Folha de São Paulo
da sucursal em Brasilia
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) decidiuradicalizar sua relação com o governo federal. A primeira demonstraçãoestá marcada para amanhã, na Esplanada dos Ministérios, quando omovimento ameaça levar 1.500 sem-terra ao desfile do Sete de Setembro.
Ontem, ao saber da idéia dos sem-terra, um emissário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou à coordenação do MST que os camponeses não serão bem-vindos no desfile. Já o MST respondeu que vai resistir e, se preciso, entrará à força na avenida, desfilando como o último bloco da parada cívico-militar.
Para amanhã, a programação dos sem-terra já está fechada. Às 9h, no momento que começar o desfile, eles vão percorrer a Esplanada na pista contrária à do evento oficial. A seguir, farão um protesto em frente ao Itamaraty, antes de tentar se unir aos participantes civis e militares da parada.
A insatisfação dos sem-terra com o Planalto recrudesceu na semana passada, quando, em reuniões no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e no Ministério do Desenvolvimento Agrário, foram informados que, assim como em 2003 e 2004, a meta de assentamentos tende a não ser cumprida.
Entretanto o anúncio de radicalização do MST não se deve apenas às metas. O movimento deve uma resposta às suas bases depois de ter se colocado oficialmente em favor do presidente Lula em recentes manifestações políticas ao lado de UNE e CUT. Os líderes do MST atacaram as "elites" por causa da crise política e pouparam o presidente que, até agora, não cumpriu metas de assentamentos e mantém cerca de 150 mil famílias acampadas à espera de um lote de terra.
Abaixo da meta
Até hoje, segundo a Folha apurou, pouco mais de 40 mil famílias foram efetivamente assentadas neste ano, ou seja, cerca de 35% de uma meta de 115 mil famílias até dezembro. O ministério oficialmente diz que já há terras para assentar 74 mil famílias.
Para agravar o quadro, o MST afirma que, do montante já atendido, apenas 4.000 famílias (10%) são ligadas ao movimento.
"Isso [número de famílias assentadas] é chamar a nossa turma para a briga. Com certeza vamos aquecer as nossas baterias em setembro e outubro. O governo Lula verá a nossa maior jornada de lutas, com todo o tipo de ação", disse João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.
Até agora, neste ano, o governo Lula tem tido uma pausa dos sem-terra. O número de invasões entre janeiro e julho (142) caiu 44% em relação aos sete primeiros meses do ano passado (255). Em todo o mandato petista (até julho de 2005) ocorreram 691 invasões, com média mensal de 22, segundo a Ouvidoria Agrária Nacional.
"Vamos pra cima por causa dessa sacanagem que o governo fez com a gente ao não cumprir os acordos. Não vamos mais sentar para conversar [com o governo] enquanto as coisas não avançarem. Isso [o não-cumprimento das metas de assentamento] vai entrar na biografia do presidente Lula", afirmou Rodrigues.
"Grito" critica gestão econômica do governo Lula DA REDAÇÃO
O Grito dos Excluídos deste ano elegeu a política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva como alvo principal dos protestos. Porém, segundo Eduardo Cardoso, da Central de Movimentos Populares, a organização do evento "não se omitirá diante das denúncias de corrupção" que geraram a crise política.
Na 11ª edição do protesto, sob o slogan "Brasil, em nossas mãos a mudança", os participantes cobrarão do governo federal soluções para a exclusão social e para a concentração de riquezas.
"O foco é exigir mudanças na política econômica porque a nossa avaliação é que os problemas que o povo enfrenta são conseqüentes da manutenção do modelo econômico neoliberal que o governo Lula não teve coragem de mudar", disse João Pedro Stedile, coordenador nacional do MST, na última quinta-feira, quando o evento foi divulgado à imprensa.
Organizado com apoio da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), prevê na programação uma vigília na praça da Sé (centro de São Paulo), entre as 18h e as 22h de hoje. Manifestantes acamparão na praça para, às 7h do Sete de Setembro, participarem de uma missa na catedral. Às 11h de amanhã, está prevista uma concentração em frente ao Museu do Ipiranga.
A programação em Aparecida (167 km de São Paulo) começa no dia 7 às 7h, no porto Itaguaçu.
