A nova alian?a interna do PT

A primeira vista, a direção do PT que assumiu no sábado passado nada mais é que a reedição do antigo Campo Majoritário com a ajuda do ministro Tarso Genro (Justiça), o profeta da refundação partidária. Olhando-se mais de perto, no entanto, é perceptível que há ao menos um compromisso de mudança de conduta dos novos dirigentes petista. É o que explicaria a aliança entre os grupos antes desavindos. A análise é de Raymundo Costa, repórter especial de Política, no Valor, 12-02-2008.

A Articulação, o grupo que antes dominava o chamado Campo Majoritário, fez 43% dos votos nas eleições petistas do final do ano passado. Para constituir a nova maioria, tinha como opções de aliança o "pessoal da Marta" (Marta Suplicy, ministra do Turismo), na pessoa do deputado Jilmar Tatto, segundo colocado na eleição, e o grupo do ministro Tarso Genro, que ficou no terceiro lugar, na contagem final dos votos.

Pela lógica tradicional petista, essa aliança se daria com o segundo colocado, Jilmar Tatto, que ficaria com a Secretaria Geral do PT, além de indicar um dos três vices-presidentes. Mas um acordo com Tatto era sinal de que nada iria mudar. Os métodos do "pessoal da Marta" são conhecidos em São Paulo, como o pagamento de transporte para eleitor ou delegado partidário em dia de votação, para ficar num exemplo simples.

Referendaram esse raciocínio o deputado Ricardo Berzoini, que se reelegeu para a presidência do PT, o assessor para assuntos internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, eleito um dos três vices-presidentes, e também o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, que não interveio nos debates do Diretório Nacional, mas conversou muito nos bastidores.

A opção foi o deputado José Eduardo Cardozo (SP), o candidato que personificou a mensagem da refundação formulada por Tarso Genro. Tatto ficou sem nada, Marta levou uma das vice-presidências e o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, à frente de uma outra tendência, indicou Romênio Pereira para a secretaria de Assuntos Institucionais.

Poucos petistas acreditavam que isso pudesse acontecer, sobretudo porque José Eduardo Cardozo é persona-non-grata no grupo Articulação, que o considera individualista, alguém que costuma fazer nome às custas de críticas ao PT. Sem falar que Lula também não o tem na mais alta conta. Mas ao oferecer-lhe a Secretaria Geral, a Articulação diz que fez uma profissão de fé nas mudanças, um novo pacto no qual o batismo foi a aliança com a Mensagem (como se denominou o grupo de Genro) e o crisma, a eleição de José Eduardo Cardozo.

É reducionismo dizer que Genro se aliou ao grupo de José Dirceu. Segundo todos os testemunhos, "Zé não incidiu nesse assunto" – não foi à reunião do diretório, não se manifestou por telefone e nem seus cabos-eleitorais deram pitacos. Quando a Articulação diz que quer mudar o método, está fazendo uma crítica a Dirceu. Na prática, Genro se tornou o fiador e Cardozo o símbolo da promessa de mudança.

O tempo dirá sobre a firmeza das anunciadas convicções petistas. De imediato, as primeiras providências da nova direção parecem indicar que pouco ou quase nada mudou. Uma delas é a abertura do debate sobre a economia com a equipe econômica, no Diretório Nacional, para discutir a situação econômica. Desde a queda da CPMF até metas fiscais e taxa de juros.

A equipe econômica é acusada de ter custado a negociar a CPMF com o Congresso, e quando acordou, já era tarde demais. Pode sair daí uma proposta para compensar o imposto do cheque. A conta que o PT faz é que o governo perdeu R$ 120 bilhões (R$ 40 bilhões por ano, até a eleição de 2010), que farão falta e levarão fatalmente a cortes nas verbas do PAC.

O texto da segunda decisão foi amenizado para não despertar a curiosidade da imprensa. Na forma definitiva, diz que o PT vai discutir a política de alianças, nas eleições municipais de outubro, em reunião do Diretório Nacional. Ponto. O texto inicial tinha uma vírgula. Depois dela dizia que as alianças atualmente em negociação serão consideradas inexistentes.

A resolução é um recado direto ao prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que conversa com o governador Aécio Neves sobre a escolha de um candidato comum a PT e PSDB. Pimentel pode conversar com Aécio por sua conta e risco. O que os dirigentes dizem é que as negociações em marcha nada significam até a reunião do Diretório. Nada mais déjà vu.