Monocultura de eucalipto: Crimes ambientais, pobreza e desemprego

15 de mayo de 2007. A monocultura é vista pelos ambientalistas como uma das principais causas da destruição do meio ambiente. No caso do eucalipto, muitos produtos químicos são utilizados para acelerar o crescimento e as árvores sugam uma quantidade enorme de água do solo. Isso enfraquece a terra e acaba com a biodiversidade local. Grandes empresas de celulose, como por exemplo a multinacional Aracruz, além de cometerem crimes ambientais, geram pobreza e desemprego, e são responsáveis pelo aumento do êxodo rural em muitos estados.

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No caso da região de Eunápolis (BA), onde a Aracruz e suas acionistas têm mais de 43 mil hectares de terras, 60% dos agricultores já deixaram a área rural. No estado, a empresa também já foi multada em quase R$ 1 milhão por plantio ilegal. Já no Espírito Santo, a empresa está sendo acusada na Justiça de invadir 11 mil hectares de terras dos povos indígenas Tupinkim e Guarani. Mas mesmo assim, a Aracruz recebe financiamento público do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Em entrevista à Radioâgencia NP, o coordenador da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), Marcelo Calazans nos fala sobre os riscos dessa cultura e as estratégias das empresas. Ouçam agora a entrevista.

Radioagência NP: Para iniciar, você pode nos explicar quais são os danos que a monocultura de eucalipto trás especificamente para os agricultores?

Marcelo Calazans: O primeiro dano é a perda dos recursos naturais que antes permitiam as sub-existências de vários grupos sociais. Então, quando essas empresas entram, elas não apenas destroem as condições dos meios que permitiam a vida de populações. Por outro lado, elas também não oferecem em contra parte nenhum tipo de emprego, porque esse tipo de trabalho desemprega em massa. Onde entra eucalipto os índices de empregos são baixos, e as empresas mentem quando dizem que geram muito emprego. Essas plantações geram poucos empregos e em períodos muito reduzidos o que provoca uma clara expulsão do homem do campo.

Radioagência NP: E como essas empresas, que na maioria das vezes são multinacionais, conseguem adquirir grandes propriedades de terras para o plantio?

MC: A estratégia da empresa de adquirir terras é o chamado fomento florestal. O que é isso? É um aluguel de terras. A empresa aluga a terra do camponês, e paga para ele o valor da madeira que ele produz nesta terra. Essa é uma forma que as empresas estão utilizando para dizer que não aumenta o latifúndio, de que não contribui com a concentração de terra e que ajuda a fixação do camponês no campo, mas sabemos que tudo isso é mentira. Então muitos camponeses acabam caindo nesta história, se submetendo a lógica da empresa. Elas têm no fomento florestal, uma forma de se manter expandido mesmo sem comprar terra, é uma forma de terceirizar parte da sua produção. Isso tem sido usado como estratégia de expansão deste setor. Infelizmente, muitos camponeses, por falta de alternativas, têm se subordinado a esse tipo de relação com a empresa.

Radioagência NP: E quais são as perdas que o agricultor pode ter com essa relação?

MC: O problema do eucalipto é que uma vez plantado não dá para extraí-lo tão facilmente como a cana e a soja. O eucalipto é uma árvore com raízes profundas. A reconversão desta área é de custo altíssimo e de tempo muito demorado. Esse é um grande problema que o camponês deve refletir é como depois ele poderá migrar para outra cultura?. O que ele vai fazer com á área? Vai ter uma área toda cortada, cortes rasos, milhares de tocos sobre está área, o que ele vai plantar sobre isso? É uma lógica que no primeiro momento aparece uma alternativa, mas é uma alternativa do desespero é uma alternativa por falta de outras políticas agrícolas e agrárias do governo. Na medida em que o governo não oferece essas alternativas, não diversifica, não pensa a comercialização da agricultura camponesa, aí o eucalipto aparece como alternativa, mas é uma alternativa por falta de política.

Radiagência NP: E porque essas empresas se instalam aqui no Brasil?

MC: Aqui se faz o trabalho sujo. Nós aqui somos apenas um lugar de passagem, por acaso passa aqui. Poderia ser na Tailândia, África do Sul ou Chile, certamente em qualquer outro país onde a legislação ambiental pode ser facilmente driblada, onde os estados não fazem regularizações. A questão do território nacional é complexa de difícil solução, mas o que eu percebo no atual cenário é uma enorme privatização e internacionalização do território brasileiro. Esse processo na verdade é um processo simbólico de um cenário global de privativatização de todos os recursos naturais.

Vocês acabaram de ouvir a entrevista com o coordenador da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), Marcelo Calazans.

De São Paulo, da Rádioagência NP, Danilo Augusto.