às investidas das ‘elites nacionais e internacionais’ que, ao invés de mudarem suas estratégias, "intensificaram suas ofensivas” para lucrar em cima de bens naturais como terra, água, sementes que se transformaram em mercadorias valiosas no ‘mercado da especulação’. No entanto, a Via Campesina lembra que a prática da hiper-mercantilização traz como consequência a "expropriação massiva dos povos que levam vidas simples no campo”.

Em contrapartida, a organização internacional destaca as reações de populações que se veem afetadas pela privatização no campo ou na cidade, e que têm protagonizado atos de resistência contra empresas transnacionais em defesa da vida e dos direitos dos povos.

"A resistência dos povos contra os OGM [organismos geneticamente modificados] foi testemunha de recentes vitórias; se desenvolveram iniciativas de agricultura agroecológica sustentável nas cidades e nas zonas rurais para alimentar a população local”, exemplifica Via Campesina, citando ainda manifestações contra ‘projetos de desenvolvimento absurdos’ e afirmando que "o campesinato e a sociedade civil se opuseram com firmeza aos acúmulos globais em todas as partes”.

O Dia Internacional de Lutas Camponesas surgiu como resposta ao massacre de Eldorado dos Carajás, no qual 19 camponeses integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) foram assassinados em um confronto com a polícia em 17 de abril de 1996, no Pará (Brasil). Na ocasião, integrantes do MST se manifestavam pedindo reforma agrária.

Para participar das atividades pelo Dia Internacional das Lutas Camponesas comunique-se com a Via Campesina pelo e-mail viacampesina@viacampesina.org

Para mais informações, acesse: www.viacampesina.org

 

Assentados trancam rodovia no Par? por melhorias básicas no assentamento

15 de fevereiro de 2013 Da Página do MST
Na manhã desta sexta-feira (15), militantes do MST ocuparam a BR 010 na altura no Assentamento Luís Carlos Prestes (km 19), próximo ao município de Irituia, no Pará.
As pautas se referem às condições de infraestrutura básica do assentamento, como acesso à educação, saúde, crédito e fomento, cultura e lazer, entre outros. A ação se faz junto com os participantes do IV Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV).


As 47 famílias do assentamento Luis Carlos Prestes, assim como as 15 famílias do acampamento Carlos Mariguella, ambas localizadas em Irituia, estão sem energia elétrica desde a criação do assentamento, em 2008. As famílias relatam que o beneficiamento de suas produções fica comprometido, assim como a segurança, a possibilidade de ter condições para o estudo, a dificuldade de armazenar alimentos, entre tantos outros problemas.

O pedido de implantação da energia por meio do Programa Luz Para Todos já foi realizado desde o final de 2010. Depois de diversas tentativas, a última informação foi a de que a Rede CELPA havia indicado que a energia seria implantada até julho de 2011. Mas até hoje o assentamento continua no escuro.

Além disso, desde 2011 as famílias também reivindicam a conclusão da estrada vicinal que dá acesso aos lotes do assentamento, pois em período de chuvas a estrada não oferece condições de interligação entre os lotes, de acessibilidade à escola, posto de saúde, escoamento da produção agrícola, ou seja, as famílias ficam isoladas.

“A Reforma Agrária não é só a demarcação de lotes, necessita de todas as condições para que as famílias possam se desenvolver e viver com dignidade, como acesso à educação, saúde, crédito e fomento, cultura e lazer”, afirma a nota enviada pelas famílias.

Quanto à educação, também existe há três anos a solicitação para que a Escola Antonio Santos do Carmo fosse construída, de modo que atendesse as necessidades do assentamento e do acampamento.

O acesso à água de qualidade é outro empecilho. Numa reunião com o Superintendente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), realizada em abril de 2012, foi acordado o envio de técnicos para avaliar a área e localizar quantos e onde seriam abertos poços artesianos para o abastecimento de água com prazo de 10 dias. Entretanto, a água proveniente do igarapé que corta o assentamento continua sendo a fonte das famílias.

“A Reforma Agrária, que deveria seguir a Constituição Brasileira de 1988, não existe e por isso nega o direito dos camponeses e camponesas de cultivar a terra para produzir alimentos saudáveis para todo o país. As famílias que conseguem um pedaço de chão ainda tem que enfrentar a burocracia do Estado para ter acesso às estruturas básicas que possibilitam viver e trabalhar com dignidade. Terra, água, casa, estrada, luz, escola, saúde e lazer não são concessões, são um direito do povo trabalhador”, diz a nota.

Histórico

No dia 3 de janeiro de 2007 cerca de 180 famílias começaram a se organizar junto ao MST para ocupar a antiga Fazenda São Felipe e Divisa, reivindicando a desapropriação da área para fins de Reforma Agrária. Na época, o latifundiário Zeunísio organizou uma ação contra as famílias, quando pistoleiros deixaram seis feridos e uma vítima fatal, Antônio Santos do Carmo. Com isso, as famílias ocuparam a sede da fazenda no dia 3 de maio do mesmo ano. Os crimes estão impunes até hoje.

No dia 29 de dezembro de 2008, por meio da Portaria nº 94, publicada no Diário Oficial da União, a área foi expropriada e as famílias começaram a receber seus lotes.

http://www.mst.org.br/Assentados-trancam-rodovia-no-Para-por-melhorias-basicas-no-assentamento