5ºCongresso MST 10/06/2007

Movimento espera reunir 17.500 pessoas no maior congresso da sua história, que começa amanhã em Brasília. 

O Movimento dos Sem-Terra (MST) realiza a partir de amanhã, em Brasília, o maior congresso de sua história. Cerca de 17.500 representantes de acampados e assentados de todo o Brasil, segundo previsão dos organizadores, participarão do encontro, que se prolonga até sexta-feira, no ginásio de esportes Nilson Nelson.
É o quinto congresso do MST. O primeiro, realizado em 1985, em Curitiba, um ano após a criação do movimento, reuniu cerca de 1.500 pessoas.

Os congressos são a instância máxima na estrutura de poder da organização, com a função de definir os seus rumos por um período em torno de cinco anos. Isso é feito a partir de debates sobre a conjuntura do País e seus principais problemas, a correlação de forças entre os diferentes setores da sociedade, as relações com o poder. "É um encontro para debates políticos e ideológicos", segundo João Pedro Stédile, do grupo de diretores nacionais.

No momento, o maior problema que o MST vê no campo é o avanço do agronegócio e, de modo particular, a crescente presença de empresas estrangeiras em negócios de compra de terras. Essa questão, que reflete na política de reforma agrária, terá um lugar destacado no congresso.

"Nos preocupa o processo de concentração da propriedade da terra, que vem ocorrendo em São Paulo, Minas, Goiás e Mato Grosso do Sul, por influência do álcool e da cana", diz Stédile. "E nos preocupa agora como o capital estrangeiro, por meio de associação com empresas brasileiras, como fez a Cargill no interior de São Paulo, ou disfarçado em fundos de investimentos, como esse do George Soros, está comprando terras no Brasil. Achávamos que isso era coisa do período colonial, mas a sanha deles é insaciável."

Para outro integrante da direção nacional, José Batista de Oliveira, a ofensiva do capital internacional na área da produção de commodities agrícolas "é assustadora". Segundo suas explicações, "não se trata só da posse da terra: isso envolve também o domínio da água, das florestas, da biodiversidade".

Oliveira considera quase impossível ter uma dimensão exata do avanço das empresas estrangeiras no campo: "Normalmente, isso ocorre por meio de associações, fusões e confusões de capitais estrangeiros e nacionais, sem falar nos laranjas – que cedem os nomes para os negócios. Muitas vezes são empresas brasileiras turbinadas por capitais estrangeiros."

Pelas observações dos líderes, é possível presumir que o congresso incluirá entre as suas bandeiras de luta para os próximos anos o ataque às empresas estrangeiras. Será um reforço para o que já vem sendo feito em alguns Estados.

Em março, na região de Ribeiro Preto, interior do São Paulo, um grupo de mulheres ligadas à Via Campesina e ao MST invadiu a usina de açúcar e álcool Cevasa. Protestavam contra a presença da Cargill, gigante norte-americana no setor do agronegócio, que há um ano comprou 63% da empresa – uma das maiores do setor. Os outros 37% ficaram com os produtores de cana que abastecem a usina.

Com a corrida pelo biocombustível e a elevação dos preços da terra, torna-se mais difícil a obtenção de áreas para a reforma agrária. A informação de que o megainvestidor George Soros, húngaro naturalizado americano, prepara-se para investir US$ 900 milhões na montagem de uma usina de etanol, no Mato Grosso do Sul, é vista com preocupação pelo MST.

ENCONTRO

Em 2000, ao final do 4º Congresso do MST, também em Brasília, o então presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu uma comissão de representantes dos sem-terra. Neste ano, os organizadores também querem ser recebidos por Luiz Inácio Lula da Silva, mas até agora não há nada agendado.

Já se sabe que o presidente, aliado histórico do MST, não será poupado no congresso que começa amanhã. Ele é acusado de ter acelerado o modelo agrícola que herdou do governo de Fernando Henrique.

FRASE

João Pedro Stédile
Líder nacional do MST

"Nos preocupa agora como o capital estrangeiro, por meio de associação com empresas brasileiras, está comprando terras no
Brasil. Achávamos que isso era coisa do período colonial, mas a sanha deles é insaciável"