AS PRESSÕES POR BAIXO DOS PANOS

23 Abril 2003
AS PRESSÕES POR BAIXO DOS PANOS
Laerte Braga

 

O silêncio do governo brasileiro sobre o acordo militar que cede a base lançamentos em Alcântara, isso levando em conta que Lula e o PT se manifestaram contra o documento durante toda a campanha e mesmo já no governo, tem uma explicação: o governo dos Estados Unidos já mandou dizer ao governo brasileiro que não aceita, essa é a expressão exata, não aceita, qualquer mudança no documento. As pressões no sentido de concretizar o acordo com a aprovação pelo Congresso Nacional e, em seguida, a imediata ocupação da base pelos norte-americanos, são descomunais, tanto quanto as pressões para que o Brasil aceite o acordo que institui a ALCA. Lula tem resistido a apelos e pressões, aí de setores do PT, para revelar ao Brasil e aos brasileiros, a íntegra de todos os acordos assinados por Fernando Henrique ao longo de seus oito anos e as camisas de forças, em cada um deles, fato que, denunciar publicamente, deixaria à mostra toda a canalhice e podridão de um presidente corrupto, sem qualquer escrúpulo e que vendeu o Brasil por trinta dinheiros em Cayman. É um equívoco de Lula, como um equívoco é a política econômica do ministro Antônio Palocci, dentro dessa lógica de não poder ou não ter condições de romper com receituário do FMI e do Banco Mundial. As armadilhas de um bandido que ocupou a presidência da República por um longo período e cometeu toda a sorte de trapaças, fraudes, atos os mais vergonhosos de traição pura e simples, podem aprisionar o governo petista, numa certa medida já estão conseguindo, levando a reboque as esperanças manifestadas pelos brasileiros, nas eleições de outubro do ano passado. A situação é muito mais grave do que se imagina e o que tem sido feito para acuar o governo de Lula, nas questões de Alcântara e ALCA, por si só, justificariam a imediata prisão de FHC e seus principais asseclas. O dilema de Lula é simples: ou assume o governo na integralidade daquilo que de fato representa e pelo que foi eleito, ou corre o risco de sucumbir e permitir, como na Argentina com o risco da volta do bandido Menem, que os bandidos voltem a dominar o Estado brasileiro, completando a obra de transformar o Brasil num mero entreposto do capital estrangeiro. Mais precisamente, norte-americano. Foi por saber disso que a professora Maria da Conceição Tavares disparou contra a política econômica e é por conta disso que a maioria da bancada do PT e dos principais aliados à esquerda, se mostra contrária à reforma da Previdência. Para completar o quadro de desgoverno do governo nessas questões, de indefinição, Lula tentou responsabilizar o Judiciário por falhas na política geral de segurança no País, ameaçado pelo crime organizado, gerando reações que em nada favorecem as perspectivas e esperanças dos brasileiros. Que o Judiciário tem uma caixa preta e essa caixa preta tem que ser aberta, como a do Banco Central, sob controle, durante toda a sua existência, de banqueiros (e banqueiro é sinônimo de corrupção, sem exceção), qualquer um sabe. Mas é preciso que a crítica seja feita não quando o Judiciário garante direitos dos trabalhadores (no caso da contribuição dos inativos), mas quando figuras lamentáveis como Nelson Jobim presidem uma eleição nacional e impõem regras e sistemas de votação que só não se consumaram em fraude pela absoluta impossibilidade, diante da avalancha de votos no candidato das mudanças. O que a economista Maria da Conceição Tavares disse sobre a economia nacional, o ex-governador Leonel Brizola, justiça seja feita, vem falando desde que retornou ao Brasil: o problema do nosso País são as perdas externas . As políticas determinadas pelo FMI e os projetos prontos e acabados do Banco Mundial têm um só objetivo: assegurar o pagamento da dívida externa. Ajuste fiscal é apenas arrocho, como disse Maria da Conceição, sobre quem não tem nada e acreditou, ao votar, que com Lula seria diferente. As pressões sobre o Brasil, que não é uma república de bananas, no caso de Alcântara e na questão da ALCA, transcendem aos limites do governo e têm que ser reveladas a todos os brasileiros. Tem contornos de sobrevivência do Brasil como nação soberana e na integridade do território nacional. Ou Lula faz o que falou que ia fazer, governar num amplo e permanente debate com o povo, ou continua seguindo, no pressuposto que não tem jeito, em direção às armadilhas plantadas pelos oito anos de corrupção tucana. Ao contratar empresas de publicidade para veicular uma campanha para a reforma da Previdência, Lula faz igualzinho a FHC, adota a política da verdade única: ou isso ou o caos. Nesse caso, não há sentido em governo petista. Bastava ter continuado com os tucanos e pefelistas. A responsabilidade de Lula é maior, muito maior, que sua vontade de tentar resolver tudo na conversa e agradando aos donos , para mais à frente tentar uma virada, como dizem. Isso não funciona. É desculpa. E leva a declarações insensatas como as do presidente do PT, José Genoíno, que cobrar contribuição dos inativos é ser de esquerda . Só se mudaram o conceito de Previdência. É preciso perceber que, neste momento, diante dos fatos e das canalhices deixadas pelo tucanato e FHC, é preciso abrir o jogo e mostrar aos brasileiros o que de fato foram os oito anos de uma quadrilha no poder. Sob pena de desmoronar, nunca é demais dizer, todos os projetos de um Brasil grande, justo e independente. As relações do governo brasileiro com a embaixadora dos Estados Unidos, particularmente o ministro Palocci, são indecorosas. E não há nem que ser falar no presidente do Banco Central. Esse é cidadão norte-americano, nascer no Brasil foi só um acaso.