Desde Pará continua la represion

Caros Compas, Estou escrevendo desde Marabá (PA). A minha idea era participar da "Marcha", mais foi suspesa.  A situaçao esta bastante tensa por causa da ordem de despejo de varios acampamentos do MST, algum deles muito antigos. Estou reenviado a mensagem da Direçao Estadual do Para sobre a situaçao.
Um grande abraço desde essa terras da Amazonia.
Gloria Casaldaliga –  COMITE SUPORT MST BARCELONA

De: Ayala lindabeth dias ferreira <ayalamst@yahoo.com.br>
Asunto: Comunicado para os aliados
Para: gloria casaldaliga

Prezados companheiros e companheiras,

 

Neste ano de 2006, em função da Jornada de lutas no mês de abril, ocasião que se completou 10 anos do Massacre de Eldorado do Carajás, se aprofundou a criminalização de nossa organização, através de uma forte aliança do governo do Estado, Poder Judiciário e o latifúndio. Nesse propósito, tivemos o cumprimento  de ordens de despejos a centenas de famílias Sem Terra que viviam em diversas áreas de acampamentos e, como se não bastasse, indiciamentos de várias lideranças e o mandato de prisão a dois companheiros do MST, Valdomiro Costa e Alberto da Silva Lima.

 

A análise feita, é que este plano orquestrado pela elite paraense, foi uma tentativa de inibir a Jornada de lutas  de nossa Organização, retardando dessa forma as conquistas esperadas.

 

As ameaças de despejos, as prisões de nossos militantes e perseguição de outras lideranças do MST, fez com que intensificássemos  na frente jurídica, através dos advogados populares da CPT e do Setor de Direitos Humanos do MST. O acompanhamento dessa frente apontou-nos que não havia interesse do Estado e do poder judiciário de avançar na consolidação da reforma agrária (nem mesmo para amenizar os focos dos conflitos sociais), e na libertação dos presos políticos, que amargavam meses na prisão, sob condições subumanas.

 

Esta certeza da perseguição política e o pouco avanço no campo jurídico, fez com que tomássemos a decisão de iniciarmos nossa Marcha estadual em defesa da reforma agrária, contra a violência no campo e, principalmente pela libertação dos nossos presos políticos.

 

A urgência de iniciarmos a marcha se deu pela necessidade de tirarmos nossos companheiros da prisão que pelo tempo de encarceramento apresentam sinais de doenças. A medida que avançávamos nas articulações, na divulgação para a sociedade, tivemos a noticia que nossa mobilização havia atingido um dos objetivos, no dia que daríamos o inicio da caminhada, o Poder Judiciário e o governo do Estado, temendo a capacidade organizativa do POVO SEM TERRA decretou a libertação dos nossos companheiros presos.

 

No entanto, mantiveram os mandatos de despejos de centenas de famílias, que estão acampadas em áreas que comprovadamente foram griladas da União, ou respondem por crimes como prática do trabalho escravo.

 

Neste sentido, após uma profunda reflexão tomamos a definição de interrompermos o início da Marcha e, centrássemos esforço redobrado na organização das famílias acampadas que estão prestes a serem despejadas, no sentido de garantirmos a resistência das mesmas.

 

Por ocasião dessa definição em função da mudança na conjuntura estadual, e conscientes do esforço coletivo e solidário dos Comitês de Apoio ao MST na Europa de disponibilizar recursos financeiros  para o MST do Estado do Pará, para a realização da marcha estadual, perguntamos e pedimos permissão através desta de utilizarmos o recurso disponibilizado para nossa Organização, para prepararmos a resistência de cerca de 1.500 famílias do MST que estão prestes a serem despejadas pelo Comando da Polícia Militar do Estado.

 

Prevendo que o despejo seja inevitável, e que as famílias acampadas não tenham para indo ir, precisaremos garantir infra-estrutura como transporte, lonas, combustível, alimentação dentre outras, para levarmos todas as 1.500 famílias para o centro de decisão da política de reforma agrária nesta região e, assim montarmos um ACAMPAMENTO provisório.

 

Na ocasião, pretendemos fazer do Acampamento um espaço de negociação, diálogo/denúncia    e formação. Sim, negociação com os órgãos responsáveis pela implementação da reforma agrária no nosso país, diálogo e denúncia para a sociedade em geral que pelo silencio intencional da imprensa, desconhecem o que os pobres do campo sofrem e por fim, a formação das nossas famílias acampadas, através do estudo, da mística e da organicidade.

Certos de podermos contarmos com a compreensão, despedimo-nos,

 

Coordenação Estadual do MST – PA

Marabá, 10 de agosto de 2006.